As condições comerciais do filme

23 Abr 2014 22:40

O exibidor e produtor Paulo Branco anunciou hoje que vai apresentar uma queixa na Autoridade da Concorrência (AdC) contra "as práticas comerciais" do distribuidor de cinema Big Picture.

Numa conferência de imprensa realizada hoje, em Lisboa, Paulo Branco alertou para uma "discriminação muito clara e muito precisa" da Big Picture contra a empresa de exibição que dirige, a Medeia Filmes.

A distribuidora detém os catálogos de duas grandes empresas norte-americanas: a 20th Century Fox e a Sony Pictures, esta última desde que a distribuidora Columbia Tristar Warner encerrou escritórios em Portugal, no final de março.

Segundo Paulo Branco, a Big Picture "exige aos exibidores independentes condições inadmissíveis e insuportáveis e que são contra as regras do mercado", pela distribuição de filmes daqueles catálogos.

E deu como exemplo o filme "Grand Budapest Hotel", de Wes Anderson, distribuido pela Big Picture e que Branco tem em exibição nas suas salas Monumental e Fonte Nova, em Lisboa.

A Big Picture pediu à Medeia Filmes um pagamento antecipado de 4.500 euros pelas primeiras semanas de exibição do filme e esta semana voltou a pedir um segundo pagamento pela mesma produção, dada a recetividade por parte do público.

Segundo Paulo Branco, a prática habitual com os distribuidores é pagar-se entre 30 a 45 dias dias depois da exibição de um filme, tendo em conta os valores obtidos na bilheteira.

"A percentagem inicial que as ‘majors’ como a 20th Century Fox impõem é muito forte. Pedem 60 por cento da bilheteira na primeira semana, 55 por cento na segunda e assim sucessivamente", explicou.

Paulo Branco considera que aquela exigência comercial da Big Picture "é fora do normal e inadmissível", prejudica o setor da exibição – obrigará à interrupção de exibição do filme de Wes Anderson nas salas da Medeia Filmes – e representa "um abuso de poder".

O exibidor pôs ainda em causa a relação entre a Big Picture e a Zon Audiovisuais, uma vez que esta empresa detém 20 por cento do capital social daquela distribuidora.

A Zon Lusomundo é líder no mercado nacional tanto na exibição como na distribuição. Segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual, em 2013, teve 39,9 milhões de euros de receita bruta de bilheteira e 7,7 milhões de espetadores.

Quanto à Big Picture, foi o terceiro maior distribuidor de cinema, em 2013, com uma receita bruta de 8,45 milhões de euros, depois da Columbia Tristar Warner na segunda posição, que somou uma receita bruta, nesse ano, próxima dos 11 milhões de euros.

Apesar da quebra de espetadores e das condições de desequilíbrio que diz existirem no mercado, Paulo Branco sublinhou que não pretende fechar mais salas de cinema (depois de ter encerrado o cinema King), porque defende a diversidade de oferta.

Lamentou ainda que o Instituto do Cinema e Audiovisual, "reguladores do setor", nada tenha feito para corrigir as assimetrias no setor.

Em declarações à Lusa, José Antunes João, administrador da Big Picture, diz que as condições de pagamento pedidas aos exibidores "dependem das condições específicas de crédito de cada cliente" e acrescenta que "o crédito de cada cliente depende obviamente da avaliação de risco do mesmo", excusando-se a comentar diretamente as afirmações proferidas hoje por Paulo Branco.

  • Agência Lusa
  • 23 Abr 2014 22:40

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