Campanha contra o Brexit pode sair cara a David Cameron

por Andreia Martins - RTP
David Cameron, o primeiro-ministro britânico, ao lado de George Osborne, o seu 'vice' no Governo, numa sessão de esclarecimento sobre a permanência na UE. Reuters

Uma sondagem do YouGov revela esta quarta-feira que a percentagem de voto pela permanência do Reino Unido na União Europeia está em queda e regista atualmente um empate técnico com os apoiantes que votam pelo Brexit. Dentro do próprio Partido Conservador, a campanha vai aquecendo os ânimos e os próprios deputados tories podem estar a planear uma moção de censura ao primeiro-ministro.

A menos de um mês do referendo, o caminho para a permanência na UE parece cada vez mais atribulado. As mais recentes sondagens evidenciam a incerteza e divisão entre os britânicos quanto à saída do Reino Unido da União Europeia. 

Com 41 por cento a apoiar e outros 41 por cento a recusar um futuro Brexit, 13 por cento dos inquiridos pelo YouGov, numa recolha divulgada esta quarta-feira pelo The Times, dizem-se indecisos. Em relação às sondagens de há uma semana, os números hoje conhecidos diferem sobretudo no voto a favor da permanência na UE: houve um decréscimo de três por cento nos apoiantes do “sim” a Bruxelas. O referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia realiza-se no próximo dia 23 de junho. Os dados desta sondagem do YouGov foram recolhidos entre 23 e 24 de maio.

O resultado não é mais agradável para David Cameron. Segundo a mesma sondagem, apenas 18 por cento diz “confiar” no primeiro-ministro na questão europeia, uma descida de dois por cento em relação aos números de março. 

Mais assustador para o líder do Governo inglês é um outro resultado: Boris Johnson, antigo mayor de Londres e principal apoiante da saída do Reino Unido do bloco europeu, conta com o voto de confiança de 31 por cento, números que lhe concedem um estatuto de fiabilidade no que ao futuro da Grã-Bretanha dentro da Europa diz respeito. 
Cameron em campanha
Precisamente um ano depois de alcançar novo mandato à frente dos destinos da Grã-Bretanha, a questão europeia poderá acabar por sair bem cara ao primeiro-ministro britânico. É que David Cameron tem-se desdobrado em declarações favoráveis à Europa, acusado por muitos adversários (e não adversários) de recorrer ao discurso “do medo” e da catástrofe, em caso de saída do bloco de 28 países da UE.

Basta olhar para o Twitter especialmente ativo de David Cameron nos últimos dias. Na terça-feira, num evento da companhia aérea britânica EasyJet, na cidade de Luton, o chefe de Governo dedicou o seu discurso a defender solenemente a permanência do Reino Unido. 

Considerou que o referendo de junho assume proporções ainda mais importantes e permanentes que as de uma eleição geral e voltou a dizer que “é mais seguro” permanecer na União Europeia.

Segundo a argumentação de Cameron, a luta contra o terrorismo e o acesso “ao maior mercado único do mundo” são pontos a ter em conta, bem como a valorização da moeda. Deu exemplos de outras organizações que o Reino Unido integra e que, tal como a pertença à UE, lhe trazem os devidos benefícios, nomeadamente a NATO, o G20 ou a própria Commonwealth.

Nem tudo são libras e mercado. O primeiro-ministro fez questão de lembrar que uns simples dias de férias podem tornar-se muito mais caros e uma grande dor de cabeça para os britânicos, que passariam a enfrentar “todo o tipo de burocracias e restrições que hoje não encontram”.

Lembrou ainda a extinção gradual das tarifas de roaming que a União Europeia encetou nos últimos meses e tem intenção de eliminar de forma gradual. “É uma das coisas mais chatas. Estás de férias, usas o telemóvel e já sabes que podes contar com uma conta enorme ao fim do mês”, lamentou o primeiro-ministro britânico.
Frustrações entre os tories
Esta atitude mais interventiva de David Cameron está a retirar-lhe influência entre os representantes do partido que o próprio lidera. É que vários tories, incluindo Boris Johnson, podem estar a preparar uma moção de censura ao primeiro-ministro, segundo apurou o Daily Mail. 

Segundo o jornal britânico “dezenas de Tories”, incluindo figuras séniores do partido, estão a ameaçar levar o seu primeiro-ministro e líder partidário a votação pelo parlamento, frustrados com a sua conduta face à votação de junho.

Em concreto, os membros do parlamento contactados planeiam pedir a David Cameron que aponte “uma data concreta” para se demitir, o que por si só não garante que a votação no Palácio de Westminster não aconteça, já depois do referendo. 

Para dar avanço à moção de censura, desde o interior do partido a uma votação geral, o projeto precisa de contar com o apoio de 50 membros do parlamento. 

A polémica que rodeia Downing Street diz sobretudo respeito a um dossier, preparado por altos representantes do Governo, que avisa que uma eventual saída do Reino Unido levaroa à perda de mais de 820 mil empregos, a subida de preços das habitações e a recessão sem precedentes na economia britânica.
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