Jacob Tremblay e Brie Larson: uma história de amor que começa num espaço fechado


joao lopes
10 Fev 2016 20:37

Quem vai ganhar o Oscar de melhor actriz?… Depois de vermos "Quarto", de Lenny Abrahamson, é difícil não considerar que Brie Larson, no papel de uma jovem mãe que vive enclausurada com o seu filho de cinco anos, se apresenta como uma vencedora antecipada — sem menosprezo pelas outras nomeadas (a começar pela prodigiosa Cate Blanchett, em "Carol"), mas Larson impõe-se como um ícone da infinita complexidade das emoções humanas.

Digamos que a transposição do romance de Emma Donoghue (entre nós editado pela Porto Editora, como "O Quarto de Jack") era tudo menos óbvia. A existência claustrofóbica a que Jack e a sua mãe são sujeitos é uma situação tão extrema que importaria evitar qualquer facilidade "simbólica". Daí que o argumento, assinado pela própria Donoghue, preserve o essencial — esta é a história de uma relação amorosa mãe/filho em que se joga, afinal, a própria sobrevivência dos protagonistas.
O trabalho de mise en scène de Abrahamson (autor de "Frank", com Michael Fassbender) afigura-se tanto mais extraordinário quanto ele sabe que o respeito pela complexidade da situação implica, antes de tudo o mais, uma rigorosa fidelidade ao processo de descoberta do olhar de Jack, interpretado pelo brilhante Jacob Tremblay: ele é, afinal, o motor formal de "Quarto", transformando o filme num relatório minucioso e comovente da evolução do seu entendimento do mundo — do quarto que existia sem mais nada lá fora, até à revelação exuberante do exterior, dos outros seres, da plularidade do humano.
"Quarto" está nomeado para quatro Oscars: melhor filme, melhor realizador, melhor actriz e melhor argumento adaptado. Provavelmente, não conseguirá mais do que uma vitória para Larson. Mas esse é, afinal, um pormenor — o que importa reter é a intensidade radical de um objecto capaz de devolver ao cinema a verdade visceral da experiência humana, suas angústias, dores e alegrias. Raras vezes somos convocados para tanta emoção, encenada com tamanho pudor.

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