Estreia moderna das Vésperas de João Lourenço Rebelo sexta-feira em Lisboa

por Lusa

Lisboa, 30 nov (Lusa) -- A Capella Joanina e o ensemble Flores de Mvsica, sob a direção de João Janeiro, fazem a estreia moderna das Vésperas, de João Lourenço Rebelo (1610-1661), na próxima sexta-feira, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.

"As Vésperas de Nossa Senhora são um excelente modelo da melhor música de João Lourenço Rebelo e até da melhor música que se fazia em Portugal", disse à Lusa o regente e investigador João Paulo Janeiro, tendo adiantado que estas peças, que voltam a ser ouvidas mais de 350 após a primeira audição, serão também gravadas em CD.

Da obra do compositor natural de Caminha, "apresenta-se aqui um conjunto de salmos e antífonas que reconstituem o ciclo de Vésperas da Beata Virgem Maria, onde avulta a versão para 16 vozes e contínuo [acompanhamento] do salmo `Lauda Jerusalem`", disse o músico.

Para o musicólogo, Lourenço Rebelo "é talvez o maior compositor de música religiosa do século XVII, em Portugal, e quiçá o mais extravagante".

"Num período conturbado em termos políticos, Rebelo desenvolve uma escrita fraturante e singular, alicerçada na excecional tradição polifónica portuguesa, alinhada com a vanguarda musical do Barroco inicial italiano", afirmou à Lusa.

Segundo Janeiro, nas suas composições, Lourenço Rebelo "regala-nos com um extravagante estilo composicional, semelhante aos de Gabrielli e de Monteverdi, caso único na música portuguesa da época, dominada pelo modelo de Tomás Luis de Victoria".

Tendo o compositor seiscentista tomado contacto, "mesmo sem sair de Portugal, com técnicas e estilos de composição que floresciam noutros países, valoriza o contributo de grandes coros - à maneira veneziana -, e retira ao órgão a exclusividade do acompanhamento musical, inserindo neste a presença de instrumentos de sopro", como são exemplares as Vésperas que se vão escutar no CCB.

"A qualidade da escrita de Rebelo revela-se na competência e exuberância do contraponto, na engenhosa conceção formal e na audácia como trata as dissonâncias, resultando em progressões tonais deveras inusitadas, que fazem deste compositor, um dos génios musicais europeus", explicou o músico, em declarações à Lusa.

João Lourenço Rebelo, com 14 anos, entrou como menino de coro ao serviço da capela ducal de Teodósio II, duque de Bragança, no Paço de Vila Viçosa, no Alto Alentejo, onde funcionava o Colégio dos Santos Reis Magos e se formavam compositores que, "por terem de apresentar os seus trabalhos perante um público nobre mais exigente do que os frequentadores das igrejas, produziam obras tecnicamente mais elaboradas, nomeadamente no campo vocal, já que a capela do palácio ducal dispunha de 24 cantores, enquanto nas igrejas não se escutavam mais do que quatro vozes".

Em 1630, Rebelo foi nomeado professor de música de D. João, filho de Teodósio, que em 1640 se tornou rei de Portugal.

Lourenço Rebelo continuou como músico e compositor, tornando-se mestre da capela ducal de Vila Viçosa e, após a Restauração, a 1 de dezembro de 1640, foi transferido para a capela real, onde "continuou a promover o interesse do rei pela música, e o seu talento como compositor".

"A paixão [de D. João IV] pela música tornou-o um grande colecionador de manuscritos, de impressões e de partituras, tendo reunido a maior biblioteca de música do seu tempo, a qual seria totalmente perdida, um século mais tarde, nos escombros do terramoto de Lisboa", contou Janeiro.

Rebelo escreveu essencialmente música sacra, compôs vilancicos, hinos, salmos, um Te Deum e missas, uma das quais para 39 vozes, em homenagem ao 39.º aniversário de D. João IV.

A Capella Joania é constituída pelos sopranos Francesco Divito (sopranista natural) e Esperanza Rama, as contraltos Antonella Marotta, Kiriko Matsumura e Fabiola Martinez, o contratenor Antonello Dorigo, os tenores Bruno Martins e Bruno Nogueira, e o barítono Marco Paganelli.

O ensemble Flores de Mvsica é formado por Filipa Oliveira e Jorge Ferreira (flautas de bisel), Tiago Freire e Manoel Pascual (cornetas), Hugues Kesteman (baixão e dulçaina), Alejandro Marías, Filipa Meneses, Jasmina Capitanio e Esperanza Rama (violas da gamba), Marta Vicente (violone), Roberto Caravella (tiorba) e Maria Clearly (harpa).

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