Filho de Pablo Escobar desmonta a série "Narcos"

por RTP
Marcos Brindicci - Reuters

A série da Netflix que retrata a vida de Pablo Escobar tem, desde o início em 2015, arrecadado um crescente número de audiências por todo o mundo. Sebastián Marroquín, filho do narcotraficante colombiano, tem assistido a todas as temporadas e revelou ser um crítico de peso. Em recentes declarações, apontou diversas falhas àquela que é uma das séries melhor classificadas no IMDb.

A segunda temporada da série, lançada no início de setembro pela Netflix, foi acusada por Marroquín de conter vários erros. “Para começar, eu não era uma criança”, afirma. “Tinha 16 anos quando o meu pai morreu”. Conta que tinha plena consciência da situação em que o pai estava envolvido e que quando viam televisão em família Pablo Escobar chegava a dizer “aquela bomba fui eu que coloquei”. E discutiam o assunto.

Marroquín afirma, ainda, que a forma como o pai é retratado em Narcos está longe de representar a real impiedade que o caracterizava. “O meu pai era muito mais cruel do que aquilo que é refletido na série. Submeteu um país ao terror” e provocou “milhares de vítimas”. Acredita que a série transmite a ideia de que “ser narcotraficante é cool” e confessa que jovens de todo o mundo lhe escrevem “a pedir ajuda porque querem ser narcos”.

A brutalidade dos assassinatos provocados por Pablo Escobar foi já descrita num livro do filho, publicado em 2014. Marroquín prepara agora outra obra onde planeia contar os detalhes do final da vida do pai, pretendendo assim esclarecer aquilo que acredita estar mal representado na segunda temporada da série.
"Estávamos muito sozinhos"
Após ter visto todos os episódios, o filho do narcotraficante recorreu à sua página do Facebook para partilhar uma lista de 28 pontos onde critica todas as imprecisões dos argumentistas, acusando-os de quererem vender uma história que não representa a realidade. Afirma ter-se oferecido para colaborar com a Netflix, mas esta recusou.

“Durante a fuga não vivíamos em mansões com piscina, como mostra a série”, conta Marroquín. ”E não estávamos rodeados de bandidos. Estávamos muito sozinhos, todos nos atraiçoaram”. Até a mãe de Pablo Escobar, retratada na série como uma avó carinhosa, denunciou o filho ao cartel de Cali de modo a poupar a própria vida.

Porém, no início de cada episódio da série da Netflix, uma mensagem adverte para o facto de os eventos e personagens retratos serem propositadamente dramatizados.

Em entrevista ao Público em 2015, Sebastián Marroquín – que antes se chamava Juan Pablo Escobar, tendo mudado de nome após deixar a Colômbia -, revelou informações íntimas sobre a relação com o pai. Confessou que Pablo Escobar “sempre foi muito frontal a contar as coisas” e que nunca lhe mentiu nem tentou “parecer ser alguém que não era”.
“Valores humanos”
Marroquín contou ainda que, quando as autoridades ofereceram uma recompensa a quem entregasse o seu pai, Escobar ofereceu uma recompensa de milhares de dólares a quem matasse polícias. No entanto, revela que a sua crueldade contrastava com um lado humanitário que o levou a construir “uma escola, cinco mil habitações, um hospital e um centro de saúde” para os cidadãos pobres do país. Com a família demonstrava ser um homem preocupado e um pai capaz de incutir aos seus filhos “valores humanos”.

Após a sua morte, os cartéis de droga da Colômbia forçaram a família de Escobar a entregar a totalidade do dinheiro que possuía, afirmando que “se escondessem uma moeda seriam mortos”, conta Marroquín.

Com as revelações feitas, não pretende salvar a imagem do pai - algo que considera impossível -, mas sim esclarecer os mal-entendidos que acusa a Netflix de provocar.
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