Matthew McConaughey no centro da revolta do


joao lopes
1 Jul 2016 20:05

Ainda há filmes inesperados. Literalmente: filmes que desafiam o nosso saber adquirido, por vezes mal adquirido, sobre o cinema, a história e as mais diversas memórias colectivas. "Estado Livre de Jones" é um desses filmes — um objecto de espírito independente que aborda um singularíssimo episódio da Guerra Civil americana, pouco ou nada considerado nos produtos do género.

Matthew McConaughey interpreta uma figura histórica, Newton Knight, que liderou uma revolta de pequenos proprietários dos estados do Sul. Atingidos pelo próprio exército da Confederação (que se apropriava das respectivas colheitas para abastecer os seus soldados), esses proprietários, aliados a escravos em fuga, acabaram por declarar a independência — nascia o Estado Livre de Jones.
Deparamos, assim, com a abordagem de uma "outra" história. E não apenas porque, como se recorda logo na abertura do filme, se trata de uma narrativa inspirada em factos verídicos. Também porque, desse modo, compreendemos que a problematização de um contexto tão complexo como a Guerra Civil — para mais conduzindo à ilegalização da escravatura — não pode ser reduzido a uma colecção de vinhetas mais ou menos repetidas e repetitivas.
Gary Ross, o realizador de "Estado Livre de Jones", é uma figura muito especial no contexto da actual produção americana. Assim, a sua filmografia passa pelo domínio dos blockbusters (foi ele que dirigiu "The Hunger Games: Os Jogos da Fome", 2012), mas também por projectos tão singulares como "Pleasantville" (1998), retrato amargo e doce de um mundo futurista em que tudo é a preto e branco e as cores proibidas [trailer] — foi, além do mais, uma experiência decisiva no tratamento digital das imagens.

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