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Costa Rica e Nicarágua em conflito por causa de dois mil cubanos

por Lusa

San José, 16 nov (Lusa) -- Um grupo de cerca de dois mil cubanos que está a tentar atravessar a América Central para alcançar os EUA provocou hoje um conflito diplomático entre a Costa Rica e a Nicarágua, agravando as já tensas relações bilaterais.

Os problemas agravaram-se durante o fim de semana quando a Nicarágua enviou os cubanos para trás, para a Costa Rica, que lhes tinha dado vistos provisórios para atravessarem o seu território.

A polícia nicaraguense afirmou que os cubanos entraram na Nicarágua "pela força" e provocaram estragos no posto fronteiriço.

Os militares montaram um sistema de vigilância na fronteira, para impedir mais entradas, e o governo de Manágua acusou o da Costa Rica de "desencadear uma crise humanitária com sérias consequências para a nossa região".

O governo de San José fez hoje uma reunião de emergência para reagir à decisão da Nicarágua.

Antes do início da reunião o ministro dos Negócios Estrangeiros, Manuel Gonzalez, acusou o Executivo de Manágua de usar os cubanos "politicamente".

A Costa Rica, adiantou, "tem cumprido as suas obrigações" em relação aos refugiados, mas a ação da Nicarágua "merece a reprovação da comunidade internacional".

Os cubanos receiam que o fim da relação de Guerra Fria entre Washington e Havana anunciado há cerca de um ano vá acabar com o já antigo direito a asilo nos EUA, pelo que muitos se estão a apressar a fazer a viagem para território norte-americano.

Mais do que a arriscada travessia do Estreito da Florida, onde a Guarda Costeira norte-americana os pode reenviar para Cuba, estão a optar, cada vez mais, por voar para países como Equador e depois fazer a viagem por terra, pela América Central e o México.

Esta crise entre a Costa Rica e a Nicarágua exacerbou relações conflituais, cujos últimos episódios têm resultado em disputas fronteiriças.

Há quatro anos, a Costa Rica acusou a Nicarágua de invadir a Ilha Portillos, uma língua de terra na sua costa caribenha.

Por seu lado, a Nicarágua disse que a Estrada que a Costa Rica está a construir do seu lado do San Juan, o rio que forma muito da fronteira comum, estava a provocar estragos ambientais.

Os dois casos foram levados perante o Tribunal Internacional de Justiça, em Haia.

Agora, as relações entre os vizinhos centro-americanos arriscam afundar as relações bilaterais para novos mínimos desde 1979, quando os rebeldes sandinistas derrubaram o governo nicaraguano, apoiado pelos EUA, e instalaram uma junta liderada por Daniel Ortega, que é o Presidente do país desde 2007.

A Costa Rica tem um Estado pró-EUA, bem como estabilidade política e económica, que atraiu cerca de 350 mil imigrantes da Nicarágua.

Muitos dos dois mil cubanos encravados na Costa Rica ficaram nesta situação depois de terem chegado do Panamá na semana passada, quando a Costa Rica deteve os operacionais da rede que os estava a traficar.

Os traficantes cobraram entre sete mil e quinze mil dólares (6,6 mil e 14 mil euros) por pessoa, prometendo contrabandeá-los para os EUA.

Abandonados, sem dinheiro nem a documentação necessária, cerca de mil cubanos acabaram concentrados no lado costa-riquenho da fronteira com o Panamá, tendo atravessado, mas sem os controlos de passaportes.

Depois de ameaçar inicialmente devolver os cubanos para o Canadá, a Costa Rica afrouxou, depois de o número de cubanos subir para 1.700 e deu-lhes, bem como a outras centenas de cubanos que já estavam no país, um visto de sete dias para continuarem a sua viagem para a Nicarágua.

A Costa Rica também fez um "apelo urgente" a outras nações da América Central para que deixassem os cubanos continuar a sua viagem para Norte, sem mais obstáculos.

Ao bloquear os migrantes, a Nicarágua, um aliado de Cuba, rejeitou este apelo.

Mas os cubanos reafirmaram a sua determinação de atingir o seu destino, seja como for.

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