Búlgara Kristalina Georgieva candidata a secretária-geral da ONU

por Paulo Alexandre Amaral, Carlos Santos Neves - RTP
“Consideramos que esta será uma nomeação mais bem-sucedida”, afirmou o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov, durante uma reunião do seu Executivo Brendan McDermid - Reuters

Num volte-face a contrariar o ascendente de António Guterres na corrida à sucessão de Ban Ki-moon, o Governo búlgaro nomeou esta quarta-feira Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia com o portefólio do orçamento, como candidata a secretária-geral das Nações Unidas. Rende Irina Bokova. Por agora, o antigo primeiro-ministro português não comenta.

Este braço-de-ferro por Kristalina Georgieva não é de agora. Há uma semana já a própria vice-presidente da Comissão Europeia admitia ter sido encorajada a avançar com a sua candidatura: “Sinto-me muito honrada por verificar que numerosas pessoas me estão a encorajar para ser candidata”."No comments" - foi esta a resposta de António Guterres aos jornalistas, quando questionado sobre o advento da nova candidata búlgara.

O ex-alto comissário da ONU para os Refugiados esteve esta quarta-feira numa homenagem a Maria Barroso no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.


Um dos apoios era nas primeiras horas a chanceler alemã, Angela Merkel, mas Georgieva entendia que não podia avançar sem o beneplácito de Sófia. “Como búlgara, direi que é uma decisão a tomar pelo governo do meu país”, assinalava a economista de 63 anos, que agora avança definitivamente a convite do Governo de centro-direita.

Georgieva substitui Irina Bukova, candidata que tinha sido avançada pelos socialistas búlgaros.

Bukova, diretora-geral da UNESCO, era uma grande esperança dos países de Leste, mas não chegou a passar do quinto lugar no processo de votações preliminares que pareciam alcandorar António Guterres como sucessor de Ban Ki-moon, face ao pleno de preferências do português nessas cinco votações.

A Rússia, um dos cinco países que dispõem de direito de veto no Conselho de Segurança, nunca escondeu a sua preferência por um candidato da Europa de Leste e vinha sendo um apoiante de Irina Bukova desde a primeira hora.

Mas não só, também a China seria um dos principais apoios de Bokova, de acordo com o South China Morning Post, jornal de Hong Kong que ouviu vários analistas chineses.

Ainda na terça-feira Bukova reagia com indignação à possibilidade de ser substituída na corrida à ONU: “Isso não acontece a nenhum candidato em nenhum outro país. Se fosse apresentada uma segunda candidatura búlgara, isso seria um grave erro político. Ia enfraquecer não apenas as minhas hipóteses, mas também as hipóteses do outro candidato”.
“É uma candidatura de sucesso”
Mas o Governo búlgaro já tinha traçado o destino de Bukova ao condicionar a continuação do seu apoio a um primeiro ou segundo lugar na votação desta segunda-feira. Face a nova deceção, deu corpo às especulações e avançou definitivamente com Kristalina Georgieva, esta manhã apresentada pelo primeiro-ministro Boiko Borissov.

“Nós acreditamos que é uma candidatura de sucesso”, anunciou Borissov aos jornalistas em Sófia, no que é uma resposta aos anseios de dois grupos vitais nesta eleição: o bloco de Leste e o lobby que está a forçar o avanço de uma mulher para a liderança pela primeira vez dos destinos das Nações Unidas. Oito homens ocuparam o cargo desde 1945, ano em que nasceu a organização.

Jean Krasno, que lidera a campanha, disse acreditar – apesar destas cinco votações – ser ainda possível colocar uma mulher no lugar de Ban Ki-moon: “Tem sido uma desilusão desde o início, mas não estamos desencorajados. Nas últimas rondas tem havido muita volatilidade e não sabemos como estão a votar os membros permanentes”.
“A tempo”
Entretanto, há já uma reação do ministro dos Negócios Estrangeiros ao anúncio do Executivo búlgaro. Augusto Santos Silva assegura que é com serenidade que vê a entrada de Kristalina Georgieva neste escrutínio.

O MNE aproveita no entanto para sublinhar o valor da candidatura de António Guterres, apresentada pelo Governo português “a tempo” e de forma “transparente”.

“Apresentámos a candidatura do engenheiro António Guterres no fim do mês de fevereiro. Fizemo-lo a tempo, com toda a transparência e de forma que António Guterres fosse sujeito a todas as provas e passos que o processo de seleção a secretário-geral das Nações Unidas hoje exige”, não deixou de sublinhar Santos Silva numa declaração registada pela Lusa.

António Guterres, apesar de cinco vitórias inequívocas nas votações que tiveram lugar até agora, vê assim ameaçado o seu caminho para secretário-geral das Nações Unidas.

Aconteça o que acontecer, o nome do sucessor de Ban Ki-moon vai ser anunciado no próximo mês. A próxima votação está marcada para 5 de outubro e é vista como a mais importante. É a primeira vez que os membros permanentes do Conselho de Segurança poderão exercer o seu direito de veto sobre qualquer dos candidatos.

c/ agências
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