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joao lopes
23 Ago 2014 2:27

Símbolo universal da energia primitiva do realismo britânico, autor de títulos marcantes dos anos 60/70 — como "Poor Cow" (1967), "Kes" (1969) e "Vida em Família" (1971) —, Ken Loach tem vindo a alternar as obras sobre personagens contemporâneas com evocações de períodos mais ou menos distantes da história política do seu país. Foi, aliás, com um desses filmes, "Brisa de Mudança" (2006), sobre a Irlanda no começo do séc. XX, que arrebatou a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

"O Salão de Jimmy" nasce de mais um recuo temporal, desta vez levando Loach às lutas políticas na Irlanda em meados da década de 1930. A personagem central é o líder comunista irlandês James Gralton (1886-1945) e, em particular, a sua actividade no "salão" a que se refere o título, um espaço dedicado ao convívio e à dança que funciona como símbolo da afirmação de uma nova geração e também de abertura às ideias revolucionárias da época.
O filme nasce do continuado empenho de Loach em cruzar os destinos individuais com as grandes tensões político-económicas, nessa medida reflectindo as preocupações sociais que sempre orientaram o seu cinema. Ao mesmo tempo, há nele um "decorativismo" algo rotineiro que tende a simplificar os comportamentos, ameaçando reduzir as personagens a "marionetas" ideológicas de um telefilme mais ou menos académico.
A subtil direcção de actores e intensidade física de alguns momentos, tudo isso está lá. Ao mesmo tempo, é quase inevitável sentir que Loach confere outra vibração às situações quando não tem que lidar com as chamadas reconstituições históricas — como se, em última análise, o seu cinema dependesse sempre de uma componente documental que, precisamente, distingue os filmes que trabalham sobre o seu/nosso próprio presente.

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