China anuncia redução de 300.000 efetivos militares

por Graça Andrade Ramos - RTP
A parada militar chinesa dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial no dia seguinte à rendição japonesa, fi grandiosa e planeada ao pormenor Damir Sagoji - Reuters

O anúncio foi feito pelo Presidente chinês, Xi Jinping, minutos antes de uma enorme parada militar das Forças de Libertação do Povo, destinada a comemorar o fim da Segunda Grande Guerra, há 70 anos.

Os cortes anunciados são os mais significativos desde 1997, quando Pequim cortou meio milhão de efetivos ao seu pessoal militar.

Ao mesmo tempo que anunciou a redução, Jinping falou de paz.

"Anuncio que a China vai reduzir o pessoal militar em 300.000 efetivos", afirmou a partir de uma plataforma erguida sobre a Praça Tiananmen, depois de afirmar que os militares estão "lealmente comprometidos com os seu dever sagrado de defender a pátria mãe e o modo de vida pacífico do povo, e lealmente comprometidos com o dever sagrado de salvaguardar a paz mundial".

"Hoje, a paz e o desenvolvimento tornaram-se a grande tendência, mas o mundo está longe de ser um lugar tranquilo", referiu Jinping no seu discurso. "A guerra é a espada de Dâmocles ainda suspensa sobre a humanidade. Devemos aprender com as lições da história e dedicar-nos à paz", afirmou.
Demonstração de poder
O discurso de Jinping terá pretendido sossegar Governos vizinhos, alarmados com o crescente poderio militar chinês, que tem estado aparentemente a testar os músculos em territórios e águas internacionais, como ilhas disputadas com o Japão ou no Mar de Bering.

A maioria dos analistas prefere fazer notar a coincidência do anúncio da redução com a demonstração de todo o poderio de Pequim em efetivos e armamento, durante a parada de hoje.

Xi Jinping, considerado muito próximo dos militares, planeou a exibição desta quinta-feira ao pormenor.

O Presidente chinês Xi Jinping na chegada à Parada Militar que comemorou em Pequim os 70 anos do fim da segunda Grande Guerra Foto: Reuters

Não só na grandiosidade e sincronização do desfile mas também pelo controlo da internet, que acompanhou todos os blogs e comentários nas redes sociais, retirando de circulação os mais críticos ou satíricos.

Internautas que utilizam circuitos para contornar o bloqueio chinês ao acesso a redes internacionais de internet esbarraram também em novas dificuldades.

O presidente quis que tudo corresse sem o menor problema e mandou as fábricas de Pequim suspenderem a produção vários dias antes do desfile, de forma a diminuir o tradicional smog que atualmente envolve a capital chinesa de forma permanente. A parada decorreu sob céus azuis límpidos.
Festejos da rendição do Japão
Jinping pretendeu ainda legitimar a posição internacional da China, convidando para os festejos o maior número possível de líderes mundiais.

Teve um sucesso limitado, talvez por Pequim insistir em atribuir ao Exército de Libertação do Povo o papel principal na derrota do poderio nipónico no fim da Segunda Grande Guerra, uma versão contestada por vários historiadores ocidentais.

O Japão é o maior rival da China na Ásia e é um poderoso aliado dos Estados Unidos da América.

Vários atuais aliados do Japão terão ficado desconfortáveis por a data dos festejos ter sido marcada para o dia seguinte aos 70 anos da rendição formal japonesa.

Da esquerda para a direita: o Presidente do Kazaquistão, Nursultan Nazarbayev, a Presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin e o Presidente chinês Xi Jinping, na parada militar que festejou em Pequim os 70 anos do fim da Segunda Grande Guerra Foto: Reuters

Aos festejos desta quinta-feira compareceram somente 30 líderes internacionais. Os Estados Unidos enviaram o seu embaixador na China. O presidente russo, Vladimir Putin, foi o mais alto dignatário estrangeiro presente e foi ovacionado pela multidão quando a sua imagem surgiu nos écrans.

Jinping acolheu ainda o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional, como "um velho amigo do povo chinês".
Da infantaria para a tropa especializada
No seu discurso antes da parada, Xi Jinping não revelou de que forma serão efetuados os cortes de efetivos. A redução da recruta ou a dispensa natural de efetivos poderá ser um caminho, que poderá ter efeitos numa economia em desaceleração.

Por outro lado os salários dos militares foram aumentados nos últimos anos e Pequim pode ter melhores destinos para este investimento.

Tradicionalmente, a grande força do Exército chinês assenta em milhões de soldados de infantaria recrutados nos campos, que prestam serviço durante alguns anos e regressam depois à vida civil.

No passado surgiram vários contenciosos e protestos destes antigos soldados, devido às fracas perspetivas laborais e falta de apoios sociais.

Ao New York Times, Bonnie S. Glaser, analista sénior do Centro de Estudos estratégicos e Internacionais de Washington, afirmou que a redução de tropas se inclui num esforço do presidente para tornar o Exército mais eficiente e profissional.

"Militarmente os chineses evoluíram na última década mais do que quaisquer outros", afirma. "Mas ninguém reconhece as deficiências do Exército de Libertação do Povo mais do que a China".

Os desafios são muitos, incluindo a atualização do armamento e o treino de pessoal especializado. "Ninguém sabe como é que os militares chineses se vão aproximar daquilo que têm os Estados Unidos", refere Glase. "Mas em setores importantes estão certamente a aproximar-se."

Um Wing Loong, avião não tripulado de fabrico chinês, durante a parada militar em Pequim dia 3 de setembro de 2015. A China vai reduzir em 300.000 os seus efetivos militares e apostar na modernização dos equipamentos e em tropas especializadas Foto: Reuters
Um líder apoiado nos militares
A China terá cerca de 2,3 milhões de efetivos militares, de acordo com estimativas recentes, já que Pequim não revela detalhes estatísticos regulares sobre as suas Forças Armadas.

Calcula-se que o grosso das tropas, cerca de 1,6 milhões de efetivos, está na Infantaria. Cerca de 240.000 integrem a Marinha e 400.000 a Força Aérea.

Jinping subiu no escalões do Partido Comunista Chinês a partir de um lugar de assessoria do ministro da Defesa durante vários anos iniciados em 1997 logo após uma breve guerra desastrosa com o Vietname. Logo que assumiu a chefia do Partido e a presidência em 2012 investiu no seu domínio das Forças Armadas, afastando e substituindo antigos generais.

O anúncio de redução de efetivos inscreve-se ainda, afirmam vários analistas estratégicos, no seu desejo de modernizar e de profissionalizar o Exército, transformando-o de um dissuasor de influência externo e um polícia interno, numa força capaz de enfrentar os grandes exércitos internacionais.
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