Convenção Democrata começa com o pé esquerdo

por RTP
Scott Audette, Reuters

A Convenção do Partido Democrático arranca esta segunda-feira nos Estados Unidos. Mas já começou mal. Com Donald Trump a subir nas sondagens, Hillary Clinton, que será esta semana consagrada como a candidata democrata, foi agora apanhada noutro escândalo com emails, desta vez de dirigentes do partido, que apontam para uma tentativa de prejudicar a candidatura de Bernie Sanders durante as primárias. O caso já fez uma vítima: Debbie Wasserman Schultz, presidente do Partido Democrático, anunciou a demissão.

A convenção dos democratas vai decorrer esta semana em Filadélfia, confirmando Hillary Clinton como candidata dos democratas na corrida presidencial norte-americana.

Entretanto, o que se pensaria ser um evento de consagração a correr sobre carris, como acontecera com a convenção dos republicanos – apesar da superficialidade que foi a semana de investidura do (clã) Trump no Ohio –, já começou mal.

O site da Wikileaks libertou cerca de 20 mil emails de dirigentes do partido de Clinton, que induzem na leitura de uma corrente democrata que tudo fez para que Hillary ganhasse o mandato do partido para a Casa Branca, prejudicando intencionalmente o opositor Bernie Sanders.

O caso funcionou como uma bomba de fragmentação que explodiu em vários tempos e em várias direcções: por um lado, a campanha de Sanders assinalou a falta de neutralidade da estrutura do Partido Democrático durante as primárias, onde chegou a ameaçar a hegemonia de Hillary Clinto; por outro, os apoiantes de Clinton atiraram a autoria da libertação do emails para os lados da Rússia, com o suposto motivo de ajudar a campanha de Donald Trump.

Não é a primeira vez que os democratas falam dos russos. Entretanto já havia sido referido o prazer especial que teria o presidente Vladimir Putin na eleição de Trump. O filho do candidato republicano, Donald Trump Jr., reagiu com uma violência inusitada, apontando o dedo ao que diz ser um comportamento deplorável por parte da candidatura democrata: “Se tivessem sido os republicanos a fazer isto, os democratas estavam a pedir a cadeira eléctrica”.
Presidente em baixa, Bernie em alta
Para já, o assunto que ocupou as televisões nestas horas antes do arranque da convenção foi a saída de Debbie Wasserman Schultz. A presidente fez saber que sairá no final da convenção.

Muitos apoiantes de Bernie Sander aproveitaram o momento para pedir um último fôlego ao mais diferente de todos os candidatos, mas Bernie já empenhara o seu apoio e está definitivamente fora da corrida.

Mas afinal o que estava em causa? O Wikileaks de Julian Assange tornou públicos uns 20 mil emails de dirigentes do Partido Democrático. O que estava nesses emails? A intenção clara de impedir a nomeação de Bernie Sanders. Pior, com o conhecimento de Hillary.

Sanders já respondeu: “A liderança do partido deve permanecer sempre imparcial no processo de nomeação presidencial, algo que não aconteceu neste ano de 2016”. Mas já é tarde para ele.
O Kremlin
O chamado candidato “socialista” apontou a falta de neutralidade do partido, mas entretanto já o partido estava empenhado noutra cruzada que tomou forma nas redes sociais: culpar os republicanos, os russos, denegrir a Wikileaks, difamar Julian Assange, o necessário para voltar a salvar Hillary de nova maldição com emails.

Robby Mook, membro da máquina de campanha de Clinton, declarou na CNN que não acreditava que os russos não estivessem no caso: “Não penso que seja coincidência que estes emails tenham sido libertados nas vésperas da nossa convenção e penso que isso é preocupante”, afirmou, para acrescentar que as bases de dados dos democratas já tinham sido infiltradas por um hacker de nome “Guccifer 2.0” e que este teria ligações aos russos.

A intriga não é tão simples como parece. A narrativa dos democratas sublinha as declarações de Trump quando o candidato republicano ameaçou, relativamente à NATO, que não estava disposto a prestar assistência a membros da aliança atlântica que não contribuíssem o suficientemente para o seu orçamento. Uma observação logo vista pelos democratas como uma conjuntura que fortaleceria a posição da Rússia em determinadas regiões do Leste da Europa.

De qualquer forma, neste primeiro dia da convenção em Filadélfia, um dos primeiros a tomar o palco será precisamente Bernie Sanders. Também é esperada na abertura a primeira-dama Michele Obama.
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