A América de Donald Trump: a Tomada de Posse em cinco capítulos

por Christopher Marques - RTP
Jim Bourg - Reuters

Saiu Barack Obama, entrou Donald Trump. O magnata tornou-se esta sexta-feira o 45.º Presidente dos Estados Unidos. O dia da tomada de posse fica marcado pelo discurso protecionista que fez no Capitólio, seguindo as linhas da campanha. Os norte-americanos estão divididos e houve mesmo confrontos nas ruas. Em cinco capítulos, contamos o essencial de um dia histórico.

Desde 8 de novembro de 2016 que o destino estava traçado. Aconteceu esta sexta-feira, dia 20 de janeiro. Donald J. Trump tomou posse como 45.º Presidente dos Estados Unidos, sucedendo a Barack Obama.

Os acontecimentos desta sexta-feira seguiram todo o cerimonial que manda a tradição norte-americana. No emaranhado de costumes dos Estados Unidos são os discursos que realmente podem surpreender e trazer novidade.

O dia ficou marcado pelo polémico discurso de Donald Trump, em que evidenciou a sua postura nacionalista e protecionista. O Presidente prometeu, uma vez mais, tornar a América grande e apostar numa política em que os americanos estarão sempre primeiro.

Registaram-se vários confrontos entre manifestantes e a polícia antes e depois da tomada de posse de Donald Trump em Washington. Várias lojas foram destruídas e a polícia fez mais de 90 detenções.

A entrada de Donald Trump, a saída de Barack Obama. A despedida fez-se nas redes sociais mas também num discurso dirigido ao coração da América.
Os Juramentos
Eram 17h00 em Lisboa. Donald Trump prestou juramento e tornou-se no 45.º Presidente dos Estados Unidos. Um ato que leva escassos segundos mas que é imperioso cumprir antes de entrar em funções.

Como os seus antecessores, o magnata, candidato presidencial pelo Partido Republicano, proferiu as palavras mágicas.

“Eu Donald J. Trump solenemente juro que vou desempenhar fielmente o cargo de presidente dos Estados Unidos, e com o melhor das minhas capacidades preservarei, protegerei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos. Que Deus me ajude”

O juramento foi conduzido pelo chefe de Justiça dos Estados Unidos e presidente do Supremo. Donald Trump ergueu a mão direita e colocou a esquerda sobre duas bíblias: a sua bíblia de infância e a bíblia de Abraham Lincoln, já usada por Barack Obama.

Antes dele, o vice-presidente Mike Pence tinha já prestado juramento, sucedendo a Joe Biden no cargo.

Depois do juramento de Donald Trump, o novo Presidente foi saudado pela banda da Marinha e por 21 tiros de canhão, antes de fazer o seu discurso inaugural.
“America First”: o discurso de Trump
O discurso de Donald Trump não trouxe novidade em relação àquela que tem sido a sua atitude. Talvez por isso tenha surpreendido. O discurso frequentemente unificador que marca o início de um mandato deu lugar a uma quase tradicional dissertação de campanha.

O discurso até começou com um agradecimento ao casal Obama pela transição do poder. Mas foi só. No momento seguinte, Trump fez tábua rasa do que até agora tinha sido alcançado e defendido pela administração democrática.

O magnata defendeu que esta transição marca o regresso do poder ao povo, depois de anos nas mãos dos partidos.

“Washington floresceu mas o povo não beneficiou desta riqueza. Os políticos prosperaram mas perdemos postos de trabalho. O poder estabelecido protegia-se a si próprio mas não protegia o país”, afirmou.

Ana Romeu, Vanessa Brízido - RTP

Prometeu uma América protecionista e mudanças na política externa. “Durante décadas ficámos sem indústria, pagámos pelas forças armadas de outros países, gastámos fortunas lá fora enquanto os norte-americanos sofriam. Gastámos milhões de dólares no estrangeiro enquanto o nosso país se desintegrou ao longo dos anos. Tornámos os outros países ricos”, insistiu o Presidente.

“A partir de hoje vai ser uma nova visão a governar o nosso país. A partir daqui será sempre a América Primeiro. Todas as decisões sobre comércio, impostos, imigração, negócios estrangeiros serão tomadas para beneficiar as famílias americanas”, afirmou.

Num discurso de reencontro com o patriotismo, Donald Trump fez um único compromisso internacional: erradicar o extremismo islâmico.
“Estarei presente”: o adeus de Obama
Terminado o discurso de Donald Trump, olhos postos na despedida de Barack Obama. Seguindo a tradição, o ex-Presidente foi acompanhado pelo novo inquilino da Casa Branca. Simbolicamente, Obama saiu de Washington de helicóptero, acompanhado por Michelle Obama.

Chegado à base de Andrews, Barack Obama foi recebido com fortes aplausos. Pronunciou as suas primeiras palavras como ex-Presidente, no seu habitual estilo descontraído.

O primeiro líder afroamericano da história dos Estados Unidos focou-se no elogio aos norte-americanos. “Vocês provaram qual é o poder da esperança. Durante todo este processo, eu e a Michelle fomos apenas o rosto, por vezes a voz (…) O mais importante não éramos nós, eram vocês”, explicou.

O ex-Presidente disse ainda que este momento não representava um “ponto final” mas antes uma “vírgula” e garantiu que podem contar com ele.

José Manuel Levy, Osvaldo Costa Simões - RTP

“Não podia estar mais orgulhoso. Foi o grande privilégio da minha vida. Agora queremos dar continuidade a esta jornada. Estou ansioso para ver o que farão a seguir. Garanto-vos que estarei presente convosco”, prometeu. Despediu-se com a mesma expressão que tinha usado no discurso oficial, feito a 10 de janeiro: “Yes we can. Yes we did. Yes we can”.

