Cinquenta bustos expostos em Pedrógão Grande preservam valores da República

por Lusa

Pedrógão Grande, Leiria, 28 set (Lusa) -- Os 50 bustos da República expostos no museu de Troviscais, em Pedrógão Grande, são uma coleção única em Portugal que ajuda a preservar os valores republicanos e a memória da revolução de 1910.

Pela sua dimensão e pelas cores variadas e garridas, a coleção "acaba por ser a mais vistosa e imponente" do Museu da República e da Maçonaria, disse hoje à agência Lusa Aires Henriques, criador e proprietário deste empreendimento cultural, no distrito de Leiria.

"Eles só por si fazem a festa", afirmou o investigador, frisando que o busto originário da iconografia da Revolução Francesa passou a ser, há 105 anos, "um dos grandes símbolos" da República Portuguesa, a par da bandeira e do hino nacional.

Em 2010, entre diversos objetos e documentos, o museu emprestou algumas destas esculturas à Presidência da República, no âmbito das comemorações do centenário da implantação da República, e tem colaborado também com autarquias, escolas e outras instituições empenhadas na divulgação dos valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, do republicanismo e do seu desenvolvimento.

A figura de Luís de Camões, poeta glorificado pelos republicanos portugueses nos anos de decadência da Monarquia Constitucional, em finais do século XIX, está presente num dos bustos através de um dos mais célebres versos de "Os Lusíadas": "Esta é a ditosa Pátria minha amada".

A estrela polar de cinco pontas, um dos símbolos da Maçonaria, venerada em várias civilizações antigas e guia de correntes esotéricas e filosóficas, surge também numa das belas figuras de que Aires Henriques tanto se orgulha.

Inspirada em Marianne, a esbelta "mulher de armas" (que, em França, representava a mãe pátria dos revolucionários da Tomada da Bastilha, em 1789), a República tem recriações diversas, de época e autores diferentes, na coleção que pode ser apreciada nos Troviscais.

Sobre o peito nu de uma delas, está pousada uma joaninha. "Nesta, aparentemente feita por um oleiro, está uma joaninha encarnada que voará para ir dar a notícia da liberdade. É a República da boa nova", interpretou Aires Henriques.

"Tem um ar muito alegre e desenvolto, o sorriso largo de uma mulher pronta a servir Pátria, e foi feita por um discípulo do escultor Teixeira Lopes, em 1907", disse.

Nos momentos que antecederam a proclamação da República, no dia 05 de outubro de 1910, morreram o médico Miguel Bombarda, assassinado por um dos seus doentes, e o almirante Cândido dos Reis, que se suicidou quando lhe parecia que a revolta republicana iria fracassar.

Enquanto estiveram em câmara ardente, na Câmara de Lisboa, os corpos destes republicanos tiveram por companhia a República criada, em 1908, pelo escultor Simões de Almeida (Sobrinho) e adotada depois como efígie do escudo, a moeda cunhada pelo novo regime.

"Mas cada artista -- e mesmo autores populares -- concebia a República a seu jeito, com diversidade de elementos esculturais", segundo Aires Henriques.

O busto "é uma das maneiras mais expressivas" de evocar o triunfo da República e os heróis da Rotunda, em 1910, sublinhou.

Aires Henriques defende a reposição do 5 de Outubro como feriado nacional. "O objetivo patriótico está associado" à possibilidade de os portugueses das cidades conhecerem o interior de Portugal, realçou.

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