Objeto celeste não identificado mata homem na Índia

por Nuno Patrício - RTP
Imagem captada do meteorito que caiu na Rúissia em 2013 Youtube/DR

Um homem morreu na Índia atingido por estilhaços, aparentemente originários da queda de um meteorito. A comprovar-se esta teoria este será o primeiro ser humano a morrer devido ao impacto de uma rocha espacial.

“Meteorito mata condutor de autocarro na Índia”. Esta frase encaixa bem numa manchete de uma revista ou de um jornal ligados a notícias do fantástico e a conspirações paranormais, mas o certo é que não é de todo impossível e existe fortes probabilidades de isso ter mesmo acontecido.

No passado dia 6 de fevereiro, no Estado indiano de Tamil Nadu, foi dado a conhecer às autoridades um acontecimento pouco comum.

O condutor de um autocarro, Kamraj, morreu, tendo outras pessoas ficado feridas, quando aparentemente algo caiu do céu e matou o motorista, na pequena cidade indiana de Vellore.

Alunos de um campus universitário, que assistiram ao evento, relatam uma súbita explosão, que deu lugar a uma cratera.


O objeto provocou a cratera que se pode verificar na imagem - Foto: The Hindu Journal/DR

Descrevem que, na sequência do impacto, os vidros das janelas de vários edifícios se estilhaçaram, voando em todas direções e atingindo várias pessoas nas proximidades, incluindo o condutor Kamraj.


Registo dos estragos provocados pelo impacto do objeto - Foto: The Hindu Journal/DR

No início, pensou-se que a explosão teria sido provocada por uma detonação acidental num estaleiro de obras mas, após investigar o caso, a autoridade policial local revelou não ter encontrado qualquer indício de explosivos.

O relatório policial refere que "algo caiu do céu" e que a hipótese da queda de um meteorito tem que ser levada a sério. Foi encontrado um fragmento que está a ser analisado e que poderá conter respostas.

A confirmar-se este caso, o infortunado motorista Kamraj entrará para a história como o primeiro caso registado de morte de um ser humano devido a um objeto celeste.

Não é a primeira vez que os meteoritos que caem na Terra geram grande impacto e até mesmo eventos de extinção em massa.

Exemplo dessa realidade é a teoria que explica a extinção do dinossauros durante o período Cretáceo, atribuída nos últimos anos à queda de um meteorito de grandes dimensões.Material está a ser analisado
Os meteoritos têm sido estudados cientificamente há mais de 200 anos, existindo mesmo uma sociedade internacional que regista a entrada de todos os meteoritos, supervisiona a sua nomeação e locais onde foram encontrados (ou vistos a cair).

Em 50 mil casos registados de queda de meteoritos, existem apenas algumas informações relativas a animais de grande porte (vacas), encontrados mortos com marcas de perfuração. Nenhum refere como consequência a morte de um ser humano.

Até agora.

Monica Grady, Professora na UCLA, no Department of Earth, Planetary, and Space Sciences, em Los Angeles, Estados Unidos, está a seguir este fenómeno com particular atenção e diz que esta um pouco surpresa porque que não existem relatos de uma bola de fogo, ou até mesmo uma luz brilhante.
 
"A entrada na atmosfera de algo a viajar rapidamente e tendo provocado tanto barulho, deveria ter sido visível, devido ao aquecimento friccional" na atmosfera, refere a investigadora.

Mas, se a explosão não era um meteorito, o que poderia ter sido?

Tem surgido alguma especulação sobre o caso. Por exemplo, se o fragmento encontrado não seria "lixo espacial" – um pedaço de um satélite desativado ou falha de um lançamento de foguetão – que reentrou e caiu na terra.

Certamente há relatos de tais eventos. Pode até nem se tratar de destroços de satélites mas algo ainda mais prosaico.

Em fevereiro de 2010 pedaços da fuselagem de um avião da TAAG (Transportadora Aérea Angolana) que tinha acabado de descolar de Lisboa, caíram sobre alguns veículos em Almada.

"O material que caiu na India foi recuperado e agora o fragmento está a ser analisado", diz a investigadora, logo logo saberemos se o material é natural ou artificial.


Material recolhido do fundo da cratera - Foto: Tamil Nadu/DR

Outros resultados mais definitivos também podem vir das amostras do solo recolhidas da cratera.
Meteoritos e lixo caem todos os dias
Em 2014, a Estação Espacial Internacional (ISS) teve de mudar de lugar três vezes para escapar de pedaços de lixo espacial, letal, que diariamente cruzam a orbita de centenas de veículos e satélites.

Lixo que, com o tempo, acaba por ser capturado pela gravidade terrestre, sendo pulverizado e incinerado na reentrada da atmosfera.


Mas não é de excluir que pedaços maiores ecapem à desintegração e venham a cair e a provocar alguns estragos.

Por exemplo em 12 de julho de 1979, a primeira estação espacial orbital norte americana, Skylab, reentrou na atmosfera terrestre depois do fim de vida útil da estação.

Uma reentrada seguida mediaticamente devido ao facto de não se saber muito bem onde o bloco metálico, do tamanho de um autocarro, iria cair. O embate acabou por ocorrer no Oceano Pacífico e também numa zona não habitada da Austrália.

 


Neste momento, a Rede de Vigilância Espacial dos Estado Unidos acompanha dezenas de milhares de objetos maiores que uma bola de tênis que voam sobre nós.

Suspeita-se que existam mais de outros 100 milhões de detritos com tamanho superior a um milímetro, estes sem risco para os habitantes terrestres.



Já no que diz respeito aos objetos celestes, ditos asteróides e meteoros (que quando entram na atmosfera terrestre se designam de meteoritos), o centro de vigilância espacial NEO (Near-Earth Object Program), monitoriza 244 objetos próximos à Terra, com dimensões consideradas de risco.

E a cada milhão de anos pode ocorrer um choque de um asteróide relativamente grande.

Em estimativa, cada um de nós tem cerca de uma hipótese em 40.000 de morrer em resultado de uma colisão com um asteroide.

Sabe-se que diariamente caem aleatoriamente, dos céus, e por toda a superfície da terra dezenas, senão centenas de pedaços de rochas espaciais.

Os meteoritos caem, a uma taxa de cerca de 40 mil toneladas a cada ano (110 Kg/dia).

Reconhecidamente, a maioria deste material cai como partículas de poeira, inferior a 100 micrómetros, mas todos os anos, cerca de 5 mil objetos do tamanho de uma bola de futebol acabam por ter contacto com a superfície terrestre.

Como dois terços do nosso planeta é composto por oceanos a probabilidade de um destes objetos cair numa zona habitada é remota.



Muito embora casos como o agora registado na India ou na Rússia em 2013, em Chelyabinsk, possam ocorrer, como comprova este vídeo.
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