Caetano e Gilberto tocaram em Telavive apesar de apelos ao boicote

por RTP
Torben Christensen, Reuters

Quando passa um ano da operação das Forças Armadas israelitas - que fez mais de um milhar de vítimas civis na Faixa de Gaza – os cantores brasileiros Gilberto Gil e Caetano Veloso recusaram os pedidos de várias organizações internacionais e levaram por diante o concerto em Telavive. Roger Waters, que lhes havia pedido para aderirem à campanha BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) acusou-os de estarem mais preocupados com a conta bancária do que com as condições de vida dos palestinianos.

Nos últimos meses intensificaram-se os pedidos para que aqueles que são duas das estrelas cimeiras da música brasileira cancelassem o concerto marcado para esta última terça-feira na capital israelita.

Há pouco mais de dois meses, a cantora norte-americana Lauryn Hill acabou por cancelar um concerto em Telavive após uma intensa campanha dos activistas pró-Palestina de todo o mundo.
Roger Waters, Elvis Costello, Gil Scott-Heron, Talib Kweli e Sinead O’Connor são alguns do músicos que se recusam a tocar em Israel.
Uma das razões invocadas no pedido lançado a Gilberto Gil e Caetano Veloso para que não se deslocassem a Israel está desde logo relacionada com a data do espectáculo, que coincide com o primeiro aniversário da operação levada a cabo por terra, ar e mar contra a Faixa de Gaza.

Feitas as contas, os bombardeamentos do verão passado – muito aplaudidos pela generalidade da população israelita – fizeram entre Julho e Agosto 2200 mortos, a grande maioria mulheres, jovens e bebés (do lado israelita morreram 73 pessoas, quase todos militares).

Estas razões não foram contudo tidas em conta pelos dois cantores brasileiros, que quiseram desde a primeira hora separar a música da política.

Caetano Veloso foi mais longe ao explicar, depois de uma visita à aldeia ocupada de Susya, nas montanhas palestinianas da Cisjordânia, que “a situação é difícil demais” mas ele é “apenas um visitante” que foi a Israel para cantar.

Noutro ponto da visita em que se reuniram com o ex-Presidente israelita Shimon Peres para um encontro com crianças judias e palestinianas, Caetano já havia explicado que nem ele nem Gilberto Gil consideraram, “nem por um momento, cancelar o show em Israel. Nós amamos Israel e estamos contentes de nos apresentarmos em um lugar onde há esperança de paz".
Desmond Tutu juntou-se a Roger Waters

Rogers Waters, o fundador dos Pink Floyd, mantém uma forte actividade junto dos grupos de boicote a Israel. Foi um dos subscritores desse pedido feito a Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ao músico britânico juntou-se entretanto outro nome de peso: o cardeal sul-africano Desmond Tutu, um Prémio Nobel da Paz.Caetano Celoso: “A situação é difícil demais [mas eu sou] apenas um visitante” que veio para cantar.

Assinalando a admiração pelo trabalho de Caetano e Gil e pelo seu “compromisso histórico com a luta pela justiça, a liberdade e a igualdade”, Roger Waters e Desmond Tutu assinalavam também eles que “o mês de julho marca um ano do aniversário dos ataques israelitas contra Gaza, durante o qual Israel matou mais de 2 mil palestinianos, incluindo 500 crianças”.

“Mais de 100 mil pessoas continuam sem lar devido a estes ataques”, sublinhava a carta do movimento BDS divulgada nas redes sociais.
“Apenas um visitante”

Ontem à noite, terça-feira, Gilberto Gil e Caetano Veloso acabaram por cantar para oito mil pessoas no Estádio Menorah Arena. Foi um concerto que, de acordo com o site da Gobo esteve desde o princípio ao fim rodeado por um constrangimento que quase impediu os dois cantores de interagir com o público: “Não fizeram praticamente nenhum comentário”, refere o site brasileiro.

Numa conferência de imprensa que antecedeu o espectáculo na capital israelita já se pressentia esse pouco à-vontade. Após a visita à aldeia de Susya, que se encontra controlada por Israel, Caetano explicou: “Decidimos não cancelar o show porque preferimos falar, dialogar e também porque queríamos aprender mais. Estive em Israel várias vezes e sempre amei este lugar. Mas sei que a situação é difícil e dura”.

“Ontem fui a Susya e voltei querendo dizer: é preciso parar a ocupação, é preciso parar a segregação. Quase chorei quando fomos a Susya porque o que ouvi de um ex-soldado [israelita] e de um palestiniano que vive ao sul de Hebron é duro demais”, acrescentou o músico brasileiro, numa citação recolhida pelo site da Globo.

“A situação é difícil demais [mas eu sou] apenas um visitante” que veio para cantar, procurou explicar.
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