2013 é ano de fenómenos climáticos extremos e de subida histórica dos oceanos

por Graça Andrade Ramos, RTP
Uma nuvem de tempestade sobre a floresta amazónica. A deflorestação da Amazónia ter-se-á acelerado no último ano, tendo desaparecido uma área duas vezes maior do que a cidade de Los Angeles, com consequências imprevisíveis para o clima de acordo com especialistas Reuters

Números provisórios da Organização Meteorológica Mundial (OMM), um organismo da ONU, publicados esta quarta-feira, revelam que 2013 poderá ficar na História como o sétimo ano mais quente a par de 2003, desde as primeiras estatísticas registadas em 1850. Assinala no entanto um novo recorde de subida do nível dos mares, em março.

"O nível dos mares subiu a um ritmo médio de 3,2 milímetros por ano", indica o relatório. "Um número próximo do ritmo de cerca de 3 mm/ano registados na década 2001-2010 e o dobro do registado no séc. XX, de 1,6mm/ano," acrescentam os especialistas.O relatório provisório da OMM para 2013 revela as temperaturas nacionais e regionais e inclui detalhes sobre precipitação, inundações, secas, ciclones tropicais, extensão dos gelos e o nível do mar. Foi publicado esta quarta-feira para informar os delegados que participam na Conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas que está a decorrer desde segunda-feira em Varsóvia, Polónia e que deverá preparar as negociações para um novo acordo de diminuição de gases de efeito de estufa, em 2015.

O secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, acredita que "o nível do mar vai continuar a subir devido ao descongelamento das calotes polares e dos glaciares. Mais de 90 por cento do calor suplementar proveniente dos gases de efeitos de estufa é absorvido pelos oceanos, que vão continuar a aquecer e a dilatar-se durante centenas de anos."

Em 2012 registaram-se níveis recordes dos três principais gases de efeito de estufa que em 2013 deverão ser ultrapassados. "Isto significa que estamos condenados a um futuro mais quente", diz Jarraud.

Reunidos em Varsóvia, os delegados da Conferência da ONU sobre alterações climáticas estudam formas para travar a emissão de gases de estufa. O aquecimento global que está por trás da recente subida do nível do mar ameaça para já sobretudo os países com linhas costeiras muito baixas (Reuters)

"Até agora as temperaturas este ano são semelhantes à média entre 2001-2010, que foi a mais quente registada", disse Jarraud. "Todos os anos mais quentes foram registados desde 1998 e este ano mantém-se a tendência de longa-duração. Os anos mais frios são agora mais quentes do que os anos mais quentes antes de 1998", acrescentou.
Fenómenos extremos
"As temperaturas à superfície são apenas parte da visão ampla da mudança climática. O impacto nos ciclos de agua está já notar-se - como o provam as secas, inundações e precipitação extrema", avisa o responsável da OMM.

Não foi ainda estabelecida cientificamente a ligação entre o aquecimento global e o agravamento de fenómenos atmosféricos extremos, de que o recente tufão grau 5, Haiyan, pode ser exemplo. Mas a subida dos níveis do mar "torna já as populações costeiras mais vulneráveis às ondas de tempestade, o que teve consequências trágicas no caso das Filipinas", explicou Jarraud.

Os primeiros nove meses de 2013 situam-se a níveis de 2003 em termos de temperaturas, competindo pelo sétimo lugar na lista dos anos mais quentes. Foram mais quentes do que em período homólogo em 2011 e 2012, anos em que o fenómeno La Niña provocou um arrefecimento. Em 2013, contudo, registaram-se temperaturas superiores à média na maioria das regiões, em particular na Austrália, norte da América do Norte, o nordeste da América do Sul, a África do Norte e uma grande parte da Eurásia.
Ártico e Antártica recuperam
O relatório da OMM dá parte da recente recuperação do Ártico, após o descongelamento espetacular e sem precedentes de 2012. "Desde o início das medições satélite em 1979, a década 2001-2012 viu o maior descongelamento médio do gelo do mar do Ártico e desde 2007 registaram-se as sete menores extensões de gelo", diz o relatório, reconhecendo a recuperação registada nos últimos meses.

Os especialistas apontam a pressão atmosférica inferior à média registada sobre a região como hipótese explicativa do fenómeno, que terá provocado o aumento da nebulosidade atmosférica registado entre junho e agosto de 2013, baixando as temperaturas. A camada de gelo mantém-se, contudo, uma das mais frágeis jamais observadas, sublinham os especialistas.

Pinguins Adéle sobre um bloco de gelo. O desaparecimento das calotes polares preocupa os ambientalistas e climatologistas (Reuters)

Já a calote da Antártica registou um novo máximo de 19,47 milhões de Km2, cerca de 30.000 Km2 do que o recorde precedente estabelecido superior em 2012 e 2,6 por cento ao cálculo estabelecido para o período 1981-2010. As alterações das correntes atmosféricas observadas nos últimos 30 anos, resultado da evolução dos ventos dominantes no Antártico, são consideradas como um fator ligado a este aumento. Outra hipótese em jogo relaciona-se com alterações das correntes oceânicas.
Aquecimento abrandou
Um relatório recente, publicado pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (PIAC) a 27 de setembro de 2013, indica que, nas últimas três décadas, a temperatura tem sido sucessivamente cada vez mais quente e que, no hemisfério norte, este período de 30 anos foi mesmo o mais quente dos últimos 1.400 anos.

Contudo, registaram-se indicações de que o ritmo de aquecimento abrandou nos últimos 15 anos. Entre 1998 e 2012 o aquecimento médio foi de 0,05 por década, num ritmo menor do que o calculado para o período entre 1950 e 2010 (0.12). Contudo o Painel concluiu que este é um período demasiado curto para tirar conclusões sobre uma inversão do aquecimento global, lembrando que em 1998 se registou um quente El Niño, que poderá ter contribuído para o arrefecimento das temperaturas globais.

A desaceleração do aquecimento pode ser explicada pela absorção do calor pelas camadas superiores dos oceanos ou pela existência de partículas na atmosfera que reflitam a luz do sol para fora da Terra, mas ambas as hipóteses estão ainda em estudo.

O relatório do PIAC conclui que o aquecimento global é uma consequência direta das ações humanas sobretudo nos últimos 200 anos.
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