"Cão louco" mais parece o nome do chefe de uma tribo ameríndia. Mas chefes desses já há poucos e nunca um deles iria chefiar o Pentágono. O general que Trump quer pôr à frente das Forças Armadas mais poderosas do mundo ganhou a alcunha pela sua personalidade excêntrica.
Mattis tem-se notabilizado pelas suas tiradas incendiárias. Uma delas foi a que sustentava ter "piada" matar afegãos que oprimem as mulheres, recolhida durante uma conversa com militares de San Diego, também em 2004, e agora reproduzida no site bnritânico The Independent.
A citação
Na verdade, tem muita piada combatê-los (...) Tem piada abater algumas pessoas (...) Vamos para o Afeganistão, há lá tipos que andam há cinco anos a espancar as mulheres porque não usam véu. Sabem, tipos assim de qualquer modo já não têm qualquer resto de virilidade. Por isso, tem montes de piada abatê-los".
Na altura, as declarações causaram escândalo e Mattis sofreu consequências disciplinares por esse rompante politicamente incorrecto. De qualquer modo, a sua carreira parecia aproximar-se do fim. Mas agora, no sábado, no âmbito das sondagens que vem fazendo para a sua equipa de topo, Donald Trump reuniu-se com ele e manifestou uma mal disfarçada preferência por ele para a pasta da Defesa.
Por outro lado, Mattis emite frequentes juízos sobre a política externa norte-americana, em especial no Médio Oriente. Não fez segredo, por exemplo, da sua hostilidade ao acordo assinado com o Irão, para controlo da proliferação das armas nucleares. Em todo o caso, esse questionamento não constitui opinião solitária e, portanto, não causou assinalável perturbação política.
Muito mais heterodoxa, e especialmente preocupante para o establishment político israelita, são as opiniões críticas que tem emitido sobre os colonatos. Segundo citação do diário israelita Haaretz, Mattis chamou a atenção para o facto de a disseminação dos colonatos ir converter Israel, inevitavelmente num regime de apartheid.
As declarações de Mattis são elucidativas. Numa, afirma: "Se eu estiver em Jerusalém e puser ali 500 colonos judeus na parte Leste, e se aí houver 10.000 moradores árabes, se traçarmos a fronteira de modo a incluí-los, ou isto deixa de ser um Estado judeu, ou então diz que os árabes não têm direito de voto - apartheid".
Além disso, Mattis tem afirmado que os EUA pagam um preço político pelo seu apoio incondicional a Israel e invoca a sua própria experiência: "Eu paguei um preço de segurança militar em cada dia que comandei o CentCom, porque os americanos eram vistos como parciais a favor de Israel, e isso moderava os árabes moderados que querem estar connosco, porque eles não podem aparecer publicamente a apoiar pessoas que não respeitam os árabes palestinianos".
Também o diário israelita Jerusalem Post manifesta apreensão perante a escolha considerada mais provável de Trump para a pasta da Defesa, chamando a atenção para a inconsistência entre as declarações de Mattis e o que têm sido linhas de orientação anunciadas para a política externa da nova Administração.
Assim, ao contrário de Trump, que tem mostrado abertura a uma colaboração com o Governo sírio, Mattis não hesita em classificar Bashar al-Assad como "assassino". Ao contrário de Trump, que tem mostrado verdadeiro fascínio pela governação de Putin, Mattis afirma que a Rússia é um Estado "predador".
Aquele diário israelita sublinha a sua apreensão citando a frase atribuída a Mattis como lição de vida: "Sejam educados, sejam convencionais, mas estejam preparados para matar toda a gente que encontram".