Morreu Dario Fo, Prémio Nobel da Literatura em 1997

por Lusa
Anders Wiklund - Reuters

O escritor italiano Dario Fo, Prémio Nobel da Literatura em 1997, morreu esta quinta-feira aos 90 anos.

Dario Fo, que morreu precisamente no dia em que está prevista a atribuição do Prémio Nobel da Literatura de 2016, estava internado num hospital de Milão há alguns dias devido a problemas respiratórios, avançaram os media italianos, citados pela agência espanhola Efe.

Escritor mas também ator, Dário Fo ganhou notoriedade internacional em 1969 com "O Mistério Bufo", uma epopeia dos oprimidos inspirada na cultura medieval.

Autor de "A Morte Acidental de um Anarquista", "A Marijuana da Mamã é a Melhor", "Casal Livre" ou "Não Devemos Pagar", Dario Fo foi um batalhador e instigador de uma rebelião contra os poderosos e os hipócritas.

O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi lamentou a morte de Dario Fo e destacou a "herança de um grande italiano do mundo", apontando "a obra satírica, a pesquisa, o trabalho cénico e a atividade artística multifacetada".

Sátira e ativismo político

O dramaturgo e ator italiano nasceu a 24 de março de 1926 no pequeno município de Santiago, província de Varese (norte) e, apesar de ter estudado pintura e arquitetura, foi sobretudo conhecido pela faceta de dramaturgo, que lhe valeu o Nobel da Literatura em 1997.

Durante a carreira, esteve acompanhado pela mulher, a atriz Franca Rame, que morreu em 2013, e com a qual formou um binómio intelectual consagrado essencialmente a um teatro político e satírico através do qual narraram os problemas da sociedade do seu tempo.

Ao longo da carreira publicou mais de 100 obras teatrais, que ele próprio interpretava, e numerosos livros.

O mais recente, publicado em setembro, incide na figura do investigador Charles Darwin: "Somos macacos por parte do pai ou da mãe?". Continha questões sobre a origem da vida e estava ilustrado com os seus desenhos.

Também no livro que publicou pouco antes de completar 90 anos, "Dario e Deus", no qual dialoga com a jornalista Giuseppina Manin, o Nobel se interroga sobre a religião e a espiritualidade, sob um ponto de vista irónico e satírico, características que sempre definiram as suas obras.

Em 1969, estreou uma das suas obras teatrais mais aplaudidas e influentes, "Mistério Bufo", em que aborda algumas passagens bíblicas ao estilo dos trovadores medievais.

Em 1970, apresentou outra das suas obras primas, "Morte Acidental de um Anarquista", em que recorda a estranha morte do combatente Giuseppe Pinelli, que em 1969 se atirou da varanda da sede da Polícia de Milão, onde estava detido.

O seu ativismo político foi especialmente relevante nos convulsos Anos de Chumbo, entre os anos 70 e 80, quando criou a organização "Socorro Vermelho Militante" para proporcionar assistência legal aos presos políticos da esquerda.

Na década de 90 estreou "O Papa e a Bruxa", obra em que representa um pontífice autor de uma encíclica inverosímil, na qual defendia a liberalização da droga, o controlo da natalidade e o regresso da Igreja à pobreza.

Os dardos de Fo vão em todas as direções, desde a defesa da desobediência civil em "Aqui Não Paga Nada" à história alternativa do descobrimento espanhol da América em "Isabel, Três Caravelas e Um Castelo".

Nos anos dos governos de Silvio Berlusconi os sues espetáculos e monólogos estavam destinados a ridicularizar o governante com o seu habitual sarcasmo.

Destacou-se também pela pintura, sobretudo na última etapa, com os seus "falso Picasso", ou de novo causando polémica pelo retrato que fez da atual ministra para as Reformas, Maria Elena Boschi, e que foi leiloado para financiar o Movimento Cinco Estrelas (M5S) de Beppe Grillo, que o dramaturgo apoiava fortemente.
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