Crédito de risco ultrapassa os 30 mil milhões de euros em Portugal

por RTP
Peter Kollanyi, EPA

O crédito de risco em Portugal já representa quase 17 por cento da riqueza gerada por ano. Segundo os dados recolhidos pela RTP, o total de crédito em risco no conjunto do sistema financeiro português ultrapassa os 30 mil milhões de euros.

O valor corresponde a cerca de 12 por cento do total de empréstimos concedidos pelos bancos às empresas e às famílias em Portugal. O crédito em risco está centrado sobretudo em três bancos: a Caixa Geral de Depósitos, o Novo Banco, ambos na esfera pública, e o BCP.



No caso específico da Caixa Geral de Depósitos, os créditos de risco ultrapassam os 8,2 mil milhões de euros, que correspondem a 11,5 por cento da totalidade do crédito concedido. O Novo Banco junta mais 8,5 mil milhões ao bolo, que representam 23 por cento do crédito concedido pelo banco de transição.

No caso do BCP, o valor ascende a 5,6 mil milhões de euros, o equivalente a 13,5 por cento do total. O Santander Totta e o BPI acumulam cerca de mil milhões de euros de créditos de risco, pouco mais de quatro por cento dos empréstimos concedidos pelos dois bancos.

A questão do crédito de risco, e do crédito malparado, foi colocada este domingo na agenda da política nacional pelo primeiro-ministro. António Costa, em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, propôs criar um “veículo de resolução” para recolher o crédito malparado dos maiores bancos do país.



Esta variante de “banco mau” libertaria os balanços dos bancos, sendo que a nova entidade teria mais liberdade e mais tempo para vender o imobiliário, ou recuperar os empréstimos, junto do mercado. O objetivo do Governo passa por dotar os bancos de mais disponibilidade para dar crédito às famílias e às empresas.

“Acho que era útil ao país encontrar um veículo de resolução do crédito malparado, de forma a libertar o sistema financeiro de um mono que dificulta uma participação mais ativa nas necessidades de financiamento das empresas portuguesas”, declarou o primeiro-ministro.

Costa não explicou, no entanto, a fórmula de gestão do veículo financeiro nem os eventuais custos para o Estado.
"Prova de confiança" ou "limpeza" com dinheiro público?
A sugestão do primeiro-ministro recolheu apoiantes e detratores. O Presidente da República defendeu que o veículo agregador do crédito malparado "é uma prova de confiança" e "uma ajuda adicional para fortalecer um sistema financeiro" como o português.

A Associação Portuguesa de Bancos já tinha proposto em 2011, então ao governo liderado por Pedro Passos Coelho, o lançamento de um veículo de resolução do crédito malparado. A APB sublinha que, face às dificuldades do setor, ainda vê “naturalmente com agrado que se reflita e se discutam soluções que contribuam para acelerar a recuperação ou a venda dos créditos em mora, promovendo o fortalecimento do sistema bancário europeu".

Por sua vez o secretário-geral do PCP manifestou o desejo de que este veículo "não seja mais uma vez” o dinheiro dos contribuintes a fazer “a limpeza” dos bancos,

Já a líder do Bloco de Esquerda e parceira do Governo, Catarina Martins, tem dúvidas sobre a solução. "Essa é uma solução eventualmente possível, mas eu lembro que foi utilizada em Espanha com dano para a economia espanhola e para o erário público", nota Catarina Martins.

Do lado da oposição, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas, criticou a "leveza" com que o primeiro-ministro abordou o assunto, deixando, segundo Cristas, "mais perguntas que respostas".

Em Espanha foi criada uma sociedade composta por privados e por fundos públicos que gere e tenta vender os créditos maus dos bancos. O Governo espanhol garante ter conseguido reduzir os ativos "tóxicos" imobiliários em 15,3%.

Já em Itália, o esquema aprovado pela Comissão Europeia em fevereiro prevê a criação de um veículo de securitização, com uma gestão própria, que comprará o crédito malparado aos bancos, para depois reagrupá-lo noutros tipos de produtos financeiros, para serem por fim vendidos.
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