Ban Ki-moon refere-se a ataques palestinianos como naturais face à ocupação israelita

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Jim Hollander - Reuters

A expansão da ocupação israelita nos territórios palestinianos da Cisjordânia foi esta quarta-feira alvo de críticas pouco usuais da embaixadora norte-americana para as Nações Unidas. “Opomo-nos fortemente” a estas decisões, afirmou Samantha Power. No entanto, terão sido as declarações do secretário-geral Ban Ki-moon que mais irritaram Telavive. Face aos recentes ataques contra cidadãos israelitas, Ban Ki-moon disse que “faz parte da natureza humana” reagir à ocupação. O PM israelita acusou o chefe da ONU de estar a incentivar a violência contra Israel.

Um dia depois de a ONU ter criticado Israel pela continuação da política de ocupação dos territórios da Cisjordânia, Telavive respondeu à assembleia com o lançamento de novos 150 colonatos na Cisjordânia na sequência do confisco de uma larga área de cultivo agrícola próximo de Jericó.

As conversas desta semana na sede da ONU em Nova Iorque acerca da situação na região versaram o dossier das ocupações, o recrudescer da violência entre israelitas e palestinianos e o beco sem saída em que se encontra o processo de paz. “Como mostra a história dos povos oprimidos, faz parte da natureza humana reagir à ocupação [dos seus territórios]”.

“As partes têm a obrigação e a responsabilidade de trabalhar para um mútuo entendimento, evitando decisões unilaterais que possam interferir com o diálogo”, alertou o ministro uruguaio dos Negócios Estrangeiros, Rodolfo Nin Novoa, que foi convidado para o grupo de discussão.

Seria, no entanto, o próprio secretário-geral Ban Ki-moon a tocar no nervo israelita ao abordar a questão dos ataques palestinianos como uma reacção natural de um povo que está a viver sob ocupação.

Intervindo no debate do Conselho de Segurança sobre o Médio Oriente, Ban Ki-moon condenou o disparo de rockets por militantes palestinianos a partir da Faixa de Gaza, mas acrescentou depois que, “como mostra a história dos povos oprimidos, faz parte da natureza humana reagir à ocupação [dos seus territórios]”.

Nesse sentido, o chefe da ONU instou ambas as partes a “evitarem que a solução de dois Estados seja colocada em causa de forma definitiva”. Para isso, pediu, Telavive deve colocar um ponto final à instalação de novos colonatos, que são "uma afronta ao povo palestiniano e à comunidade internacional”.
Ban Ki-moon justificou ataques palestinianos

As reacções sucederam-se em Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusou o secretário-geral de estar a justificar “ataques terroristas”.

“Os comentários do secretário-geral servem de justificação aos ataques terroristas. E não há justificação para o terror”, lamentou Netanyahu.

“Os assassinos palestinianos não visam construir um país - eles querem destruir um país e dizem-no abertamente. Eles querem matar judeus onde quer que estejam e dizem-no abertamente. Não matam pela paz ou pelos Direitos Humanos”, atirou o chefe do governo israelita, para acusar a ONU de ter perdido “a sua neutralidade e poder moral”.
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