Marion Cotillard no cenário de Ellis Island — memórias da chegada à América em 1921


joao lopes
25 Jul 2014 0:48

As imagens dos emigrantes a chegarem a Ellis Island, no porto de Nova Iorque, fazem parte da história, da iconografia e da mitologia da nação americana — e, como é óbvio, também do seu cinema (exemplo remoto: "O Emigrante", de Charlie Chaplin, é de 1917). Com o seu filme mais recente, "A Emigrante", James Gray aposta em revisitar memórias que começam nesse lugar, seguindo a trajectória dramática de Ewa, uma polaca que chega a Ellis Island, em 1921, acompanhada pela irmã.

O filme tem tanto de sedutor como de formalista. De facto, Gray arrisca abordar uma temática que, afinal, quase desapareceu da produção americana — recorde-se que a chegada dos emigrantes define o pano de fundo da trilogia de "O Padrinho" (1972/1974/1990) —, procurando expor a odisseia de Ewa para além de clichés morais ou dramáticos. Ao mesmo tempo, há nele uma complacência decorativa que vai transformando "A Emigrante" numa parábola abstracta (?) que tende a secundarizar as singularidades dos destinos individuais.
Reencontramos, assim, uma limitação do trabalho de Gray que se sentia também, por exemplo, em "Nós Controlamos a Noite" (2007) ou "Duplo Amor" (2008). Dir-se-ia que as tensões entre as suas personagens — quase sempre triângulos amorosos assombrados pelas mais diversas formas de violência — lhe servem menos para expor as relações humanas, e mais para fazer passar uma demonstração mais ou menos previsível do "niilismo" com que ele observa tais relações.
Há, evidentemente, em "A Emigrante", algumas brilhantes contribuições de representação, com inevitável destaque para Marion Cotillard, a par de Joaquin Phoenix e Jeremy Renner (interpretando os dois homens com que Ewa se envolve). Seja como for, este parece ser um filme à procura da sua própria identidade narrativa e também, afinal, do seu lugar comercial. "A Emigrante" está mesmo a estrear em muitos países, incluindo Portugal, mais de um ano depois da sua apresentação em Cannes. Nos EUA, estranhamente, o distribuidor, The Weinstein Company, nem sequer construiu um site para o filme…

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