O anúncio foi feito pelo Presidente chinês, Xi Jinping, minutos antes de uma enorme parada militar das Forças de Libertação do Povo, destinada a comemorar o fim da Segunda Grande Guerra, há 70 anos.
Ao mesmo tempo que anunciou a redução, Jinping falou de paz.
"Anuncio que a China vai reduzir o pessoal militar em 300.000 efetivos", afirmou a partir de uma plataforma erguida sobre a Praça Tiananmen, depois de afirmar que os militares estão "lealmente comprometidos com os seu dever sagrado de defender a pátria mãe e o modo de vida pacífico do povo, e lealmente comprometidos com o dever sagrado de salvaguardar a paz mundial".
"Hoje, a paz e o desenvolvimento tornaram-se a grande tendência, mas o mundo está longe de ser um lugar tranquilo", referiu Jinping no seu discurso. "A guerra é a espada de Dâmocles ainda suspensa sobre a humanidade. Devemos aprender com as lições da história e dedicar-nos à paz", afirmou.
Demonstração de poder
O discurso de Jinping terá pretendido sossegar Governos vizinhos, alarmados com o crescente poderio militar chinês, que tem estado aparentemente a testar os músculos em territórios e águas internacionais, como ilhas disputadas com o Japão ou no Mar de Bering.
A maioria dos analistas prefere fazer notar a coincidência do anúncio da redução com a demonstração de todo o poderio de Pequim em efetivos e armamento, durante a parada de hoje.
Xi Jinping, considerado muito próximo dos militares, planeou a exibição desta quinta-feira ao pormenor.
Não só na grandiosidade e sincronização do desfile mas também pelo controlo da internet, que acompanhou todos os blogs e comentários nas redes sociais, retirando de circulação os mais críticos ou satíricos.
Internautas que utilizam circuitos para contornar o bloqueio chinês ao acesso a redes internacionais de internet esbarraram também em novas dificuldades.
O presidente quis que tudo corresse sem o menor problema e mandou as fábricas de Pequim suspenderem a produção vários dias antes do desfile, de forma a diminuir o tradicional smog que atualmente envolve a capital chinesa de forma permanente. A parada decorreu sob céus azuis límpidos.
Festejos da rendição do Japão
Jinping pretendeu ainda legitimar a posição internacional da China, convidando para os festejos o maior número possível de líderes mundiais.
Teve um sucesso limitado, talvez por Pequim insistir em atribuir ao Exército de Libertação do Povo o papel principal na derrota do poderio nipónico no fim da Segunda Grande Guerra, uma versão contestada por vários historiadores ocidentais.
O Japão é o maior rival da China na Ásia e é um poderoso aliado dos Estados Unidos da América.
Vários atuais aliados do Japão terão ficado desconfortáveis por a data dos festejos ter sido marcada para o dia seguinte aos 70 anos da rendição formal japonesa.
Aos festejos desta quinta-feira compareceram somente 30 líderes internacionais. Os Estados Unidos enviaram o seu embaixador na China. O presidente russo, Vladimir Putin, foi o mais alto dignatário estrangeiro presente e foi ovacionado pela multidão quando a sua imagem surgiu nos écrans.
Jinping acolheu ainda o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional, como "um velho amigo do povo chinês".
Da infantaria para a tropa especializada
No seu discurso antes da parada, Xi Jinping não revelou de que forma serão efetuados os cortes de efetivos. A redução da recruta ou a dispensa natural de efetivos poderá ser um caminho, que poderá ter efeitos numa economia em desaceleração.
Por outro lado os salários dos militares foram aumentados nos últimos anos e Pequim pode ter melhores destinos para este investimento.
Tradicionalmente, a grande força do Exército chinês assenta em milhões de soldados de infantaria recrutados nos campos, que prestam serviço durante alguns anos e regressam depois à vida civil.
No passado surgiram vários contenciosos e protestos destes antigos soldados, devido às fracas perspetivas laborais e falta de apoios sociais.
Ao New York Times, Bonnie S. Glaser, analista sénior do Centro de Estudos estratégicos e Internacionais de Washington, afirmou que a redução de tropas se inclui num esforço do presidente para tornar o Exército mais eficiente e profissional.
"Militarmente os chineses evoluíram na última década mais do que quaisquer outros", afirma. "Mas ninguém reconhece as deficiências do Exército de Libertação do Povo mais do que a China".
Os desafios são muitos, incluindo a atualização do armamento e o treino de pessoal especializado. "Ninguém sabe como é que os militares chineses se vão aproximar daquilo que têm os Estados Unidos", refere Glase. "Mas em setores importantes estão certamente a aproximar-se."
Um líder apoiado nos militares
A China terá cerca de 2,3 milhões de efetivos militares, de acordo com estimativas recentes, já que Pequim não revela detalhes estatísticos regulares sobre as suas Forças Armadas.
Calcula-se que o grosso das tropas, cerca de 1,6 milhões de efetivos, está na Infantaria. Cerca de 240.000 integrem a Marinha e 400.000 a Força Aérea.
Jinping subiu no escalões do Partido Comunista Chinês a partir de um lugar de assessoria do ministro da Defesa durante vários anos iniciados em 1997 logo após uma breve guerra desastrosa com o Vietname. Logo que assumiu a chefia do Partido e a presidência em 2012 investiu no seu domínio das Forças Armadas, afastando e substituindo antigos generais.
O anúncio de redução de efetivos inscreve-se ainda, afirmam vários analistas estratégicos, no seu desejo de modernizar e de profissionalizar o Exército, transformando-o de um dissuasor de influência externo e um polícia interno, numa força capaz de enfrentar os grandes exércitos internacionais.