Ainda antes de sair da Casa Branca, Barack Obama tinha lançado uma sucessão de tweets na conta oficial. O Presidente norte-americano indicava já ter sido uma honra servir os norte-americanos, afirmando que o povo fez dele “um melhor líder e uma melhor pessoa”.

Obama prometeu que “não irá parar” e que continuará agora “como cidadão, inspirado pelas vossas vozes de confiança e justiça, bom humor e amor”. Barack Obama anunciou ainda a criação da Fundação Obama e pediu aos norte-americanos para que acreditem.

“Não na minha capacidade de trazer a mudança mas na vossa. Eu acredito na mudança porque acredito em vocês”, lê-se na conta oficial do agora ex-Presidente dos Estados Unidos.
Protestos de uma América dividida
As sondagens já o indicavam, o dia da tomada de posse confirmou-o. Os Estados Unidos apresentam-se divididos e muitos contestam já a Presidência de Donald Trump. Na internet recolhem-se já assinaturas para tentar destituir o Presidente.

Nas ruas foi um dia de manifestações. Registaram-se mesmo confrontos entre manifestantes e polícia antes e depois da tomada de posse em Washington. Várias lojas foram destruídas e a polícia fez mais de 90 detenções.

Manifestantes vestidos de negro obrigaram a polícia a intervir. As autoridades usaram mesmo gás pimenta para controlar a situação. Os manifestantes tentavam seguir rumo à Casa Branca. Pelo caminho foram vandalizando várias lojas.

Daniel Pessoa e Costa, Nuno Castro - RTP

Iniciativas menos violentas marcaram as horas que antecederam o juramento, com muitos cartazes e críticas ao novo Presidente dos Estados Unidos. “Termos eleito um racista, um intolerante e um atrasado, com vocabulário da escola primária, para nosso Presidente é problemático”, justificava um dos opositores de Donald Trump.

Quem o apoio contesta as acusações. “Temos direito a votar em quem queremos que nos represente e estamos aqui para apoiar essa pessoa”, relatava um dos elementos pró-Trump.

Na crítica a Donald Trump juntam-se também algumas figuras públicas como o realizador Michael Moore e os atores Robert De Niro e Alec Baldwin. Na noite de quinta-feira, reuniram-se com milhares de outras pessoas junto a um dos empreendimentos do magnata.
O último dia de Obama, o primeiro de Trump
Um dia histórico para o mundo, certamente inesquecível para os seus dois principais intervenientes. Barack Obama despediu-se esta sexta-feira da Casa Branca, naquele que foi o seu último dia enquanto Presidente dos Estados Unidos da América.

Pela última vez como Presidente, Barack Obama foi filmado pelos jornalistas na Casa Branca. Quando lhe pediram uma palavra final para os norte-americanos, Obama disse “Obrigado”.

Ao mesmo tempo e antes de seguir para a Casa Branca, o então Presidente eleito e a família participaram numa cimeira religiosa na Igreja Episcopal de Saint John em Washington.

Diana Palma Duarte, Luís Moreira - RTP

Deslocaram-se depois à Casa Branca para o tradicional chá com o casal presidencial cessante. Na última receção dos Obama na Casa Branca, Melania ofereceu um presente a Michelle. Os dois casais, bem como o vice-presidente e o seu sucessor, seguiram juntos para o Capitólio. Michelle Obama com Melania Trump, Joe Biden com Mike Pence, Barack Obama com Donald Trump.

Depois do juramento de Donald Trump, os dois casais despediram-se. Barack e Michele Obama não ficaram para o almoço da tomada de posse de Donald Trump. Entraram no helicóptero junto ao Capitólio e deixaram simbolicamente a capital dos Estados Unidos.

Barack Obama fez depois o seu primeiro discurso como ex-Presidente na Base de Andrews. Depois de oito anos na Casa Branca, o casal presidencial parte de férias para a Califórnia.

Em Washington fica Donald J. Trump, a comandar os destinos dos Estados Unidos, sob o olhar atento do mundo. Afinal, o magnata fez muitas promessas durante a campanha eleitoral e parece querer cumpri-las.

O agora Presidente prometeu construir um muro para impedir a imigração ilegal na fronteira com o México, garantindo que seriam os próprios mexicanos a pagar a obra. Prometeu uma verdadeira “revolução tributária” com uma baixa generalizada de impostos.

Gritou alto a sua intensão de apagar o legado de Barack Obama, revertendo as 25 ordens executivas assinadas pelo anterior Presidente, começando pelo Obamacare.

Na frente externa, Donald Trump defendeu uma reaproximação à Rússia, o endurecimento das relações com a China e prometeu reformular o papel dos Estados Unidos na NATO.

No combate ao terrorismo, Trump defende uma campanha forte para acabar com o extremismo islâmico, que passa por aumentar a vigilância da população muçulmana a viver no país.

O Presidente Donald Trump assinou já as primeiras medidas do seu mandato. Para além da validação das nomeações e da assinatura de uma dispensa que permita a James Mattis ser Secretário da Defesa, Trump decretou um Dia do Patriotismo.

Mas o verdadeiro início deverá acontecer na próxima segunda-feira, já depois das paradas, dos bailes e das congratulações. Por enquanto, a Europa apresenta-se receosa. Com as promessas, com os discursos, com as insinuações do novo Presidente dos Estados Unidos. Começa agora a era Trump.

Donald Trump tornou-se esta sexta-feira o 45.º Presidente dos Estados Unidos, sucedendo a Barack Obama na Casa Branca.

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