James McAvoy e Jessica Chastain — uma arte tecida de gestos, olhares e silêncios


joao lopes
28 Nov 2014 22:13

De que falamos quando falamos de romantismo? Enfim, falamos, por certo, de romantismos, no plural, já que a palavra adquire intensidades diversas conforme a época em que a inscrevemos ou o domínio em que a pensamos.

Digamos, então, para simplificar, que há um impulso romântico que o cinema nunca perdeu — é algo que tem a ver com a complexidade das relações amorosas, nessa medida exaltando a possibilidade de dois seres transcenderem os seus próprios limites.

"O Desaparecimento de Eleanor Rigby", de Ned Benson, é um objecto precioso construído a partir de uma crença nuclear. A saber: o romantismo continua a ser possível! Nada a ver, como será fácil perceber, com as patetices brejeiras com que o amor é encenado em telenovelas e seus derivados… O que aqui se joga implica os domínios mais secretos, porventura mais insondáveis, da sensibilidade de cada indivíduo.
E, como sempre, o romantismo cinematográfico passa de forma decisiva pelo labor específico dos actores. Nos papéis centrais de "O Desaparecimento de Eleanor Rigby", James McAvoy e Jessica Chastain são um prodígio de delicadeza e subtileza — Chastain, em particular, confirma-se como uma das mais notáveis actrizes contemporâneas (vê-la-emos, em breve, sob a direcção de Liv Ullmann, em "Miss Julie").
Sendo a história do par uma saga afectiva assombrada por um acontecimento traumático, Ned Benson acabou por desenvolver o projecto numa insólita divisão em partes. Assim, de facto, este filme que agora se estreia intitula-se "O Desaparecimento de Eleanor Rigby – Eles", havendo mais dois, "Ela" e "Ele", cada um deles percorrendo a mesma história a partir da visão de cada um dos elementos do par (as duas versões "individuais" chegarão ao mercado português no mês de Janeiro).
De que falamos, então? Em última instância, de uma vibração do viver que se tece através de uma consciência radical da proximidade da morte. "O Desaparecimento de Eleanor Rigby" será, assim, o mais cruel dos filmes, mas também o mais empenhado em não banalizar a centelha de vida que perpassa em cada gesto, em cada olhar, em cada silêncio. 

+ críticas