Alemanha à procura de explicações para ataque de jovem em Munique

por Carlos Santos Neves - RTP
Agentes da polícia guardam a entrada para uma estação de metro perto do centro comercial Olympia, alvo do ataque Karl-Josef Hildenbrand - EPA

Munique viveu uma noite de verdadeiro estado de sítio depois do ataque num centro comercial da cidade que, na tarde de sexta-feira, causou as mortes de pelo menos nove pessoas e ferimentos a outras 27. A polícia chegou a acreditar que seriam três os suspeitos em fuga. Mas nas últimas horas começou a inclinar-se para a tese de um único atirador, já identificado como um germano-iraniano de 18 anos. O presumível autor dos disparos suicidou-se.

Ainda à procura de respostas. Foi assim que Munique acordou. Para trás fica uma noite de ruas sem civis, dominadas pelos uivos das sirenes e pelo pesado dispositivo policial que desfigurou uma das cidades mais cosmopolitas da Europa – a terceira maior malha urbana da Alemanha, com 1,5 milhões de habitantes.

Durante largas horas, depois do ataque que começou pelas 17h52 (16h52 em Lisboa) diante de um restaurante McDonald’s e passou depois para um centro comercial vizinho, todos os transportes públicos estiveram parados. Três dos 27 feridos estão nesta altura entre a vida e a morte, segundo Hubertus Andrä, chefe da polícia de Munique. Os disparos atingiram crianças e “pessoas jovens”.


Helicópteros da polícia sobrevoaram incessantemente os céus sobre a zona norte da cidade, onde se situa o estádio olímpico – o mesmo complexo onde, nos Jogos Olímpicos de 1972, um comando palestiniano sequestrou e matou 11 atletas israelitas.

As autoridades ainda não aventaram qualquer posição sobre as motivações do homem que disparou para matar e que, pelas 20h30 locais, acabou por tomar a própria vida. Os investigadores identificaram-no, entretanto, como “um germano-iraniano de 18 anos” residente em Munique. E sem cadastro.

Foi também descartada a tese de que haveria três atiradores em fuga, um cenário que aterrorizou a cidade bávara.

Ao início da noite, a polícia alemã falava de uma “situação terrorista”. Ao mesmo tempo, sublinhava que não dispunha ainda de elementos que lhe permitissem concluir tratar-se de “um atentado islamita”.
“Pistas contraditórias”

Em comunicado, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, admitiu que “não estão ainda completamente clarificados os motivos para este ato aberrante”. As pistas das autoridades, acrescentou o governante, são “contraditórias”.

A autoria do ataque não teve uma reivindicação direta, mas declarados apoiantes do Estado Islâmico aplaudiram-no, ao escrever, nas redes sociais, que o raio de alcance da organização “está a expandir-se na Europa”.
A coberto do anonimato, fontes dos serviços de informações dos Estados Unidos, citadas pela Reuters, adiantaram não existir qualquer laço aparente entre o atirador e o Daesh ou quaisquer outros grupos extremistas.

Exatamente uma semana antes deste tiroteio, um ataque perpetrado por um jovem afegão de 17 anos num comboio em Würzburg, também na Baviera, feriu quatro turistas de Hong Kong. Um transeunte seria também ferido já durante a fuga do atacante, armado com um machado. A polícia abateu-o. Neste caso, houve reivindicação por parte do Estado Islâmico, a primeira em solo alemão.

Ainda na quarta-feira o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, advertia os concidadãos para o facto de o seu país estar “na mira do terrorismo internacional”.
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