joao lopes
6 Mai 2016 14:34

Como recordar Janis Joplin? Acima de tudo, como elaborar um retrato cinematográfico de alguém que a gíria mediática associa ao "assombramento" da morte aos 27 anos (a 4 de Outubro de 1970), escamoteando sempre as singularidades pessoais e artísticas? O filme "Janis: Little Girl Blue" responde a tais interrogações através de uma opção pouco vulgar — esta é uma evocação na primeira pessoa, elaborada através de uma subtil colagem de palavras da própria Janis, em particular de cartas escritas a familiares e amigos.

A leitura de tais palavras, em off, é feita por Cat Power, num registo que está longe de ser banalmente descritivo, ao mesmo tempo evitando qualquer simbolismo redundante. Trata-se, acima de tudo, de expor as coincidências e também os contrastes entre uma Janis de culto, envolvida nos rituais da música, e uma Janis menos óbvia, marcada pelas emoções da sua vida privada.



Produzido por Alex Gibney (que dirigiu, por exemplo, "A Mentira de Armstrong", sobre o ciclista Lance Armstrong), o filme realizado por Amy Berg situa-se, assim, numa zona documental em que os elementos tradicionalmente considerados mais objectivos se enredam com uma dramaturgia que quase faz lembrar um filme de ficção.

É bom podermos registar o aparecimento de um objecto deste teor no espaço específico do mercado cinematográfico. Dito de outro modo: ao longo da última década, o (re)conhecimento do documentário como um género corrente desse mesmo mercado veio ajudar a superar o "domínio" informativo das televisões — à sua maneira, "Janis: Little Girl Blue" é também um proposta de enriquecimento do trabalho jornalístico.

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