Associação de Lesados diz que a venda do banco ao Santander "foi um circo"

por Lusa

Funchal, Madeira, 30 jun (Lusa) - O presidente da Associação de Lesados do Banif (ALBOA), Jacinto Silva, afirmou hoje, na Assembleia Legislativa da Madeira, que a venda do banco ao Santander, em 2015, "foi um circo", sendo que "os palhaços foram os obrigacionistas subordinados".

Jacinto Silva falava na Comissão de Inquérito ao Banif do parlamento regional, onde vincou que aquele foi um negócio "fraudulento", lembrando que a associação já pôs em andamento ações judiciais contra Banco de Portugal, a antiga administração do Banif e o Santander Totta.

A ALBOA também avançou em tribunal contra o canal de televisão TVI, responsável pela divulgação da primeira notícia sobre o caso, que disse ter provocado uma corrida aos balcões e ao levantamento repentino de 1,1 milhões de euros.

"A resolução do Banco de Portugal sobre o Banif foi um circo e os palhaços foram os obrigacionistas subordinados", afirmou Jacinto Silva, lembrando que em causa estão 3.500 ex-clientes nestas condições e 263 milhões de euros.

A associação também representa 4.000 obrigacionistas Rentipar (`holding` através da qual as filhas do fundador do Banif, Horácio Roque, detinham a sua participação no banco), que investiram 65 milhões de euros, bem como 40 mil acionistas, dos quais cerca de 25 mil são oriundos da Madeira.

A ALBOA conta com 1.300 associados e foi criada há seis meses na sequência de manifestações espontâneas dos lesados, levadas a cabo sobretudo nas regiões autónomas da Madeira e Açores, onde o banco detinha uma significativa quota de mercado.

"A maioria perdeu a totalidade das suas poupanças e hoje vive com grandes dificuldades financeiras", afirmou Jacinto Silva aos deputados, sublinhando que há pessoas que recebem apoio social do Governo Regional para sobreviver.

O responsável disse, por outro lado, que o banco usava, nos últimos tempos, "técnicas agressivas de vendas de produtos", tendo até concedido empréstimos para a compra de ações, baseando a atuação na "confiança" que existia entre os gestores de conta e os clientes.

Regra geral, estes foram convencidos a substituir os depósitos a prazo por obrigações subordinadas e outras aplicações, tendo investido na maioria valores entre 50 mil e 100 mil euros, que depois não foram assumidos pelo Santander Totta, quando comprou o Banif por 150 milhões de euros.

Jacinto Silva sublinhou que o grau de confiança era tanto, que muitas das subscrições nem eram feitas ao balcão das agências, mas de modo informal em casa das pessoas, que em média tinham 65 anos e possuíam um nível de escolaridade mínimo.

O presidente da ALBOA foi a primeira entidade a ser ouvida na Comissão de Inquérito ao Banif da Assembleia Legislativa da Madeira, liderada pelo social-democrata Carlos Rodrigues e composta por deputados do PSD, CDS-PP, PS, JPP e BE.

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