Turbulência política pós-eleitoral penalizou liquidez do Banif

por Lusa

Lisboa, 28 abr (Lusa) - O diretor do departamento de supervisão prudencial do Banco de Portugal, Carlos Albuquerque, revelou hoje que a liquidez do Banif piorou significativamente após as referências públicas feitas ao banco em meados de outubro, após as eleições legislativas.

"A partir de 16 de outubro de 2015, na sequência de referências públicas à situação do Banif, verificou-se uma deterioração da situação de liquidez do banco", realçou o responsável durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

Questionado pela deputada do PSD Emília Cerqueira se estas "referências públicas" estavam relacionadas com as declarações feitas pelo agora primeiro-ministro, António Costa, que numa entrevista à TVI24 acusou a coligação PSD/CDS-PP de não ter fornecido dados económicos e financeiros essenciais para o país, Carlos Albuquerque apontou para as notícias dessa data, dando a entender que sim.

Nessa entrevista à TVI24, António Costa não quis revelar o teor das conversas então tidas com os presidentes do PSD, Pedro Passos Coelho, e do CDS-PP, Paulo Portas, mas falou em "omissões gravíssimas" e acrescentou que, "infelizmente, os portugueses hão de saber, porque há um limite para a capacidade de o Governo omitir e esconder do país dados sobre a situação efetiva e real" em que Portugal se encontra.

Em reação, Maria Luís Albuquerque, que desempenhava na altura o cargo de ministra das Finanças, assinou um comunicado do PSD no qual garantiu que não tinha transmitido ao PS informações "passíveis de gerar alarme público" sobre a TAP ou o Banif.

O facto de o nome do Banif ter saltado para a ribalta nessa ocasião penalizou a liquidez do banco, considerou hoje Carlos Albuquerque, esclarecendo que o Banco de Portugal "reiterou ao Banif a necessidade de preparação de um Plano de Contingência de Liquidez formal e completo".

E destacou: "No início do mês de novembro, o `buffer` [almofada] de liquidez desceu abaixo dos 10% e intensificaram-se os pedidos de indicação de medidas de liquidez concretas, calendarizadas e respetivos impactos. O acompanhamento da situação de liquidez do banco foi reforçado ao longo dos meses de novembro e dezembro, tendo sido sempre salientada a necessidade de retenção da liquidez como medida prioritária por parte do banco".

Carlos Albuquerque acrescentou que, já em dezembro, "após as notícias televisivas conhecidas, a posição de depósitos e de liquidez deteriorou-se de forma muito rápida e acentuada" e "o banco deixou de dispor de colaterais para aceder ao Eurosistema e iniciou o recurso aos financiamentos de emergência (ELA)".

O responsável rematou que, "no final dessa semana, o Banif praticamente não possuía colaterais disponíveis, mesmo para operações de cedência de liquidez de emergência (ELA) e, seguramente, já não teria possibilidade de sobreviver à manhã de segunda-feira", dia 21 de dezembro de 2015.

A 20 de dezembro de 2015, um domingo, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos - incluindo `tóxicos` - para a nova sociedade veículo.

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