"Nós Trabalhadores" no Teatro da Trindade

por João Fernando Ramos, Rui Sá

"Nós, Trabalhadores" é um espetáculo de teatro musical numa viagem que tem Adriano Correia de Oliveira aos Deolinda, passando por GNR e Rui Veloso.
Inês de Medeiros, Vice- Presidente da Fundação INATEL, que faz a gestão do Teatro da Trindade, fala numa peça que relata uma viagem de um século pelo mundo do trabalho retratando a evolução das condições laborais.

A peça é um percurso de 100 anos pelo mundo do trabalho, e da a evolução das condições laborais, muito centrado no olhar sobre a situação da mulher.

Começa com uma entrevista de trabalho de uma mulher de 50 anos, que pretende mudar a sua vida. Depois, um acidente numa fábrica clandestina leva-nos numa viagem no tempo até ao dia 25 de Março de 1911, quando no grande incêndio na fábrica Triangle Shir Waist morrem 124 mulheres, muitas delas jovens emigrantes.

Este trágico acontecimento deu origem ao Dia Internacional da Mulher (inicialmente o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora) que se celebra a 8 de Março.

"Nós os Trabalhadores" tem também um olhar de pormenor sobre a legislação laboral que cria a Previdência Social e as várias instituições corporativas em Portugal e o sistema institucionalizado da caridade.

No período da II Guerra Mundial, o guião da peça centra-se num piquete de greve na Covilhã onde novamente a atenção se centra na situação da mulher, o trabalho nas fábricas e em casa, o salário menor, os abusos e assédio laboral.

A partir desta realidade segue-se a vida de Ana e João. O casal sonha com o casamento mas ele parte para a Guerra Colonial, onde é morto. Ana não tem outra possibilidade que não seja a emigração.

Através de discursos de Salazar e de deputados, faz-se a revisitação da ideia de família propagandeada pelo Estado Novo. Todo o discurso oficial é contraditado pelos factos com o testemunho de mulheres que foram presas e torturadas pela PIDE.

A Revolução de 74 é libertação, um momento de clima de alegria e esperança, mas também do repensar coletivo de toda a sociedade.

A época dos saneamentos revolucionários, a luta das Comissões de Trabalhadores, a relação ambígua entre patrões e empregados, são alguns dos temas do período que antecede o "Portugal da CEE".

A peça musical que estreia esta sexta-feira no centenário Teatro da Trindade debruça-se ainda sobre a atualidade com questões como a formação profissional, o desemprego, a mecanização e robotização laboral, os despedimentos coletivos, a pressão laboral sobre os objetivos e a precariedade laboral.

Pela sua estreita ligação com o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e Segurança Social, a Fundação INATEL quis associar-se às comemorações dos 100 anos do Ministério, com um espetáculo que dá inicio às comemorações dos 150 anos do Teatro da Trindade e assinala o regresso à produção própria da instituição.
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