O editor Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, que chancela "O fim do homem soviético", de Svetlana Aleksievitch, quer publicar outras obras da autora, distinguida hoje com o Prémio Nobel da Literatura.
"Já hoje entrámos em contacto com a agente dela, e irei em breve partir para a Feira do Livro de Frankfurt, onde conto fechar contrato para publicar mais dois ou três títulos", disse à Lusa Manuel Alberto Valente.
O editor afirmou que desconhecia a autora, e a aposta que fez na publicação de "O fim do homem soviético" foi pelo facto de ter sido apontado em 2013, em França, como o Melhor Livro Estrangeiro daquele ano, e a maneira "entusiasmante" como a ele se referiu a imprensa francesa.
"Fiquei absolutamente convencido de que estávamos diante de uma obra que tinha de ser publicada em Portugal", disse.
A leitura, posteriormente, em português, "veio a confirmar a importância da publicação da obra".
Traduzida diretamente do russo por António Pescada, foi publicada este ano pela Porto Editora, com o título "O fim do homem soviético".
Referindo-se a esta obra, Manuel Alberto Valente realçou que "há nela sobretudo uma análise sobre o perfil do homem russo".
"Todos nos convencemos que, com a queda do império soviético, haveria da parte do povo um sentimento satisfação pela conquista da liberdade, pelo fim de um regime ditatorial, e o que ela reflete neste livro, através de centenas de testemunhos, é que não foi isso que aconteceu".
"Houve, antes, um grande desencanto no povo russo, e uma espécie de saudade dos tempos gloriosos em que a Rússia era de facto um grande império universal, e isso explica -- como ela mostra perfeitamente -, o recrudescimento, entre os jovens, de um grande culto de Estaline, e de uma grande ambição de que a Rússia pudesse voltar a ser o espaço geográfico determinante no mundo", disse.
Para o editor, esta observação "explica muito o que está hoje a acontecer com [Vladimir] Putin".
Svetlana Aleksievitch é a primeira jornalista mulher a ser distinguida com o Nobel da Literatura e receberá o galardão, no valor de 860.000 euros, a 10 de dezembro, em Estocolmo.
Nascida sob bandeira soviética, em Ivano-Frankovsk, na Ucrânia, Svetlana Aleksievitch é filha de um militar bielorrusso e mãe ucraniana. Entre 1967 e 1972, a autora estudou jornalismo na Universidade de Minsk.
Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas e alguns foram já adaptados para cinema e teatro.
Em 2013 foi distinguida com o Prémio Médicis Ensaio pela obra "O fim do homem soviético", que encerra uma série de cinco volumes intitulada "Vozes da utopia", na qual aborda a ex-União Soviética e a sua queda, numa perspetiva individual.