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Escalada do défice de 2014 arma adversários de Passos e Portas

por João Ferreira Pelarigo - RTP
António Costa insiste que os números desmentem a ideia do Governo de que o dinheiro injetado no BES "era da banca, não era dinheiro dos contribuintes" Mário Cruz - Lusa

Dados do INE mostram que a capitalização do Novo Banco fez disparar o défice de 2014 para 7,2 por cento. Passos Coelho e Paulo Portas desvalorizam o impacto do fracasso da venda do sucessor do BES e insistem num défice abaixo dos três por cento em 2015. Já António Costa defende que estes dados tornam "claro" que o programa de PSD e CDS-PP é uma "ficção", enquanto que a CDU destaca a derrapagem idêntica à de 2011 e o BE declara mesmo o óbito da campanha da direita.

O fracasso na venda do Novo Banco, segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), atirou o défice orçamental do ano passado para 7,2 por cento, uma subida de 2,7 pontos percentuais em relação ao que era previsto.

Passado o prazo de 12 meses para a venda da instituição e feita uma revisão das contas, subiu para 7,2 por cento o défice de 2014, uma soma referente aos 4.900 milhões de euros injetados na altura da resolução do Banco Espírito Santo.

De acordo com o comunicado do INE, "se não ocorresse a venda do NB num espaço de um ano, o registo da capitalização seria efetuado de acordo com o caso geral, previsto pelo Manual do Défice e da Dívida das Administrações Públicas, quando estas efetuam uma injeção de capital numa empresa pública".
Passos desvaloriza

Em Viana do Castelo, onde foi confrontado com os últimos números do INE, Pedro Passos Coelho desvalorizou o impacto do Novo Banco nas contas do ano passado. O líder do PSD admitiu ainda que os dados do ano em curso fortalecem a convicção do Governo de que ainda é possível um défice abaixo dos três por cento.

De acordo com o primeiro-ministro, o efeito do Novo Banco nas contas de 2014 é uma "contabilização estatística" que "não tem qualquer influência" na expectativa do défice de 2015 nem tem "nenhum impacto sobre a dívida portuguesa".

Acrescentou ainda que esta divulgação se trata "de uma contabilização estatística que não tem qualquer efeito no nosso dia-a-dia. Quando o Novo Banco vier a ser vendido e se ajustarem as contas relativamente ao fundo de resolução e o Estado receber os 3,9 mil milhões de euros, isso também não terá nenhum efeito na nossa dívida nem no nosso défice, terá apenas um impacto estatístico".

Passos destacou ainda o benefício dos juros recebidos pelo Estado pelo dinheiro emprestado ao fundo de resolução.

"Quanto mais tarde esse dinheiro que emprestámos regressar à esfera pública, mais dinheiro em juros o país acumulará. Não é dinheiro que esteja parado", sublinhou.
Portas corrobora

Na mesma linha, o líder do CDS-PP saiu a público para advogar que o líder do PS, uma das vozes que entretanto reprovaram a política orçamental do Executivo, "não está bem informado".

"O líder do maior partido da oposição não está bem informado e eu devo corrigi-lo. O défice de 2014 é um défice fechado, o que há é um registo contabilístico e apenas contabilístico, da questão do Novo Banco", sustentou Paulo Portas.
Costa diz que INE desmente Governo

Por sua vez, o líder socialista afirmou, num almoço-comício em Águeda, que os dados do INE mostram que o programa da coligação Portugal à Frente assenta numa ficção. António Costa insiste que os números divulgados desmentem a ideia do Governo de que o dinheiro injetado no BES "era da banca, não era dinheiro dos contribuintes".

"Ficou absolutamente claro que as contas daquele programa de estabilidade assentavam numa ficção", disse o secretário-geral do PS, acrescentando que as contas do programa só bateriam certas com "uma redução muito significativa do serviço da dívida da República portuguesa ao longo dos próximos anos".

De acordo com Costa, o programa de estabilidade apresentado pelo Governo em Bruxelas "foi por água abaixo" sendo "absolutamente insustentável".
Três anos de "saque ao povo"

Jerónimo de Sousa antevê que estes dados referentes ao défice orçamental sejam uma "condenação" das políticas do PSD/CDS-PP nas urnas no próximo dia 4 de outubro.

"Se cada português tirar uma ilação daquilo que lhe foi dito, garantido, daquilo que lhe foi extorquido, perante estes resultados, será motivo de condenação desta política e deste Governo", perspetivou.

Segundo o líder da CDU, a partir da sede do Partido Comunista, em Lisboa, o défice apresentado é semelhante ao de 2011, após três anos de "saque o povo".

Jerónimo denunciou ainda a "atual política de PSD e CDS e que o PS acompanha" dizendo que "é um desastre nacional, por ser "assente na ditadura do défice e da submissão aos critérios do euro e do Tratado Orçamental".
"A campanha da direita morreu"

A deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua considerou que os dados do INE são "provas redondas do falhanço do Governo". À semelhança da CDU, refere um défice de 2014 idêntico ao de 2011, fazendo dos portugueses "lesados do PSD e do CDS".

"Penso que um quadro mais negativo era difícil", destacando um défice "descontrolado", uma dívida igualmente "descontrolada" e um Novo Banco que atira os valores de 2014 para 2011, três provas do fracasso do Governo.

"Ficámos a saber que por mais volta que dê, por mais jogos de semântica que o Governo faça, não há forma de o negar, é o INE que o diz, o défice público oficial de 2014 foi revisto para 7,2 por cento, o equivalente ao de 2011", disse numa conferência de imprensa na sede do BE, em Lisboa.

Mariana Mortágua sublinhou ainda que a estratégia de vender o Novo Banco rapidamente foi um "erro".

A porta-voz nacional do Bloco foi ainda mais longe. No Metro Sul do Tejo, entre Cacilhas e Corroios, Catarina Martins concluiu que "hoje é o dia em que a campanha eleitoral da direita morreu".

c/ Lusa
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