Investigador do Porto aborda fenómeno das "mesas pé de galo" em livro

por Lusa

Porto, 20 set (Lusa) -- O livro "História Prodigiosa de Portugal. Magias & Mistérios", da autoria do investigador Joaquim Fernandes, revela o aparecimento do fenómeno das "mesas pé de galo", "vaga espírita" e "magnetismo animal" em Portugal.

A obra, cujo segundo volume é lançado na quinta-feira, 24 de setembro, aborda o "maravilhoso e sobrenatural" na história de Portugal, nomeadamente nos séculos XIX e XX, aspetos "singulares e pouco tratados nas narrativas historiográficas" por serem considerados "culturalmente menores", disse hoje à Lusa o autor.

Joaquim Fernandes afirmou que a "alma portuguesa" é muito atraída pelo sensível, sobrenatural, misterioso, mágico e, sobretudo, pelo maravilhoso cristão.

"Sendo nós um povo cristão estamos muito ligados a factos relacionados com o maravilhoso cristão, milagres, intervenções sobrenaturais, dependência dos deuses e das deusas, estando mesmo a história de Portugal profundamente marcada pela relação entre o céu e a terra", referiu.

O professor universitário realçou que um dos dez capítulos do livro aborda a divulgação do uso terapêutico do "magnetismo animal", na década de 1840, iniciada na Universidade de Coimbra.

O interesse pelo "magnetismo animal", área que vai anteceder as técnicas do hipnotismo, surgiu em Coimbra, onde se realizaram inúmeras experiencias, mas rapidamente o interesse por esta "técnica" se espalhou pelo país, salientou.

A importação do fenómeno das "mesas pé de galo ou mesas girantes" em Portugal, outra das temáticas, introduziram as práticas espíritas como uma "ponte para um outro mundo" tentando com que, através dos movimentos das mesas, se estabelecesse contacto com as almas e falecidos.

Segundo Joaquim Fernandes, estas "mesas" foram introduzida em Portugal a partir de 1853, altura em que entraram simultaneamente na Europa, graças à divulgação nos meios de comunicação social.

"Esta prática espírita entusiasmou e divertiu as burguesias mais esclarecidas de Lisboa e Porto, virando moda nas academias e cafés literários", adiantou.

Com as "mesas pé de galo" surgiu uma "vaga espírita" em 1900, com epicentro no Porto, com a realização pela sociedade das "célebres `séances´", frisou o investigador.

O "espiritismo", fator de enorme atração na sociedade, espalhou-se por todo o país.

"Esta área do espiritismo foi cultivada pelos setores da ciência, sobretudo britânicos, que se dedicavam em testar em laboratório a existência de vias de comunicação com um outro mundo ou almas de outro mundo", disse.

Na opinião do investigador, este tipo de superstições e crenças não são apenas "apanágio" de povos latinos, muito marcados pelo catolicismo, mas estes aderem com mais facilidade e menos racionalismo.

Joaquim Fernandes realçou que estas "práticas espíritas" perduram até aos dias de hoje, dado Portugal ser um país mentalmente organizado em torno de mitos, crenças e lendas, mas com variantes.

O livro será lançado a 24 de setembro, no Porto, e conta com prefácio do psiquiatra Mário Simões.

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