Tye Sheridan e Nicolas Cage: cenas de um cinema à procura de uma América esquecida


joao lopes
10 Mai 2014 0:38

O menos que se pode dizer dos últimos anos da carreira de Nicolas Cage é que títulos como "O Tesouro" (2004) ou "Ghost Rider" (2007) não fazem justiça à versatilidade e energia do seu talento. Estamos a falar, afinal, do actor que ganhou o Oscar com "Morrer em Las Vegas" (Mike Figgis, 1995) e brilhou em obras tão especiais como "Os Olhos da Serpente" (Brian De Palma, 1998) ou "Por um Fio" (Martin Scorsese, 1999).

Pois bem, o mínimo que se pode dizer de "Joe" é que proporciona a Cage uma composição invulgar. A sua personagem surge, por assim dizer, do lado trágico — ele é um ex-presidiário que comanda um grupo de homens cujo trabalho consiste em envenenar árvores, acelerando a sua decomposição e, desse modo, criando condições para novas plantações…
É um labor sem glamour e, por assim dizer, sem destino que David Gordon Green filma com a crueza metódica de um implacável realismo — ainda há pouco tinha estreado o seu filme anterior, "Prince Avalanche", curiosamente também envolvendo a vida das florestas, embora num registo mais ligeiro e paradoxal.
Trata-se, de facto, de redescobrir uma América profunda, desgastada e esquecida em que já não há lugar para modelos clássicos de heroísmo, muito menos para hipóteses mobilizadoras de redenção. Aliás, a relação que Joe (Cage) estabelece com o desamparado Gary (Tye Sheridan) envolve um simbolismo esclarecedor — numa paisagem de profunda decomposição do espaço familiar, eles representam, afinal, a amarga reconversão das cumplicidades clássicas pai/filho.
Aliás, vale a pena destacar também a subtil composição de Tye Sheridan, em confronto com Cage. Com apenas 17 anos (nasceu a 11 de Novembro de 1996, em Elkhart, Texas), Sheridan possui a enigmática intensidade que, por vezes, falta a alguns actores maduros. Vimo-lo, aliás, crescer em "A Árvore da Vida" (Terrence Malick, 2011) e "Mud" (Jeff Nichols, 2012), dando provas de uma diferença marcante — eis um jovem dotado de um genuíno talento, impossível de encerrar nos estereótipos da adolescência dos "super-heróis".

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