Bernard Cazeneuve é o novo primeiro-ministro francês

por Carlos Santos Neves - RTP
Bernard Cazeneuve era até agora o titular da pasta do Interior no Governo francês Vincent Kessler - Reuters

Está designado o novo primeiro-ministro francês, depois de Manuel Valls ter oficializado a sua candidatura às eleições presidenciais do próximo ano. O escolhido é Bernard Cazeneuve, até agora ministro do Interior no Executivo socialista.

A nomeação do substituto de Manuel Valls foi confirmada na manhã desta terça-feira a partir do Palácio do Eliseu.
“Nomeei Bernard Cazeneuve primeiro-ministro e encarreguei-o de formar o novo governo”, pode ler-se num tweet de François Hollande.

Aos 53 anos, Bernard Cazeneuve troca o Ministério do Interior pelo Matignon. Tarefa que lhe é confiada para os derradeiros cinco meses da Presidência de Hollande.

Coube em larga medida a Cazeneuve - político bem menos exuberante do que o antecessor na chefia do Governo, mas com um consolidado capital de influência junto do Presidente - enfrentar os sucessivos atentados de matriz islamita desencadeados em solo francês a partir de janeiro de 2015, quando ocorreu o morticínio na redação do jornal satírico Charlie Hebdo, seguido da tomada de reféns no supermercado Hyper Cacher.Bernard Cazeneuve esteve 36 meses à frente do Ministério do Interior. Nos últimos dois anos, morreram 238 pessoas em atentados contra alvos franceses.

Foi também sobre o Ministério de Bernard Cazeneuve que recaiu a resposta aos atentados de 13 de novembro de 2015 em Paris e em Saint-Denis, ao ataque de 14 de julho deste ano em Nice e à execução de um padre na igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, a 26 de julho.

Nice valeu ao agora primeiro-ministro a maior barragem de críticas por parte da oposição francesa, que pôs em causa a estratégia de prevenção de ações terroristas como aquela que varreu a Promenade des Anglais.

Além da implementação do estado de emergência em França, a vigorar desde novembro de 2015, a gestão da crise dos migrantes e as manifestações da última primavera contra a lei do trabalho foram outros dossiers complexos nas mãos de Cazeneuve.
“Cazeneuve, o discreto”
“O discreto” é o epíteto que Le Monde reserva ao novo primeiro-ministro. A edição online do jornal francês assinalava esta terça-feira o facto de Bernard Cazeneuve nunca se ter oposto em público “a uma decisão do Executivo”.

“Mesmo se, em privado, não tenha escondido as suas reticências contra a proposta de perda de nacionalidade [a aplicar a indivíduos conotados com atividades terroristas] e se tenha oposto a Manuel Valls sobre o princípio de proibir uma concentração contra a lei do trabalho em julho”, escreve a mesma publicação.Manuel Valls oficializou na segunda-feira a candidatura à Presidência. Terá de passar pela eleição primária do PSF no final de janeiro.

A recente publicação, no controverso livro Un président ne devrait pas dire ça, de conversas entre o Presidente e outras altas figuras políticas foi também combustível de irritação para o então ministro do Interior.

Nas últimas semanas, Cazeneuve manteve um prudente distanciamento público face às movimentações de Valls junto de Hollande, que antecederam o passo atrás do segundo para que o primeiro avançasse com a candidatura às presidenciais de abril-maio de 2017.

Bruno Le Roux, até agora líder parlamentar dos socialistas franceses, vai assumir a pasta do Interior. Uma nomeação vista como uma recompensa pela fidelidade ao Presidente da República, como explicou em direto para a RTP3 a correspondente da estação pública em Paris, Rosário Salgueiro.

A totalidade dos nomes do próximo executivo deve ficar fechada nas próximas horas.

“O objetivo”, adianta fonte próxima de François Hollande, citada pela France Presse, “é ter um dispositivo operacional rapidamente, eficaz, com uma forte coesão e coerência, o que pode conduzir a muito poucas mudanças na composição do governo”.

Tópicos
pub