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Colômbia e guerrilha das FARC assinam acordo de paz

por Lusa
O acordo foi conseguido ao fim de quase quatro anos de diálogos entre o Governo e as FARC em Havana EPA

O Governo da Colômbia e a guerrilha das FARC assinaram hoje um acordo histórico para pôr fim a mais de meio século de um conflito armado que fez centenas de milhares de mortos e desaparecidos.

O Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e Rodrigo Londoño, chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC, marxistas), mais conhecido pelo nome de guerra "Timoleon Jimenez" ou "Timochenko", assinaram este acordo de 297 páginas numa cerimónial solene em Cartagena das Índias (norte).

O acordo foi conseguido ao fim de quase quatro anos de diálogos entre o Governo e as FARC em Havana e foi assinado perante mais de 2.500 convidados, incluindo 15 presidentes.

Colombianos festejam

Centenas de colombianos reuniram-se nesta segunda-feira na Plaza de Bolívar, em Bogotá, para comemorar e acompanhar por ecrãs a assinatura do acordo de paz entre o Governo e a guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Após mais de 30 anos de conflito, os colombianos celebraram o acordo vestidos de branco, com as caras pintadas de amarelo, azul e vermelho (cores da bandeira do país), acessórios típicos, como o "sombrero volteado" (chapéu colombiano), e cartazes e bandeiras de partidos políticos e em defesa do "Sí" ("Sim"), referindo-se ao voto no plebiscito que ocorrerá no próximo domingo, no qual a população deverá ratificar ou não o acordo.

"Quero que os meus filhos vivam num país em paz", disse à agência Lusa a dona de casa Paola Bogotá, 23 anos, com o Thomás, de 1 ano, no colo. "Hoje é um dia histórico para nós", acrescentou.

Tanto crianças como jovens estudantes, adultos e idosos estiveram na Plaza de Bolívar, no coração da cidade, a apoiar o acordo.
Homenagem às vítimas

A marcha para o local começou ao início da tarde em Bogotá (cerca de 18:00 em Lisboa), e a concentração contou com bandas musicais, grupos artísticos e movimentos que defendem a assinatura do documento, que ocorreu hoje na cidade de Cartagena de Las Índias.

Também foram feitas homenagens a vítimas do conflito, com um minuto de silêncio, flores e cartazes com nomes e fotografias de mortos e desaparecidos nos últimos 30 anos.

O ex-guerrilheiro Germán Alonso Moreno Ortuz, 60 anos, desmobilizado do grupo M-19 há 26 anos, defendeu o acordo. "Desde quando criamos a coordenação guerrilheira Simón Bolívar, que uniu as guerrilhas das FARC, M-19 e EPL, em 1981, defendemos o abandono das armas. Hoje, os irmãos das FARC dão um grande passo para a paz", disse.

Ortuz acrescentou esperar que a guerrilha do ELN, ainda ativa, recorra a um processo de paz nos próximos meses.

O ex-guerrilheiro estava em frente ao Palácio de Justiça, tomado, em novembro de 1985, pela guerrilha do M-19, numa operação que terminou com um saldo de quase cem mortos. Na praça também se localizam a sede do Congresso colombiano e a catedral de Bogotá.

A estudante Angie Duarte, 20 anos, enrolada numa bandeira colombiana e ao lado da estátua de Simón Bolívar, herói das independências na América Latina, afirmou ter esperança no acordo.

"Este é o começo para a constituição de uma sociedade mais regulamentada, mais igualitária e com mais oportunidades a todos", disse.

Quando o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder das FARC, Rodrigo Londoño, conhecido como Timotchenko, assinaram o acordo, a multidão aplaudiu e caíram lágrimas dos olhos da reformada Ana Maria Arango Restrepo, de Medellín.

"No último dia 18 eu fiz 60 anos e este é o momento mais importante que acompanhei em vida. Hoje, sim, somos um novo país", afirmou.

Segurando uma pomba da paz feita em papel nas mãos, acompanhava a multidão a gritar: "Sí, se pudo! Sí, se pudo!" ("Sim, conseguimos").

Mesmo quando os presentes pararam com o coro, Ana Maria continuou a sorrir e a gritar "Sí, se pudo!". E concluiu: "Já estou a festejar".

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