Associação lança livro para dar a conhecer às crianças a tradição oral algarvia

por Lusa

Albufeira, Faro, 25 ago (Lusa) - A Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade vai lançar um livro destinado às crianças, entre os seis e os dez anos, com lengalengas, trava-línguas e provérbios recolhidos no Algarve, para que a tradição oral não seja "abafada".

O livro intitula-se "Palavras com que brinco e aprendo" e deverá ser lançado "ainda em setembro", com a perspetiva de dar a conhecer às crianças o património da tradição oral presente nesta região, disse à agência Lusa o presidente da Associação de Pesquisa e Estudo da Oralidade, José Ruivinho Brazão.

A obra surge depois de um primeiro volume, destinado a crianças dos dois aos seis anos, contando com lengalengas, trava-línguas, adivinhas, quadras e provérbios recolhidos principalmente nos "micro-campos de Boliqueime [concelho de Loulé] e de Paderne [concelho de Albufeira]", explanou o antigo professor de português.

O objetivo, enfatiza Ruivinho Brazão, é "ressalvar aquilo que ainda vive no coração e na mente dos mais idosos e que tem a ver" com a "identidade mais profunda" dos algarvios.

Com a edição do livro, a associação não quer "colocar as pessoas no passado, mas que sintam que é preciso recriar o passado e não o abafar ou esconder", sublinhou à Lusa.

"Os miúdos são capazes de criar algo a partir de uma lengalenga", afirmou, referindo que o livro, com várias sugestões pedagógicas, também tem por objetivo incentivar as crianças a levarem para a escola outros testemunhos da oralidade, a partir "dos seus avós".

No livro, são identificados os "informantes" de cada lengalenga ou adivinha, num trabalho que começou em 1994 e que continua "até agora".

Se o primeiro volume foi distribuído às crianças dos jardins de infância de Loulé, Ruivinho Brazão tem a expectativa de conseguir agora a distribuição do segundo volume, em parceria com a autarquia, aos alunos do 1.º ano do ensino básico.

Depois do lançamento do primeiro volume em 2015, e agora do livro dedicado às crianças dos seis aos dez anos, a associação ainda pretende lançar um terceiro para alunos dos dez aos doze anos.

Ruivinho Brazão começou a fazer as suas recolhas em Paderne, de porta em porta, com a ajuda de locais, depois de "ouvir quadras, romances, trava-línguas e lengalengas que não sonhava encontrar".

"Foi um espanto para todos. Nem a própria população tinha noção do património que ali existia", contou à Lusa.

A associação, sediada em Albufeira, tem vindo a publicar vários trabalhos em torno da tradição oral do Algarve, desde livros de poetas populares à edição em `cd` do grupo de cantares As Moças Nagragadas.

Não tem número as pessoas com quem já falou, nem os quilómetros feitos ou as horas gravadas, realça, estimando ter milhares de registos nas duas décadas de trabalho em torno da tradição oral do Algarve.

"Tenho a perceção de que, se eu não fizer este trabalho, ele não será feito", salientou o antigo professor de 82 anos, que garante que não vai parar, porque "as árvores morrem de pé".

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