Porto é pretexto para ciclo de cinema português na Cinemateca Real da Bélgica

por Lusa

Bruxelas, 27 fev (Lusa) -- A Cinemateca Real da Bélgica (Cinematek) vai exibir quase 30 obras do cinema português, com o Porto e o 1.º aniversário da morte de Manoel de Oliveira como panos de fundo, a partir da próxima sexta-feira e até 29 de maio.

Em Bruxelas, vai decorrer o ciclo intitulado "O ato da Primavera: Porto e a Modernidade", com organização de Celine Bouwez, da Cinematek, que contou à agência Lusa que a ideia surgiu depois de ter assistido ao filme "Mudar de Vida", de Paulo Rocha, no festival Gent Courtisane.

"Fiquei muito emocionada com o trabalho do Paulo Rocha e percebi que, na Cinematek, ainda não tínhamos feito uma retrospetiva. Alguns meses depois, descobri o `Visita ou Memórias e confissões` [de Manoel de Oliveira] e estou entusiasmada por o apresentar", comentou.

A autora do ciclo assumiu que o "Porto serviu como uma espécie de pretexto, mas não apenas para Oliveira", já que em Bruxelas também vão ser exibidas obras de Paulo Rocha e do casal António Reis e Margarida Cordeiro.

"As minhas investigações sobre Rocha levaram-me ao Porto e à forte ligação que o cineasta tem com a cidade, já na sua juventude. Oliveira tem a mesma ligação e o [filme] `Visita` foi um bonito poema autobiográfico no Porto", acrescentou.

A responsável acrescentou que os "mais belos filmes" do casal de documentaristas António Reis e Margarida Cordeiro foram realizados no Norte de Portugal.

"No geral, fui muito tocada pela personalidade de Rocha e as suas palavras sobre o Porto e pela modernidade de Oliveira. Posso dizer que o programa foi muito inspirado, pelo ponto de vista de Paulo Rocha", resumiu.

Questionada sobre o conhecimento na Bélgica do cinema português, Celine Bouwez indicou serem "bem conhecidos", quer Manoel de Oliveira, como João César Monteiro, enquanto há um "público numeroso", para Pedro Costa e Miguel Gomes.

À Cinematek já chegaram "comentários muito positivos" do público, até porque serão exibidos filmes de Paulo Rocha, propriedade da Cinemateca Portuguesa, que nunca foram projetados na Bélgica.

"O público que conhece um pouco do trabalho de Rocha está satisfeito por poder descobrir" alguns filmes, acrescentou a programadora, que já ouviu falar de interesse neste ciclo, por parte de Londres e de Espanha.

Os filmes de António Reis e Margarida Cordeiro foram mostrados em Courtisane, há alguns anos, e o "público foi muito entusiasta e ficou esperançado que acontecessem mais exibições".

"Assim, estou feliz em repetir os filmes em Bruxelas, neste contexto, sobre a relação dos cineastas com o Norte de Portugal", disse a responsável, sublinhando a satisfação por ser mostrado o documentário "Trás-os-Montes", numa versão restaurada pela Cinemateca Portuguesa.

Sobre Oliveira, Celine Bouwez disse que o ciclo é uma homenagem aos filmes que realizou no Porto e no Norte de Portugal, e não uma retrospetiva.

"Claro que esperamos que a comunidade portuguesa em Bruxelas também esteja presente", desejou a responsável, informando que o diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa, vai apresentar as obras de Oliveira "Acto da Primavera" e "Visita ou Memorias e Confissões", o filme concluído na década de 1980, mas apenas exibido publicamente após a morte do realizador, por sua vontade.

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