Olivia Wilde e Liam Neeson: um filme entre a terceira pessoa e o impulso autobiográfico


joao lopes
13 Jul 2014 1:40

Numa altura em que a literatura surge todos os dias tratada e promovida como uma mera colecção de "best-sellers" para adolescentes, é bom encontrar um filme centrado na escrita, na sua dimensão humana e na sua capacidade de transfigurar a vida de cada um. A começar pelo respectivo autor: o novo filme de Paul Haggis chama-se "Na Terceira Pessoa" porque nele se joga o vai-vém entre escrever na terceira pessoa ("ele/ela") e estar sempre a fazer uma autobiografia ("eu").

A saga do escritor que se perde, encontra e desencontra nas suas personagens faz lembrar um pouco o já clássico "Magnolia" (1999), de Paul Thomas Anderson — em cada história em que nos enredamos deparamos com uma ponte para outra história… Com uma diferença importante: o escritor que ocupa o centro do filme (interpretado por Liam Neeson) é alguém que reconhece só viver verdadeiramente através dos outros que vai inventando.
Daí o misto de revelação e angústia que percorre o filme. E não apenas porque, a certa altura, detectamos coincidências e discrepâncias entre as várias histórias que se cruzam. Também porque somos levados a perguntar se todas aquelas personagens alguma vez existiram para além da mente do escritor que as criou — no limite, "Na Terceira Pessoa" é um filme sobre a vida vivida como a mais elaborada das ficções.
Estamos, afinal, perante um grande narrador. Haggis, convém não esquecer, é o autor do "oscarizado" "Crash/Colisão" (2004), tendo escrito diversos argumentos para outros cineastas, incluindo "Million Dollar Baby" (2004), para Clint Eastwood. Na sua subtileza emocional, "Na Terceira Pessoa" confirma também a capacidade de Haggis para "forçar" os actores para além de qualquer estereótipo — Olivia Wilde, Adrien Brody e Mila Kunis são alguns dos (outros) nomes de um elenco de exemplar consistência.

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