Demitido o chefe da Polícia de Chicago por encobrir homicídio de jovem negro

por RTP
Garry McCarthy, o chefe da polícia de Chicago Jim Young, Reuters

Garry McCarthy foi demitido pelo presidente da Câmara, Rahm Emanuel. Mas também este vem sendo acusado de cumplicidade no encobrimento.

O caso teve origem no homicídio de um adolescente negro, já há um ano, com vários tiros de um agente da polícia. O jovem foi atingido por dois disparos quando ainda se encontrava em pé, mas os vários tiros que se seguiram foram-lhe desferidos à queima-roupa, quando já se encontrava no chão.

Ao todo, o jovem Laquan McDonald, de 17 anos, foi atingido por 16 tiros - tudo filmado por uma câmara de vídeo da polícia e por um vídeo de vigilância de uma loja de fast food. A polícia escondeu o vídeo até a sua existência ser denunciada por um jornalista. O vídeo da loja desapareceu de forma enigmática.
 
Apesar de se tratar de um conjunto de circunstâncias inequívocas, foi preciso mais de um ano para o homicida ser julgado e condenado.
A demora foi atribuída, em primeira linha, ao chefe da polícia, Garry McCarthy. O presidente da Câmara, Rahm Emanuel, acusou-o de ter "abalado e desgastado" a confiança dos cidadãos na sua polícia.

Mas a verdade é que Emanuel também fez o possível por silenciar os protestos que começaram a tornar-se ensurdecedores quando a existência dos vídeos foi descoberta. Gastou, desde logo, uma verba muito avultada para impedir a divulgação do vídeo da polícia. Além disso, apressou-se a fazer um acordo extra-judicial com a família da vítima, pagando-lhe cinco milhões de dólares.

O facto é que Emanuel apenas se decidiu a sacrificar o seu chefe de polícia quando as manifestações de protesto se tornaram imparáveis. Mas os manifestantes com o lema Black lives matter (Vidas negras têm importância) não se satisfazem com um bode expiatório e também reclamam a demissão de Emanuel.

Nas páginas do conspícuo New York Times, o professor Bernard Harcourt, da Universidade de Columbia acusou Emanuel de ter abafado o caso para melhorar as suas hipóteses de reeleição, na ida às urnas deste ano.
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