Governo alemão nega plano para resgatar Deutsche Bank

por Sandra Salvado - RTP
Luke MacGregor - Reuters

O jornal alemão Die Zeit diz que as autoridades alemãs estão a preparar um plano de resgate público para o Deutsche Bank, que pode significar uma nacionalização. O Ministério das Finanças já veio desmentir, mas há já quem vaticine uma reedição do colapso do Lehman Brothers. O presidente do banco garante que a hipótese de um aumento de capital não se coloca e que em nenhum momento pediu ajuda a Angela Merkel.

O Ministério das Finanças da Alemanha apressou-se a desmentir a notícia que apresentava o resgate como um “plano B”, no caso de a instituição bancária não conseguir dinheiro nos mercados para pagar os custos da litigação nos EUA.

As ações do Deutsche Bank caíram para níveis jamais vistos na bolsa de Frankfurt, isto depois das dúvidas suscitadas pela situação do banco. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou a 15 de setembro a aplicação de uma multa recorde de 14 mil milhões de dólares, para saldar o litígio imobiliário desencadeado no início da crise financeira, em 2008.


Ainda de acordo com Die Zeit, citado pela agência Reuters, o plano passava por dar uma oportunidade ao Deutsche Bank para vender alguns ativos a outros bancos, a preços que garantissem receitas semelhantes ao valor contabilístico desses ativos, sem no entanto haver mais detalhes sobre como iriam alcançar os preços.
Nacionalização parcial
O plano prevê ainda, segundo Die Zeit, que o Governo alemão assuma uma participação acionista de até 25 por cento no capital do banco, caso haja essa necessidade. Isto quer dizer que seria uma nacionalização parcial, de acordo com a notícia do mesmo jornal alemão, que não acrescenta pormenores sobre como obteve estas informações.

A Reuters contactou o Deutsche Bank, que também desmentiu a notícia, remetendo explicações para a entrevista que o presidente John Cryan deu esta quarta-feira ao jornal Bild.

Cryan veio tranquilizar os mercados, garantindo que o maior banco alemão não precisa de ajudas do Estado. "Isso não é assunto para nós", revelou John Cryan, sobre a eventual necessidade de ajudas do Estado. E acrescentou: "Em nenhum momento pedi ajuda à chanceler. Nem sequer sugeri nada disso".


John Cryan voltou a reiterar que a instituição cortou riscos, tem capital suficiente e que as preocupações sobre os potenciais custos do litígio com as autoridades norte-americanas são exageradas.

O Deutsche Bank é acusado, como outros grandes bancos, de ter vendido a investidores, antes do início da crise financeira de 2007 e de 2008, empréstimos hipotecários residenciais, ou seja, créditos convertidos em produtos financeiros, sabendo que eram tóxicos.

Na altura do anúncio, o banco disse que "o Deutsche Bank não tem a intenção de saldar esses potenciais processos civis em montante próximo do número citado", sublinhando que as negociações apenas estavam agora a ter início.
Ações com mínimos históricos
As ações do maior banco alemão atingiram, na terça-feira, um novo mínimo histórico de 10,18 euros. Recorde-se que o banco já colocou 5,5 mil milhões de dólares de parte, a 30 de junho, para resolver litígios, isto de acordo com documentos bolsistas.


Antes das declarações do Ministério das Finanças, o Governo alemão já tinha rejeitado a possibilidade de um pedido de assistência estatal, para ajudar a fazer face às multas que poderiam vir dos EUA.

“É inimaginável que possamos ajudar o Deutsche Bank com dinheiro dos contribuintes”, disse Hans Michelbach, deputado da coligação de Merkel, à agência Bloomberg.
Um novo Lehman Brothers?
Em entrevista ao jornal i, o economista Filipe Garcia diz que o atual cenário é “comparável à crise do Lehman Brothers” e que, a acontecer, a queda do Deutsche Bank seria “uma situação difícil de digerir” e com “impactos imprevisíveis”.

Há oito anos, a crise do Lehman Brothers, um dos maiores gigantes da banca, protagonizou a maior falência dos EUA e fez soar alarmes em todo mundo.

A ser aplicada a multa ao Deutsche Bank seria a mais elevada alguma vez imposta a um banco estrangeiro, nos Estados Unidos, bem à frente dos 8,9 mil milhões de dólares aplicados em 2014 ao banco francês BNP Paribas, por violação de embargos aplicados pelos Estados Unidos.

Os sinais de preocupação estão longe de terminar. Desde o início de 2016, os 44 bancos europeus que fazem parte do índice Stoxx (índice de bolsa composto por 50 ações da zona Euro) já perderam 271 mil milhões de euros em valor de mercado, avança esta quarta-feira o Jornal de Negócios.

Em média, estes bancos estão a perder, por sessão, quase 1,5 mil milhões de euros e a incerteza mantém-se, ou pela capacidade dos grandes bancos sobreviverem às multas milionárias ou pela indefinição em torno de uma solução para o crédito malparado.

c/ agências
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