Conselho de Segurança volta a reunir sobre a Síria

por Graça Andrade Ramos, RTP
A crise síria movimenta a opinião pública do mundo inteiro. Na foto, um homem segura um cartaz dizendo "Síria aguenta" durante uma manifestação a favor da Síria, em Caracas Reuters

A nova reunião dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a Síria terá sido pedida pela Rússia e coincide com uma audiência pedida pelo Congresso norte-americano sobre o mesmo tema. A intervenção militar esperada "para os próximos dias" está agora suspensa das conclusões do inquérito de uma equipa das Nações Unidas, ao local do ataque químico ocorrido em Damasco no dia 21, o qual só deverá terminar no próximo sábado.

A Rússia vai enviar nos próximos dias para o Mediterrâneo dois navios de guerra, anunciou a agência oficial russa de notícias, Interfax, citando fontes do Estado Maior russo.

A fonte citada referiu-se à deslocação dos vasos de guerra como reforço da força naval russa naquelas águas devido "à situação bem conhecida" ali.

Várias unidades de guerra terrestres e navais, dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha estarão a preparar naquela região uma intervenção militar contra alvos governamentais sírios.

Nas últimas horas, a hipótese de ataque militar tem estado a perder força em favor do diálogo, até porque as provas até agora coligidas pelos serviços de informação, quanto aos verdadeiros responsáveis pelo ataque com armas químicas, não são conclusivas. E em todos os países tem-se levantado um aceso debate sobre o envolvimento militar internacional na zona.
Pressão alemã
O ataque químico que está a ser investigado por inspetores da ONU terá causado mais de 300 mortos de acordo com os Médicos sem Fronteiras. Fontes rebeldes falam em mais de mil vítimas.

O governo sírio nega toda a responsabilidade e alega que os seus próprios soldados foram igualmente vítimas de gases venenosos nos dias seguintes, apelando a ONU a investigar igualmente estas ocorrências.

Ontem, quarta-feira, os mesmos três países tentaram numa reunião do Conselho de Segurança passar uma resolução a autorizar o uso de "toda a força necessária" em resposta ao ataque químico de dia 11. A reunião terminou de forma inconclusiva, com a oposição da Rússia, aliada de Damasco.

Esta tarde, a Chanceler alemã Angela Merkel falou ao telefone com o Presidente russo Vladimir Putin.

Ambos concluiram que a investigação da ONU sobre o sucedido dia 21 de agosto em Damasco tem de ser concluída o mais rapidamente possível, para que o Conselho de Segurança possa decidir sobre a melhor resposta a dar a "crime tão monstruoso," de acordo com um comunicado oficial.

A Chanceler, em plena campanha eleitoral para a sua reeleição, tem de responder perante o povo alemão, maioritariamente contra uma ação militar.
Congresso pede informações
Barack Obama falou também ao telefone com Merkel. A Casa Branca está a coligir argumentos legais para sustentar uma ação militar contra a Síria mas, mesmo admitindo avançar por questões de "defesa nacional", o Presidente americano quer ter o maior apoio internacional possível a um eventual ataque contra a Síria.

A Administração norte-americana está convencida da culpa do governo sírio mas o Presidente Barack Obama já admitiu que ainda não decidiu qual será a melhor resposta ao ataque.

O Congresso norte-americano pediu igualmente para ser informado sobre a situação na Síria e para esta noite (22h00 GMT) está marcada uma chamada em conferência ao mais alto nível.

O secretario de Estado John Kerry, o secretario da Defesa Chuck Hagel, a conselheira para a Segurança Nacional Susan Rice e o diretor dos Serviços de Informação, James Clapper, participarão todos da conferência com os congressistas.
Debate no Reino Unido

No Reino Unido, o primeiro ministro britânico David Cameron, defendeu esta tarde perante o Parlamento britânico a opção militar, mantendo que é necessário dar uma resposta firme ao uso de armas químicas. Admitiu contudo que as informações até agora coligidas sobre o ataque em Damasco não permitem afirmar a 100% que este foi ordenado pelo governo sírio.

Cameron apelou os deputados a decidirem pela ação punitiva de forma a não dar ao Presidente Bashar al-Assad a ideia de que pode usar armas químicas repetidamente. Acrescentou contudo que seria "impensável" a Grã-Bretanha lançar qualquer ataque contra a Síria se enfrentasse uma oposição forte no Conselho de Segurança.

O governo britânico publicou hoje uma análise legal interna segundo a qual é "altamente provável" que tenha sido o governo sírio a lançar o ataque com armas químicas e que existem alguns "indícios" a sugeri-lo. O mesmo parecer diz que o Reino Unido pode lançar legalmente ataques contra a Síria a coberto de "intervenção humanitária" mesmo sem aval da ONU.
França, Jordânia e Vaticano
O Presidente francês François Hollande que, tal como David Cameron, começou por defender a necessidade de uma rápida intervenção militar, afirmou esta quinta-feira que uma solução política deve permanecer o principal foco para a crise síria, apelando à comunidade internacional para apoiar a oposição.

"Só conseguiremos isto se a comunidade internacional puder deter temporariamente esta escalada na violência, do qual o ataque químico é apenas um exemplo" afirmou Hollande em Paris após uma reunião com Ahmed Jarba, líder da Coligação Nacional Síria que congrega a oposição.

O Papa Francisco e o Rei Abdullah da Jordânia concordaram igualmente que o diálogo entre sírios, apoiado pela comunidade internacional é a "única opção" para por fim ao conflito na Síria. O Rei Abdullah foi a Roma especificamente para se reunir com o Papa sobre a crise que ameaça o Médio Oriente. Francisco reuniu com o monarca e a Rainha Rania durante 20 minutos no Palácio apostólico no Vaticano.

A Cruz Vermelha apelou também à contenção, considerando que uma intervenção militar internacional iria agravar a difícil situação dos civis que atingiu já níveis sem precedentes de sofrimento.

"Em grandes zonas rurais de Damasco já há gente a morrer por falta de medicamentos e porque não há pessoal médico suficiente para lhes acudir" alertou esta quinta-feira a organização humanitária.
Síria cerra fileirasO governo sírio nega ter lançado o ataque com gases venenosos e acusa os rebeldes. Mostra-se ainda desafiador.

O Presidente sírio Bashar al-Assad já garantiu que o país se irá defender contra qualquer agressão. "as ameaças de agressão direta contra a Síria só farão aumentar o nosso compromisso com os princípios mais enraizados e a independência do nosso povo. A Síria irá defender-se face a qualquer agressão," terá afirmado Assad a políticos do Yemen, de acordo com a televisão estatal síria.

Um capitão sírio terá testemunhado ao jornal britânico The Guardian, a convicção de que a notícia do ataque internacional reforçou a recente adesão às forças governamentais por parte da população síria.

"É incrível o que está a suceder agora na Síria" disse o oficial, aparentemente um piloto de caças que, afirma o jornal, já noutras ocasiões deu informações fiáveis sobre o que se passa no terreno.

"Muitos homens sírios estão a dirigir-se aos postos de controlo do exército a pedir para ingressar nas fileiras e lutar pela Síria, embora muitos estivessem antes com a oposição" afirma o oficial, estimando que entre segunda e quarta-feira se inscreveram no exército sírio 4.000 homens.

O mesmo oficial garante que a moral do exército sírio é elevada e estão em curso preparativos para o eventual ataque, incluindo mudanças de localização de potenciais alvos militares.
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