Grupo Lloyds suprime três mil empregos e 200 balcões na Grã-Bretanha

por Graça Andrade Ramos - RTP
Paul Hackett - Reuters

O Lloyds Banking Group diz que está a preparar-se para a descida das taxas de juro devido ao Brexit e invoca ainda uma "mudança nos hábitos dos consumidores" para justificar o encerramento de 200 balcões e o despedimento de três mil pessoas até 2017.

O banco, ainda detido em nove por cento pelo Estado britânico, afirma que os cortes se inserem num programa de redução de custos iniciado em 2014 e que foi prolongado devido ao novo "ambiente". O Banco de Inglaterra deverá descer as taxas de juro de 0,5 para 0,25 por cento para sustentar a economia à medida que as consequências do Brexit se intensificam. As taxas de juro mais baixas comprimem habitualmente as margens dos bancos nas suas operações de crédito aos clientes, sobretudo no caso de setor imobiliário, o que acaba por pesar nos lucros das instituições financeiras.

Em 2014 o grupo já tinha suprimido 9,000 empregos e 200 balcões. Com estes planos, o grupo terá suprimido entre 2014 e 2018 12.000 postos de trabalho e 400 balcões.

Ao mesmo tempo que anunciava os cortes, o Lloyds Bank Group afirmava ter duplicado os lucros no primeiro semestre de 2016, para os 2,5 mil milhões de euros (1,794 mil milhões de libras contra 874 milhões de libras no ano anterior).

De acordo com a instituição, o Brexit vai ter um impacto adverso nas suas atividades nos próximos meses, o que justifica as medidas.

"Devido à incerteza, é demasiado cedo para determinar o impacto nos nossos planos de longo prazo. Mas, enquanto o volume de negócios deverá manter a geração de capital em alta, é possível que esta seja menor do que o previsto em anteriores linhas de orientação", afirmou o banco, dirigido por António Horta Osório.
Perspetivas incertas
Os cortes deverão gerar poupanças de 1,4 mil milhões de libras até final do próximo ano afirma a instituição.



Horta Osório disse que "após o referendo sobre a União Europeia as perspetivas da economia britânica são incertas e, enquanto o impacto preciso depende de vários fatores incluindo as negociações com a União Europeia e acontecimentos políticos e económicos, uma desaceleração do crescimento parece provável."

"O Reino Unido, no entanto, parece entrar neste período numa posição forte, após a manutenção de desalavancagem do setor privado, melhorias significativamente da acessibilidade a hipotecas e baixos níveis de desemprego", fez notar ainda o presidente executivo do Lloyds.

O banco está "bem situado para enfrentar a incerteza do setor e do mercado", concluiu.
Cortes "selvagens"
O sindicato do sector, o Unite, afirma que vai pedir explicações detalhadas sobre a necessidade dos cortes.

"Existe um perigo real que o serviço aos clientes sofra e que o acesso de muitas comunidades aos processos bancários seja prejudicado devido a esta última ronda de cortes selvagens", reagiu o seu presidente, Rob MacGregor.

"Nos próximos dias iremos reunir com o Lloyds para perceber o anúncio em detalhe e iremos pressiona-lo para obter garantias quanto a reduções obrigatórias e alerta-lo contra demasiados cortes demasiado rápidos", acrescentou, prometendo que o sindicato vai fazer tudo para que os empregados que querem continuar a trabalhar para o grupo Lloyds o possam fazer.
"Back to basics"
Desde 2011 que o Lloyds tem sofrido o impacto do escândalo das vendas forçadas de PPI que já lhe custou 16 mil milhões de libras, sobretudo em indemnizações a clientes lesados, e que em 2015 teve um impacto de 1,4 mil milhões de libras nas prestações do banco.

No primeiro semestre desse ano, o Lloyds teve de pagar a soma adicional de 745 milhões de libras pela venda de metade do capital do banco de retalho britânico TSB, à espanhola Sabadell.

O Lloyds tem vindo a recentrar a sua atividade no retalho e de crédito às empresas no Reino Unido e está a livrar-se lentamente da participação do Estado, forçado a vir em seu socorro durante a crise financeira internacional de 2008.
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