Rebecca Ferguson e Tom Cruise — o espírito original de


joao lopes
13 Ago 2015 1:41

Que tipo de super-herói pode garantir, hoje em dia, um grande espectáculo cinematográfico?… Sem querer menosprezar toda a frondosa herança que podemos encontrar nesse domínio, talvez valha a pena responder da forma mais pragmática. Que é como quem diz: não precisamos de um super-herói!

Precisamos, talvez, de uma personagem forte, dramática e consistente. E precisamos, acima de tudo, de um actor, um verdadeiro actor, para a sustentar. Exemplo? O agente Ethan Hunt interpretado por Tom Cruise — pela quinta vez Cruise assume tal personagem e "Missão Impossível: Nação Secreta" é, muito simplesmente, logo após o primeiro "Missão Impossível" (1996), assinado por Brian De Palma, o melhor da série.
Há no argumento assinado por Christopher McQuarrie (também responsável pela realização) a noção muito clara de que, antes de qualquer execução técnica, importa criar um denso sistema de relações que envolva personagens consistentes, não meros títeres dos chamados efeitos especiais.
E é isso que aqui encontramos: uma intriga de muitos jogos de espelhos em que a emergência de uma entidade maligna (um misterioso "Sindicato" que parece estar a mobilizar agentes que foram dados como mortos) vai a par de um questionamento radical do próprio Ethan Hunt — as máscaras e os simulacros são o seu território de eleição, tanto quanto podem ser um caminho para a sua perdição.
Para além da sábia elaboração de uma teia narrativa de metódicos contrastes (um clímax só funciona se houver algum tempo de quietude, preparação e espera), "Missão Impossível: Nação Secreta" contém algumas cenas de sofisticada execução cénica e espectacular, com inevitável destaque para a perseguição e tentativa de assassinato na ópera de Viena — são cenas que não se esgotam numa mera ostentatação de meios de produção, de facto emanando de uma intriga devidamente articulada.
Num misto de frieza mental e ultra-discreta ironia, Tom Cruise continua a liderar com exemplar eficácia todo este universo que, em qualquer caso, não rejeita a renovação (sem esquecer, claro, que ele acumula, desde o primeiro filme, as funções de vedeta e produtor).
Assim, a par de Ving Rhames, Simon Pegg e Jeremy Renner, que transitam do anterior "Missão Impossível: Operação Fantasma", lançado em 2011 (Rhames é mesmo, a par de Cruise, o único totalista dos cinco episódios), emerge a personagem interpretada pela sueca Rebecca Ferguson, reavivando a nostalgia romântica que faz parte deste universo — ou não fosse este também um dos títulos mais fiéis ao espírito da série televisiva original, produzida durante sete temporadas, de 1966 a 1973.

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