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Crescimento lento leva Centeno a admitir revisão de previsões

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Mário Centeno no Parlamento Tiago Petinga - Lusa

O ministro das Finanças admitiu que as previsões de crescimento feitas pelo Governo podem ser revistas em outubro, na altura da apresentação do Orçamento do Estado para 2017. Em entrevista ao jornal Público, Mário Centeno argumenta que o Brexit e a procura externa baralham as contas deste ano.

A entrevista de Mário Centeno estava nas bancas na manhã desta quarta-feira. O ministro foi entretanto à comissão parlamentar do Trabalho e da Segurança Social e a oposição – nomeadamente o deputado do PSD Pedro Roque - não perdeu a oportunidade de questionar Centeno sobre a possível revisão em baixa do cenário macroeconómico deste ano.

O ministro das Finanças respondeu que, quando o Executivo tomou posse, a “economia portuguesa não crescia há seis meses”, remetendo responsabilidades para o anterior Governo. “Alterar a economia numa situação destas leva tempo e requer ação e foi o que este Governo fez”, sublinhou.

Centeno mostrou-se insatisfeito com o crescimento em cadeia de 0,2 por cento no primeiro trimestre, mas destacou o “trajeto de aceleração que se reforçou no segundo trimestre”, reiterando que todas as previsões para a economia portuguesa preveem uma aceleração.

As causas para um eventual crescimento mais lento do que o previsto? O Brexit e a procura externa. No Parlamento, Mário Centeno relembrou que quando o Governo elaborou as últimas previsões, a procura externa crescia 4,6 por cento. Agora as organizações preveem para a procura externa “um crescimento de 3,2 por cento”. E isso tem, de acordo com o ministro, um impacto de 0,36 pontos percentuais no crescimento.
Procura externa em queda
Mário Centeno fala de choques importantes na economia, como a situação em Angola, China e Brasil.

“Há quedas [nas exportações] de 45 por cento para Angola, 35 por cento para o Brasil e também muito significativas para a China. Há também alguma flutuação, muito associada aos combustíveis, para os EUA”, refere o responsável das Finanças ao Público.

O Brexit é outro dos elementos que veio baralhar os números das contas nacionais. O impacto é “óbvio” nos estudos que têm sido feitos sobre impacto na economia portuguesa, refere o ministro, mas ainda há muita margem de incerteza sobre o que significará a saída do Reino Unido da União Europeia.

Mário Centeno diz mesmo na entrevista ao diário que “o Brexit é uma alteração que podemos considerar como estrutural na envolvente da economia portuguesa, pelo seu impacto na União Europeia (UE) e pelas ligações diretas e fO Reino Unido é mais um desafio que se coloca às empresas, que se junta a outros choques que a economia tem sofrido na envolvente externa, como com Angola, Brasil e China.ortes que Portugal tem com o Reino Unido”.

“O Reino Unido é o nosso quarto maior cliente na exportação de bens, está entre o primeiro e o segundo lugar nas exportações de serviços, portanto a resposta óbvia é que estamos atentos a isso”, realça Centeno.

"A verdade é que é com grande preocupação que observamos estes desenvolvimentos, mas também estamos conscientes de que este tipo de processos leva a ajustamentos na economia. Penso que as empresas portuguesas vão responder positivamente a mais este desafio, mas não deixa de ser algo com que temos de lidar", garante.

Condicionantes que levam o Governo a admitir rever as previsões de crescimento. “As previsões dos governos, que não são centros de projecções económicas, fazem-se nos momentos orçamentais”, refere Centeno. Ou seja, a reavaliação da situação macroeconómica será feita em outubro, o que para o ministro não significa um orçamento retificativo. O ministro usou a previsão de crescimento de 1,2 por cento e não a de 1,8 por cento de crescimento, aquela que é a previsão do Governo para a totalidade do ano.

O ministro realça que todas as projeções, mesmo as mais baixas, apontam para uma aceleração da atividade.

Ainda assim, o ministro mostra reservas: “Com um crescimento de 0,2 pontos percentuais [crescimento em cadeia no primeiro trimestre], para chegarmos ao final do ano com um de 1,2 por cento, é necessário alguma aceleração da atividade económica ao longo do ano”.

“Já nem falo de 1,8 por cento. Usei 1,2 por cento porque é a projeção mais baixa que existe neste momento na economia portuguesa e que é a da OCDE. Mesmo essa supõe que haverá uma aceleração da atividade ao longo do ano e é esta que, a materializar-se, será relevante até para a projeção de 2017”, respondeu o ministro.
Execução melhor do que o previsto
Quando questionado pelo Público sobre a eventual necessidade de novas medidas para cumprir a meta do défice perante o abrandamento do crescimento, o ministro respondeu com dados da execução orçamental.

“Quando olhamos para a receita fiscal, para a receita contributiva, vemos números que estão totalmente alinhados com os números e objetivos para o ano. Quando olhamos para a despesa, temos uma execução que é melhor do que aquela que temos projetada para o ano”, realça o ministro.

Acrescenta que o projetado para o crescimento dos salários na administração é 4,9 por cento e, até maio, os salários registaram um crescimento de 1,9 por cento, "já com metade dos salários com os cortes salariais repostos".

Para o Orçamento de 2017, Mário Centeno diz ter uma enorme vantagem, pela implementação de um exercício de revisão da despesa concentrado em 2016 e 2017, nos sectores da saúde, educação, empresas públicas e compras públicas.
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