Alemanha e Turquia pedem ajuda à NATO para monitorizar fluxo de migrantes

por Andreia Martins - RTP
Merkel e Davutoglu abandonam a conferência de imprensa conjunta, durante a visita oficial da chanceler alemã a Ancara. Umit Bektas - Reuters

A Alemanha e a Turquia preparam-se para pedir o apoio formal da Aliança Atlântica na gestão de crise de refugiados. O pedido de ajuda acontece num dia em que houve registo de mais naufrágios no Mar Egeu, onde morreram pelo menos 27 pessoas, incluindo 11 crianças. Às portas da Ancara continua um acampamento de pelo menos 30 mil refugiados que fogem ao crescendo de bombardeamentos na cidade de Alepo.

O anúncio foi feito esta segunda-feira pelo primeiro-ministro turco e comunica uma posição conjunta de Berlim e Ancara para uma solução na gestão da crise de refugiados.

Ao lado de Angela Merkel, que se deslocou hoje à Turquia para acelerar a aplicação de um plano de intervenção conjunto, Ahmet Davutoglu pediu apoio à Aliança do Atlântico Norte “no controlo e monitorização” dos fluxos de migração na fronteira turca e no Mar Egeu. “Não podem esperar que a Turquia enfrente esta crise sozinha”, enfatizou o representante turco.
Ana Rita Freitas, Nuno Castro - RTP

Sem avançar com mais pormenores de como poderia concretizar-se este novo apoio direto, ficou o apelo conjunto à organização liderada por Jens Stoltenberg, e da qual os dois países fazem parte. Em termos geográficos, a Turquia é o estado-membro da Aliança Atlântica que se situa mais a leste

Do outro lado do Atlântico, uma resposta breve e positiva, mas ainda sem compromissos, daquela que é a maior potência que integra a NATO. Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, disse que quer discutir com os restantes aliados a melhor forma de enfrentar a crise de refugiados que assola a Europa. 
Rússia "violou" resolução da ONU
O pedido conjunto assumido por Merkel e Davutoğlu acontece a dois dias do início de uma conferência de ministros da Defesa dos membros da NATO, que deverá decorrer em Bruxelas entre 10 e 11 de fevereiro.
 
“Vamos aproveitar o próximo encontro de ministros da Defesa para discutir a situação da Síria e tentar perceber até que ponto a NATO pode ajudar na monitorização”, revelou a chanceler alemã, que se confessou “chocada” e "horrorizada" com os bombardeamentos na cidade síria da Alepo.

Angela Merkel responsabilizou diretamente o homólogo russo pela violação de uma resolução do Conselho das Nações Unidas, que Moscovo também integra. Segundo a versão defendida por Berlim, os recentes bombardeamentos na cidade de Alepo constituem o claro desrespeito por uma resolução das Nações Unidas que proibia qualquer ataque à população civil.

Para já, a prioridade dos dois líderes no pedido deixado à Aliança é a ajuda imediata para travar o trabalho dos traficantes junto ao mar Egeu, que continuam a enviar os migrantes para a rota da morte até à Grécia.
Só esta segunda-feira, morreram pelo menos 27 pessoas, incluindo 11 crianças, num novo naufrágio ao largo de Edremit, uma localidade turca de onde a embarcação partia com destino à ilha grega de Lesbos.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações, mais de 68 mil migrantes conseguiram chegar à Grécia pela rota do Egeu, desde o início de 2016. No mesmo período de tempo, morreram pelo menos 284 pessoas na viagem rumo à Europa.
  30 mil à espera
Pressionada a estancar este fluxo marítimo que chega através da Grécia, a Turquia é também pressionada a abrir portas aos mais de 45 mil refugiados vindos sobretudo de Alepo, à espera de conseguir fugir do país em guerra desde março de 2011.

Na mesma conferência de imprensa desta segunda-feira, o primeiro-ministro turco ressalvou que o seu país já acolheu “mais de 2,7 milhões de refugiados, mas está disposto a acolher mais “caso seja necessário”.
  As relações entre Alemanha e Rússia arrefeceu nos últimos dias. Em causa está um caso de violação de uma menina russa de 13 anos, residente em Berlim, por um grupo de supostos refugiados. Moscovo acusa as autoridades alemãs de encobrirem o caso.
O apelo à participação da NATO na ajuda ao controlo e vigilância da crise migratória acontece num momento de tensão entre a Rússia, Turquia e Alemanha. Entre as autoridades turcas, Vladimir Putin é apontado como principal responsável pelo êxodo humano que chega de Alepo, e que se intensificou ao longo dos últimos dias com o incremento dos bombardeamentos.

Desde outubro do ano passado que Moscovo participa ativamente no combate ao Estado Islâmico, mas são constantes as denúncias a uma intervenção militar que muitos veem como uma ajuda direta ao regime de Bashar al-Assad na reconquista de território aos rebeldes.
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