Números provisórios da Organização Meteorológica Mundial (OMM), um organismo da ONU, publicados esta quarta-feira, revelam que 2013 poderá ficar na História como o sétimo ano mais quente a par de 2003, desde as primeiras estatísticas registadas em 1850. Assinala no entanto um novo recorde de subida do nível dos mares, em março.
O secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, acredita que "o nível do mar vai continuar a subir devido ao descongelamento das calotes polares e dos glaciares. Mais de 90 por cento do calor suplementar proveniente dos gases de efeitos de estufa é absorvido pelos oceanos, que vão continuar a aquecer e a dilatar-se durante centenas de anos."
Em 2012 registaram-se níveis recordes dos três principais gases de efeito de estufa que em 2013 deverão ser ultrapassados. "Isto significa que estamos condenados a um futuro mais quente", diz Jarraud.
"Até agora as temperaturas este ano são semelhantes à média entre 2001-2010, que foi a mais quente registada", disse Jarraud. "Todos os anos mais quentes foram registados desde 1998 e este ano mantém-se a tendência de longa-duração. Os anos mais frios são agora mais quentes do que os anos mais quentes antes de 1998", acrescentou.
Fenómenos extremos
"As temperaturas à superfície são apenas parte da visão ampla da mudança climática. O impacto nos ciclos de agua está já notar-se - como o provam as secas, inundações e precipitação extrema", avisa o responsável da OMM.
Não foi ainda estabelecida cientificamente a ligação entre o aquecimento global e o agravamento de fenómenos atmosféricos extremos, de que o recente tufão grau 5, Haiyan, pode ser exemplo. Mas a subida dos níveis do mar "torna já as populações costeiras mais vulneráveis às ondas de tempestade, o que teve consequências trágicas no caso das Filipinas", explicou Jarraud.
Os primeiros nove meses de 2013 situam-se a níveis de 2003 em termos de temperaturas, competindo pelo sétimo lugar na lista dos anos mais quentes. Foram mais quentes do que em período homólogo em 2011 e 2012, anos em que o fenómeno La Niña provocou um arrefecimento. Em 2013, contudo, registaram-se temperaturas superiores à média na maioria das regiões, em particular na Austrália, norte da América do Norte, o nordeste da América do Sul, a África do Norte e uma grande parte da Eurásia.
Ártico e Antártica recuperam
O relatório da OMM dá parte da recente recuperação do Ártico, após o descongelamento espetacular e sem precedentes de 2012. "Desde o início das medições satélite em 1979, a década 2001-2012 viu o maior descongelamento médio do gelo do mar do Ártico e desde 2007 registaram-se as sete menores extensões de gelo", diz o relatório, reconhecendo a recuperação registada nos últimos meses.
Os especialistas apontam a pressão atmosférica inferior à média registada sobre a região como hipótese explicativa do fenómeno, que terá provocado o aumento da nebulosidade atmosférica registado entre junho e agosto de 2013, baixando as temperaturas. A camada de gelo mantém-se, contudo, uma das mais frágeis jamais observadas, sublinham os especialistas.
Já a calote da Antártica registou um novo máximo de 19,47 milhões de Km2, cerca de 30.000 Km2 do que o recorde precedente estabelecido superior em 2012 e 2,6 por cento ao cálculo estabelecido para o período 1981-2010. As alterações das correntes atmosféricas observadas nos últimos 30 anos, resultado da evolução dos ventos dominantes no Antártico, são consideradas como um fator ligado a este aumento. Outra hipótese em jogo relaciona-se com alterações das correntes oceânicas.
Aquecimento abrandou
Um relatório recente, publicado pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (PIAC) a 27 de setembro de 2013, indica que, nas últimas três décadas, a temperatura tem sido sucessivamente cada vez mais quente e que, no hemisfério norte, este período de 30 anos foi mesmo o mais quente dos últimos 1.400 anos.
Contudo, registaram-se indicações de que o ritmo de aquecimento abrandou nos últimos 15 anos. Entre 1998 e 2012 o aquecimento médio foi de 0,05 por década, num ritmo menor do que o calculado para o período entre 1950 e 2010 (0.12). Contudo o Painel concluiu que este é um período demasiado curto para tirar conclusões sobre uma inversão do aquecimento global, lembrando que em 1998 se registou um quente El Niño, que poderá ter contribuído para o arrefecimento das temperaturas globais.
A desaceleração do aquecimento pode ser explicada pela absorção do calor pelas camadas superiores dos oceanos ou pela existência de partículas na atmosfera que reflitam a luz do sol para fora da Terra, mas ambas as hipóteses estão ainda em estudo.
O relatório do PIAC conclui que o aquecimento global é uma consequência direta das ações humanas sobretudo nos últimos 200 anos.