Afastamento de Dilma: "As cenas dos próximos capítulos não vão ser muito agradáveis".

por Rui Sá, João Fernando Ramos

Dilma Roussef foi destituída mas mantém todos os direitos políticos. Por outras palavras é condenada mas pode recandidatar-se à presidência em 2018.
"Podia ser um rebuçado, mas é mais um presente envenenado", diz João Pacheco de Miranda que lembra que para Brasil "as cenas dos próximos capítulos não vão ser muito agradáveis".

Dilma Roussef já não é presidente do Brasil. 61 senadores votaram pela destituição. Apenas 20 se pronunciaram pela inocência.

"Era uma queda anunciada, mas não é a queda de um anjo. É a queda de uma mulher com tiques autoritários que se mostrou sempre sem capacidade para o diálogo", afirma o antigo correspondente da RTP no Brasil que reconhece que em todo este processo houve "oportunismo político".

Dilma já reagiu e voltou a afirmar que não praticou nenhum ato que a lei não a autoriza-se e insistiu na teoria de Golpe de Estado.

Michel Temer tomou posse duas horas depois do afastamento da presidente.

"Temer é também um quadro negro que pode desde já acusado num processo que também pode levar à destituição (por eventual envolvimento num caso de corrupção)", afirma João Pacheco de Miranda que lembra que "60% dos atuais senadores e governantes estão envolvidos em casos de corrupção".

De referir que quem decidiu o afastamento a até agora presidente brasileira evocou que o fez contra a corrupção e o desemprego. "Dilma nunca foi suspeita de corrupção, apesar de estar politicamente ligada a diversas figuras que estão acusadas desse crime", explicou no Jornal 2 Pacheco de Miranda.

Nas ruas centenas de milhar de apoiantes de Dilma Roussef prometem não dar tréguas ao novo presidente. Temem a perde de direitos e o fim de muitas das políticas sociais do anterior governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores.

"Michel Temer assume a presidência com um grau de popularidade ínfimo. Praticamente ninguém no Brasil gosta do novo presidente", explica o especialista em política brasileira, que antevê que sem uma recuperação forte da economia ("que tem o maior retrocesso do PIB em todo o mundo") "pode mesmo não chegar ao fim do mandato".

Esta quarta feira os apoiantes de Dilma conseguem uma meia vitória. Forçaram a votação em separado da perda de direitos cívicos e políticos em consequência da destituição.

Não venceram na contagem dos votos, mas apenas 36 senadores votaram pela limitação desses direitos nos próximos oito anos. Era necessária uma maioria de 54 votos para a tornar efetiva. A consequência: Dilma Roussef perde a batalha, mas a guerra está longe de ter terminado. O Brasil vai a votos em 2018 para escolher novo presidente e ela pode ser candidata.
pub