Economia chinesa já não pode viver dos baixos salários

por RTP
Trabalhadores descarregam mercadorias num mercado abastecedor dos arredores de Pequim Adrian Bradshaw, Epa

Um estudo hoje publicado pela Câmara de Comércio Europeia chega a conclusões surpreendentes sobre a economia chinesa. Ela encontra-se, segundo o estudo, perante a encruzilhada de continuar a apostar nos baixos salários ou de criar uma indústria de tecnologia avançada. E a primeira opção, vigente até aqui, parece condenada.

Os salários chineses continuam a ser baixos, mas estão a subir rapidamente: segundo o estudo, citado na versão on-line de DER SPIEGEL, o rendimento médio dos habitantes das cidades quadruplicou-se na década entre 2001 e 2010, tendo saltado de 9.333 para 36.539 yuans. Os empresários em sectores de mão de obra intensiva começam por isso a preferir outros destinos para os seus investimentos: ultimamente o Vietname, a Índia, mesmo a América Latina.
Investir em terreno movediço Um inquérito aos investidores estrangeiros com interesses na China, realizado para incluir no estudo da Câmara de Comércio, mostra que um em cada cinco pretende retirar-se para outras paragens. Mas há mais motivos para essa tendência, além do rápido aumento dos salários e com frequência prioritários em relação a ele.

Em primeira linha das preocupações dos investidores estrangeiros surge a insegurança. Há, por um lado, insegurança sobre o quadro legal que regula a actividade económica. Várias empresas inquiridas queixam-se nomeadamente de discriminação por parte das autoridades, que lhes colocariam exigências ambientalistas completamente ignoradas nos casos de empresas chinesas dos mesmos ramos.

Por outro lado, faz-se sentir na China uma acentuada desaceleração face aos crescimentos de dois dígitos inteiros que eram habituais até aqui. Há bem pouco tempo, as autoridades chinesas ainda consideravam 8 por cento o mínimo de crescimento necessário para continuar a gerar suficiente emprego num país com 1.350 milhões de pessoas.

Mas agora as mesmas autoridades anunciaram que não esperam mais 7,5 por cento ao longo do corrente ano. Em consequência, logo surgiram rumores de um pacote de medidas destinadas a reanimar a conjuntura. E, como era inevitável, esses rumores consolidam a impressão de que se encontra esgotada a fórmula de política económica vigente até aqui, estando iminente uma viragem para o desconhecido.
Viragem na política económica - para onde? Algumas pistas existem já, em todo o caso, sobre as linhas de força das tentativas oficiais para solucionarem o impasse. Para já, o orçamento para a investigação científica nos próximos oito anos deverá atingir 402 mil milhões de dólares, superando assim o dos Estados Unidos. A atribuição de créditos pelo sistema bancário deverá favorecer mais fortemente o sector privado.

E o yuan deverá tornar-se uma divisa com papel de relevo nas transacções internacionais. Assim, a partir da próxima sexta feira, o comércio sino-japonês passará a ser feito em yuans e yens - não mais em dólares, como até aqui.

Entre os sinólogos, há também quem julgue conhecer a linha de rumo mais provável. Um deles, citado em DER SPIEGEL, é Horst Löchel, que durante vários anos leccionou economia na China. Segundo Löchel, a China "perde a sua vantagem como país de baixos salários" e já só pode crescer se deixar de ser uma nação que copia as produções dos outros e desenvolver uma indústria de alta tecnologia.
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