António Guterres aponta o dedo à Europa e pede resposta coerente para refugiados

por RTP
Muhammad Hamed , Reuters

O alto comissário das Nações Unidas para os refugiados defendeu esta quarta-feira que a “crise dos migrantes” requer uma resposta coerente e que só a Europa, com base na solidariedade, a pode fornecer. Em entrevista à cadeia americana CNN, o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR) abordou a situação crítica que se está a viver com o fluxo de pessoas que atravessa o Mediterrâneo, classificando o sistema de asilo europeu de disfuncional. António Guterres falou ainda sobre a imagem de uma criança morta que faz as páginas dos jornais de todo o mundo.

“Eu reagi com uma terrível frustração”, disse António Guterres quando questionado pela jornalista da estação de televisão norte-americana sobre o que sentiu quando viu a imagem dessa criança morta que deu à costa numa praia da Turquia. "Não é com bloqueios que se resolve a situação."

O ACNUR sublinhou que há muito tempo que se anda a falar nas questões legais que envolvem a mobilidade e a livre circulação de pessoas.

"Precisamos de avenidas [ligações] legais para ir para a Europa, para ir para o golfo, onde eu estou agora, e para outros locais de forma a permitir que haja mais reinstalações, mais oportunidades de admissão [de refugiados por motivos] humanitários, reforçar os programas de unificação justos e flexibilizar as políticas de vistos", disse na entrevista à CNN.

"Estas pessoas são forçadas a ir de barco, pagam 4.000 ou 5.000 euros, e morrem nestas circunstâncias desesperadas. Isto não faz sentido", afirmou.

Guterres lamentou a situação que está a ser vivida por estas pessoas e deixou uma acusação às autoridades da Hungria, por não terem ainda autorizado a entrada das Nações Unidas no país.

Face à emergência vivida pelos refugiados estacionados na Hungria, Guterres lembrou que a organização "está ainda à espera de autorização para levar a ajuda ao terreno".Resposta coletiva da Europa
António Guterres disse que a atual crise dos migrantes requer uma resposta coerente: "Precisamos de dar uma resposta coerente a esta situação e, na minha opinião, apenas a Europa como um todo, baseada na solidariedade, pode dar essa resposta. Nenhum país isolado o vai conseguir fazer". "O sistema de asilo [europeu] é disfuncional desde o início."

A 26 de agosto, António Guterres tinha em conjunto com o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, apelado à criação urgente de centros de acolhimento e de triagem face ao fluxo de migrantes e refugiados na Europa.

Desde o início do ano, 293.000 migrantes e refugiados tentaram chegar à Europa através do Mediterrâneo e 2.440 faleceram durante o percurso, segundo os números anunciados no final de agosto por Guterres.

"Temos de acelerar e intensificar as decisões tomadas pelo Conselho Europeu relativo à Agenda para as Migrações. Há questões essenciais como a receção, o registo, os 'hotspots' [centros de acolhimento e de triagem], a relocalização e a reinstalação", disse então Guterres depois de uma reunião com o governante francês em Genebra, de acordo com a agência de notícias francesa.

(c/ Lusa)
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