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Concentração em Lisboa pela liberdade dos ativistas angolanos presos

por RTP
O jornalista Rafael Marques, um dos críticos mais conhecidos do regime angolano Herculano Coroado, Reuters

A prisão de um grupo de jovens ativistas trouxe muitas críticas ao governo angolano. Para esta quarta-feira está marcada uma concentração pela liberdade dos ativistas, em Lisboa. O objetivo é ajudar restabelecer no país as liberdades garantidas pela constituição.

O governo de Angola tem sido alvo de críticas pela prisão de um grupo de 16 ativistas. Como forma de solidariedade, o Largo de S. Domingos, no Rossio, vai receber a Concentração pela Liberdade dos Ativistas Presos, pelas 18h00.

Na tarde do passado sábado, a polícia angolana invadiu uma casa em Luanda e levou 16 pessoas, com as cabeças tapadas. O grupo está detido desde o fim de semana.

De acordo com algumas testemunhas, referidas pela Al Jazeera, os jovens reuniram-se para um clube do livro semanal – as obras que estavam a ler eram “Da ditadura à democracia” de Gene Sharp e um “Livro de regras” para uma revolução não-violenta.

O Procurador-Geral de Angola, João Maria de Sousa, afirmou que os presentes na reunião “foram apanhados em flagrante enquanto cometiam crimes contra a segurança do Estado”.

A maior parte dos detidos são ativistas que integram o Movimento Revolucionário de Jovens. O objetivo deles é questionar o monopólio do poder no país, liderado por José Eduardo dos Santos há 36 anos.
Corrupção e pobreza
Durante a última década, Angola tem sido descrita como um exemplo brilhante – uma das economias de maior crescimento no mundo, cuja riqueza petrolífera tem ajudado Portugal, escreve a Al Jazeera.

No entanto, a corrupção tem convertido os recursos nacionais a favor do capital privado.

A maioria dos angolanos tenta sobreviver com menos de 2 dólares por dia (cerca de 1,80 euros). O acesso aos cuidados de saúde, à água, à educação e à habitação é limitado e a taxa de mortalidade infantil é muito elevada.

“O MPLA não foi capaz de cumprir as suas promessas”, disse o antropólogo da Stellenbosch University, na África do Sul, António Tomás. Este considera que “as pessoas não veem alternativas viáveis. Nós ainda estamos numa fase em que as pessoas dizem: ‘Nós não temos sítio para dormir, não temos nada para comer, mas estamos vivos”.

A Constituição angolana garante o direito à liberdade de expressão, associação e reunião. Porém, as autoridades têm ignorado estes direitos.

Desde 2011 que os protestos têm levado a perseguições. “As autoridades têm, na prática, ignorado os direitos garantidos na Constituição”, comentou Lisa Rimli, investigadora independente dos direitos humanos.
“Sem o dinheiro do petróleo, o sistema está a desmoronar-se”
O colapso dos preços mundiais do petróleo desde o ano passado tem prejudicado a economia de Angola. As exportações de petróleo são responsáveis por três quartos das receitas do país.

Em fevereiro, o Governo foi forçado a rever o seu orçamento e a empresa petrolífera estatal Sonangol temeu uma possível falência.

A crise levou a uma queda de 30 por cento no poder de compra este ano. A inflação continua a fazer subir os preços da alimentação e da gasolina. Angola exporta petróleo bruto, mas precisa de importar os produtos petrolíferos refinados.

“Sem o dinheiro do petróleo, o sistema do controlo do poder está a desmoronar-se”, disse Rafael Marques. Na opinião do jornalista de investigação, as detenções são “uma tática para desviar a crítica pública”.

A Amnistia Internacional é uma das organizações que pede a libertação imediata dos detidos. A esta junta-se um protesto em Luanda, agendado para quinta-feira.
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