Campos Matos amplia "Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz" e seus arredores

por Lusa

Lisboa, 23 jul (Lusa) -- A segunda edição do "Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz e seis arredores", revista e aumentada, de autoria de A. Campos Matos, revela a geografia literária dos romances do autor d`"Os Maias".

"A importância desta geografia literária resulta eminentemente de uma arte narrativa levada ao extremo apuro, o que torna muito insinuantes percursos pedonais que hoje podemos fazer na Lisboa queirosiana que esta obra elucidará", escreve o investigador, no prólogo.

Surge assim, entre outras, a indicação, por parte de Campos Matos, do solar dos Maias na rua 1.º de Maio, frente à Carris, a Santo Amaro, o Casino Lisbonense, no atual largo Rafael Bordalo Pinheiro, a rua do Carvalho, no Bairro Alto - atualmente, rua Luz Soriano -, onde se localiza a residência do poeta romântico Tomás de Alencar, personagem d`"Os Maias".

Campos Matos, estudioso da obra de Eça de Queiroz, acompanha algumas das descrições dos lugares com fotos, algumas de época. Podemos assim observar a fachada do café Áurea Peninsular, na rua do Ouro, atualmente nos n.ºs 183-185, que está relacionado com o médico Julião Zuzarte, do romance "O primo Basílio", "personagem irreverente, ressabiada com tudo e todos, azedo e hostil, por se sentir falhado", escreve Campos Matos. Há outros cafés citados, designadamente o Martinho, no atual largo D. João da Câmara, junto à Estação do Rossio, e o Montanha, na rua dos Sapateiros.

O cemitério dos Prazeres, construído em 1833, é outras das referências, cenário escolhido para Maria Eduarda, d`"Os Maias", para visitar a campa do avô, mas também onde Vítor visita a sepultura de Genoveva, em "A Tragédia da rua das Flores".

Além desta rua, entre o Cais do Sodré e a praça Camões, são várias as artérias da capital referenciadas pelo investigador, assim como largos, à semelhança do de Barão de Quintela, arcos, referindo o demolido arco de S. Bento (reconstruído entretanto na praça de Espanha), praças, muito especialmente a do Rossio, a primeira que o escritor conheceu quando regressou dos estudos em Coimbra, onde viviam os seus pais, em particular o 4.º piso do edifício onde hoje está instalado o Café Nicola.

O "Roteiro da Lisboa de Eça de Queiroz e seus arredores", publicado pela Parceria A.M. Pereira, inclui ainda, entre outros, o cemitério do Alto de S. João, o Circo Price, demolido com o prolongamento da avenida da Liberdade, que foi rasgada passando por cima do antigo Passeio Público, que Eça refere em várias obras, a calçada do Combro, a então rua de s. Francisco, atual rua Ivens, o Jardim da Estrela e o jardim das Amoreiras.

Além da capital, A. Campos Matos refere também a geografia dos arredores, nomeadamente a "Porcalhota" (atual Amadora), Cascais, Sintra, com destaque para o paço real e o Hotel Lawrence, e Colares.

Cascais justifica-se "como lugar biográfico de muita significativa expressão"; Colares, muito representativo de "O primo Basílio"; Sintra, onde decorreram episódios d`"Os Maias" e d`"A tragédia da rua das Flores"; a Porcalhota também é citada n`"Os Maias", onde Carlos da Maia e o maestro Cruges comem um coelho guisado, durante um passeio de "break".

O Roteiro faz ainda uma referência ao Círculo Eça de Queiroz, em frente ao ex-Casino Lisbonense, fundado em 1940, por António Ferro, diretor do Secretariado de Propaganda Nacional.

Campos Matos inclui cinco mapas: um do passeio de Luísa com o conselheiro Acácio, personagens d`"O primo Basílio"; outro de um percurso do largo do Calhariz aos Restauradores, passando pelo Chiado; um outro percurso do Cais do Sodré ao Rossio, passando pelo Terreiro do Paço; uma planta geral da cidade oitocentista, com a sinalização de todos os locais referenciados; e ainda dos locais referenciados na vila de Sintra, nos arredores da capital.

Arquiteto e urbanista por formação académica, Campos Matos tem estudado sistematicamente a obra do autor d`"A cidade e as serras", desde 1976, quando publicou o livro "Imagens do Portugal Queiroziano", cuja terceira edição saiu em 2004.

Entre outras obras, publicou, em 1995, as cartas inéditas entre José Maria d`Eça de Queiroz e sua mulher, Emília de Castro Pamplona, filha dos condes de Resende.

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