O crédito de risco em Portugal já representa quase 17 por cento da riqueza gerada por ano. Segundo os dados recolhidos pela RTP, o total de crédito em risco no conjunto do sistema financeiro português ultrapassa os 30 mil milhões de euros.
No caso específico da Caixa Geral de Depósitos, os créditos de risco ultrapassam os 8,2 mil milhões de euros, que correspondem a 11,5 por cento da totalidade do crédito concedido. O Novo Banco junta mais 8,5 mil milhões ao bolo, que representam 23 por cento do crédito concedido pelo banco de transição.
No caso do BCP, o valor ascende a 5,6 mil milhões de euros, o equivalente a 13,5 por cento do total. O Santander Totta e o BPI acumulam cerca de mil milhões de euros de créditos de risco, pouco mais de quatro por cento dos empréstimos concedidos pelos dois bancos.
A questão do crédito de risco, e do crédito malparado, foi colocada este domingo na agenda da política nacional pelo primeiro-ministro. António Costa, em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, propôs criar um “veículo de resolução” para recolher o crédito malparado dos maiores bancos do país.
Esta variante de “banco mau” libertaria os balanços dos bancos, sendo que a nova entidade teria mais liberdade e mais tempo para vender o imobiliário, ou recuperar os empréstimos, junto do mercado. O objetivo do Governo passa por dotar os bancos de mais disponibilidade para dar crédito às famílias e às empresas.
“Acho que era útil ao país encontrar um veículo de resolução do crédito malparado, de forma a libertar o sistema financeiro de um mono que dificulta uma participação mais ativa nas necessidades de financiamento das empresas portuguesas”, declarou o primeiro-ministro.
Costa não explicou, no entanto, a fórmula de gestão do veículo financeiro nem os eventuais custos para o Estado.
"Prova de confiança" ou "limpeza" com dinheiro público?
A sugestão do primeiro-ministro recolheu apoiantes e detratores. O Presidente da República defendeu que o veículo agregador do crédito malparado "é uma prova de confiança" e "uma ajuda adicional para fortalecer um sistema financeiro" como o português.
A Associação Portuguesa de Bancos já tinha proposto em 2011, então ao governo liderado por Pedro Passos Coelho, o lançamento de um veículo de resolução do crédito malparado. A APB sublinha que, face às dificuldades do setor, ainda vê “naturalmente com agrado que se reflita e se discutam soluções que contribuam para acelerar a recuperação ou a venda dos créditos em mora, promovendo o fortalecimento do sistema bancário europeu".
Por sua vez o secretário-geral do PCP manifestou o desejo de que este veículo "não seja mais uma vez” o dinheiro dos contribuintes a fazer “a limpeza” dos bancos,
Já a líder do Bloco de Esquerda e parceira do Governo, Catarina Martins, tem dúvidas sobre a solução. "Essa é uma solução eventualmente possível, mas eu lembro que foi utilizada em Espanha com dano para a economia espanhola e para o erário público", nota Catarina Martins.
Do lado da oposição, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, criticou a "leveza" com que o primeiro-ministro abordou o assunto, deixando, segundo Cristas, "mais perguntas que respostas".
Em Espanha foi criada uma sociedade composta por privados e por fundos públicos que gere e tenta vender os créditos maus dos bancos. O Governo espanhol garante ter conseguido reduzir os ativos "tóxicos" imobiliários em 15,3%.
Já em Itália, o esquema aprovado pela Comissão Europeia em fevereiro prevê a criação de um veículo de securitização, com uma gestão própria, que comprará o crédito malparado aos bancos, para depois reagrupá-lo noutros tipos de produtos financeiros, para serem por fim vendidos.