A caminhada heróica rumo ao título começou aos trambolhões, ao pé coxinho, com um empate surpreendente perante a Islândia, estreante nas andanças em campeonatos europeus.
Em Saint Étienne, no Estádio Geoffroy-Guichard, a equipa das quinas marcou primeiro por intermédio de Nani, mas na segunda parte, aos 50 minutos, surgiu o balde de água fria com Bjarnason a fazer o empate.
No segundo encontro do Euro2016, Portugal defrontou a Áustria no Parque dos Príncipes, em Paris, num encontro sem golos.
A seleção nacional rematou mais de 20 vezes à baliza austríaca, mas não havia maneira de a bola entrar. Até o capitão Cristiano Ronaldo falhou uma grande penalidade. O poste tinha que estar no caminho da bola.
Os dois empates frente a Islândia e Áustria complicaram as contas.
No último jogo da fase de grupos, diante da Hungria, Portugal voltava a pegar na calculadora com a obrigação de vencer para seguir para os oitavos de final. Contas que Fernando Santos não precisou de fazer, tal era a fé que o selecionador tinha nos 23 jogadores.
O timoneiro das quinas deixou um aviso à sua família e a todos os portugueses: "Já disse à minha família: só vou dia 11 para Portugal".
No Stade des Lumières, ou Estádio das Luzes, em Lyon, Portugal ia jogar a qualificação para os oitavos, frente à Hungria.
Num encontro impróprio para cardíacos, de loucos, a seleção correu sempre atrás do resultado. Chegou a estar com um pé fora do Europeu. Mas o empate, 3-3, com bis de Ronaldo e um de Nani garantiu o apuramento.
Portugal empatou 3-3 com a Hungria, mas, no outro jogo do grupo, que opôs Islândia e Áustria), um golo já nos descontos dos islandeses atirou a seleção nacional do segundo para o terceiro lugar e, em vez de defrontar a Inglaterra nos oitavos de final, mediu forças com a Croácia.
Passada a fase de grupos, com dificuldade e a inevitável calculadora, Portugal entrou no "mata-mata" e na prova de fogo. Defrontou a Croácia no Estádio Bollaert-Delelis, em Lens, num desafio muito tático, no qual a equipa das quinas jogou mais na defensiva explorando o contra-golpe. E foi numa dessas situações de jogo que Portugal chegou ao golo.
Renato Sanches recuperou a bola no meio-campo, galgou metros de terreno, endossou a Nani, que fez um passe magistral para Ronaldo rematar para grande defesa de Subasic. A bola sobrou para Quaresma que, de cabeça, "encostou" para o fundo das "malhas" da baliza croata.
Foi dia de Quaresma. O Harry-Potter português carimbava a passagem aos quartos do Euro2016, e a primeira vitória portuguesa na competição.
Passado o difícil teste da Croácia, Portugal iria medir forças com a Polónia, no Estádio Vélodrome, em Marselha.
A seleção nacional não podia ter começado da pior forma. Logo aos dois minutos Robert Lewandowski abria o ativo. Renato Sanches, aos 33 minutos, repunha a igualdade, que perdurou até ao final do prolongamento. O jogo tinha de ser resolvido na marcação de grandes penalidades.
E aí surgiu "São Patrício".
O relato da defesa na Antena 1
Quaresma tinha nos pés a passagem às meias-finais. O mágico não tremeu.
O relato da grande penalidade na Antena 1
Nas grandes penalidades, houve frieza e acerto português. Ronaldo, Renato, Moutinho e Nani marcaram antes de Rui Patrício defender o pontapé de Kuba. A fechar, Quaresma levava às costas a esperança de um país. Não tremeu.
Nas meias-finais, frente ao País de Gales, no Estádio do Lyon, os lusos ganharam pela primeira vez em 90 minutos. Um jogo com dois golos decisivos, um de Cristiano Ronaldo e outro de Nani, no arranque da segunda parte. Portugal garantia o passaporte para a final de Paris. E o sonho nunca havia estado tão perto.
A caminho de Paris, este tour em França tinha uma última etapa: a final contra a equipa da casa.
Portugal jogava contra as estatísticas. O saldo era francamente desfavorável às cores verde e rubra: dezoito derrotas, um empate e apenas cinco vitórias; o último triunfo de Portugal datava de abril de 75.
A história da final de Paris conta-se com sangue, suor e muitas lágrimas. Portugal venceu o jogo com um golo de Éder, apontado já na segunda parte do prolongamento.
A partida ficou marcada pela lesão de Cristiano Ronaldo, substituído antes da meia-hora de jogo.
Nos últimos instantes da final do Campeonato da Europa, Cristiano Ronaldo, lesionado, não se cansou de gritar para o terreno de jogo. Fernando Santos ia pedindo calma. Mas o astro português não podia já conter a emoção.
No cair do pano sobre esta memorável prova, Portugal entraria para a história do futebol internacional. Um momento intensamente vivido pelos jornalistas da Antena 1 Nuno Matos e Alexandre Afonso.
A festa no relvado é portuguesa. Cristiano Ronaldo chora, os jogadores abraçam-se, Fernando Santos é lançado ao ar, muita festa, muita alegria. Somos campeões europeus no Stade de France, frente à seleção anfitriã.
Com a taça de campeão da Europa arrebatada, Cristiano Ronaldo dirigiu-se no balneário a jogadores, treinadores e corpo técnico da Federação Portuguesa de Futebol com uma mensagem emocionante.
Em Portugal, a festa foi à grande e à... portuguesa. Não faltaram as celebrações em muitas praças, cantos e recantos do país pela noite fora.
E a festa portuguesa fez-se também pelos quatro cantos do mundo.
À chegada a Portugal, jogadores e corpo técnico foram primeiro recebidos em Belém. Milhares de adeptos cantaram "A Portuguesa" juntamente com a seleção e as entidades oficiais.
Portugal sucedeu à Espanha no trono de campeão da Europa em futebol. Um feito de proporções históricas que a redação da RTP escolheu como Acontecimento Nacional de 2016.
Gonçalo Ventura, Miguel Teixeira - RTP
Fotografias: Darren Staples, Kai Pfaffenbach - Reuters