Óbidos, Leiria, 22 abr (Lusa) -- O primeiro ano da classificação de Óbidos como vila literária da UNESCO vai ser marcado pela abertura de novas livrarias, em espaços tão diferenciados como uma paragem de autocarros ou os antigos armazém da EPAC.
"A maior livraria alfarrabista da vila vai ser criada nos antigos armazéns da EPAC [antiga Empresa Pública de Abastecimento de Cereais, no exterior das muralhas], onde irão ser instalados cerca de cem mil livros", disse à agência Lusa José Pinho, da Livraria Ler Devagar, parceiro da autarquia no projeto Óbidos Vila Literária.
O projeto "Vila Literária", que está a ser desenvolvido desde 2011, resultou já na criação de uma dezena de livrarias em "lugares improváveis", entre os quais uma igreja, um mercado biológico, uma antiga adega e uma escola primária desativada.
"Já temos muitas livrarias com livros novos e, por isso, todas as novas que irão surgir [com exceção de uma dedicada a Banda Desenhada, ficção científica e novas tecnologias, prevista para o Parque Tecnológico] serão alfarrabistas e mais viradas para o livro raro", explicou.
A livraria da EPAC irá chamar-se "Labirinto" e, segundo Celeste Afonso, vereadora da Cultura na autarquia, "será uma espécie de central de catalogação de todas as obras que existem na vila, mas também espaço de venda, de espetáculos e de artistas a trabalhar ao vivo".
A esta se juntarão, ainda este ano, "uma livraria numa paragem de autocarro" e um novo espaço dedicado "a um alfarrabista de Lisboa, com o qual estamos a fechar as negociações".
Este último núcleo alfarrabista juntar-se-á a três "delegações de alfarrabistas de Lisboa (Letra Livre), Coimbra (Miguel Carvalho) e Porto (da rua das Flores) que, segundo José Pinho, já se encontram na Vila Literária.
A aposta em livrarias alfarrabistas alinha este ano com o enfoque das comemorações do Dia Mundial do Livro, celebrado no sábado, e que este ano conta com a parceria da ILAB -- International League of Antiquary Booksellers (associação mundial dos alfarrabistas), que desafia os livreiros a comemorar a data com a realização de iniciativas em torno do livro raro.
Integrada em dezembro de 2015 na rede de cidades criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), a vila de Óbidos foi este ano convidada a participar nas comemorações do Dia Mundial do Livro, em Barcelona (Espanha), cidade considerada o berço da data, uma vez que começou a celebrar o livro a 07 de outubro de 1926, dia de nascimento de Miguel Cervantes, autor de "D. Quixote".
Mais tarde a data foi alterada para 23 de abril, por coincidir com a morte de Miguel de Cervantes (22 de abril de 1616) e de William Shakespeare (23 de abril do mesmo ano), ficando também ligada à lenda de S. Jorge [padroeiro de Barcelona], segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha e recebem, em troca, um livro.
Em 1995 a UNESCO instituiu o Dia Mundial do Livro, celebrado pela primeira vez no ano seguinte.
Este ano a data assinala os 400 anos da morte de Miguel de Cervantes e William Shakespeare.
